Capítulo 53

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A distância de duas irmãs.

Dias atuais.

De Cheorwon para Panmunjom, pegamos um trem que dura 1 hora e 14 minutos. Foi a hora mais tensa da minha vida. Ao longo do caminho, senti como se a alma das pessoas deixassem seus corpos, como fantasmas em desenhos animados. Dos rostos alegres, passei a ver tristes e tensas caretas, é como se alegria fosse aos poucos sendo derramada no caminho para cá, como as flores do dente-de-leão que saem voando com o vento.

É em Panmunjom que fica a DMZ, zona desmilitarizada, ou seja, a cidade é a fronteira entre as Coreias.

Ao descer do trem, não vi rostos tranquilos mas soldados de uniformes, não vi turistas com crianças mas adultos apressados, não vi muitos animais de estimação, e sim várias barracas azuis. Não vi a atmosfera coreana a qual estou acostumada, e sim uma nuvem cinza pairando no ar.

Entre aqui e Seoul, existe um mundo de diferença.

Me pergunto se eles invejam quem vive em Daegu, em Busan, Jeju... Será que eles tem noção que moram em um desenho cinza cuja única forma é o medo, enquanto outros vivem na alegria e alienação de um mundo colorido infantil?

Estou me perguntando sobre isso há uma hora.

Aqui não há muito o que ver, e como somos muitos, nem é aconselhado. O tema dessa vez, em vez de ser algo corriqueiro e que combina com a atmosfera da cidade, parece um sopro de esperança. Uma imagem fantasiosa para um mundo cinza.

Norte e Sul são tão próximos, mas ao mesmo tempo tão distantes. São como duas irmãs gêmeas que moram na mesma casa, mas que nunca se falam.

Aqui, sentada junto a minha mãe em uma mesa embaixo de uma árvore, vendo a fronteira com o país mais fechado do mundo, sinto-me triste e deprimida, é como se o lugar te forçasse a se sentir assim, é como se uma nuvem cinza habitasse sobre as cabeças de quem por aqui passa trazendo uma atmosfera cinza sem sentimentos.

Suspiro levantando a cabeça, bem ao ponto dos meus olhos repararem em um par de olhos castanhos incrivelmente brilhantes, me observado atenta e magneticamente do outro lado da rua. Dá para ver que eles estão tristes e eu realmente espero que seja sobre o clima do local e não sobre mim.

- Aquele moleque tá encarando a gente por quê? - desvio os olhos quase que com um esforço hercúleo para encontrar minha mãe com olhos espremidos e tom ríspido - Não gosto da cara dele - ao falar, ergue o canto direito de sua boca.

Ela está usando uma blusa branca, com os cabelos encaracolados soltos e algo laranja, que não é uma laranja, está na na ponta dos seus dedos esquerdos, parados em direção a boca.

- Moleque sem graça.

- Mãe - a adverto, mas ela sequer mexe um músculo.

- Ah Ella, não pode me processar por não gostar de alguém. Além disso, ele tá encarando a gente como um pobre cachorro matador, e não é assim que se chama alguém para conversar.

- Acho que ele está esperando para que eu o chame para conversar - murmuro.

- Hum? O que disse? - ela ergue as sobrancelhas e me olha de lado, desviando pela primeira vez do rosto dele.

Abro minha boca para responder, porém a Srª Song aparece do outro lado da rua e acena para nós. Nos levantamos e a seguimos.

Ao redor, os estudantes começam a se agrupar também.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora