Capítulo 06

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O parque dos corações partidos.

Há 1 semana atrás.

Em quase um ano neste país, é a minha primeira vez nesta parte de Yongsan-gu, no ano passado ouve um desastre aqui, e sendo honesta em bora o Halloween de Itaewon-dong seja famoso e as casas de show e baladas super fantásticas, isso pouco me atrai.

Estou no final das minhas férias, então meu pai decidiu me levar para um passeio no seu dia de folga enquanto a minha mãe participa de uma uma das tão sonhadas reuniões de vizinhos.

Viemos a tão famosa Itaewon, a qual eu pensava ser um tipo de bairro ou qualquer coisa mas que na verdade é areia comercial. Que triste.

- Se não quiser seu Tteokbokki, me de, o meu está quase no fim - ele toma a minha tigela.

- Isso é muito apimentado, mais até do que comida mexicana.

- Quer Kimbap então?.

- Quero.

Acho Kimbap mais gostoso, embora também seja apimentado.

As barraquinhas de rua daqui são muito bem limpas e os atendentes gentis; depois de ir para o Museu Nacional e ficar horas olhando algumas vitrines de lojas chiques em Gangnam-gu, meu pai me trouxe para cá, fez a gente sentar em uma barraca e enquanto ele bebe Suju com minha ex comida de rua, eu olho ao redor.

Aqui perto tem uma loja que ficou famosa depois de uma cena de dorama, um barzinho com um monte de pessoas bêbadas, uns caras fumando como se não soubessem o que é pulmão, uns adolecentes tentando entrar em uma balada com identidades falsas, e um fluxo enorme de sul-coreanos indo a alguns desses show de rap em clubes, chuto que deve ser uma apresentação do Jay Park.

- Aqui - o atendente me entrega meu novo pedido.

- Obrigada.

Quando cheguei aqui, vi que algumas coisas realmente existem como: 1) riquinhos insuportáveis, 2) o menos bêbado levar o qual já não tem mais solução nas costas e 3) casais, tipo em todos os lugares tem um casal.

Mas aqui nem todos são educados, nem sempre o butão do ônibus funciona e é praticamente impossível ver um idol, a não ser que a) você durma na frente da empresa ou b) você durma no aeroporto.

- Acabei.

- Só vai começer isso? - ele fala com tom decepcionado.

Eu sei que o meu pai sabe que olhar lojas com coisas que nunca vou ter dinheiro para comprar não me entretém, ou que ficar horas ouvindo uma velhinha falar sobre a dinastia dos chapéus sem me deixar tocar em nada me irrita, e que sentar do lado de fora neste frio me stressa, mas ele só quer um tempo comigo, com as horas de trabalho dele e as minhas de estudo, nos vemos bem pouco e acho que ele sente a minha falta.

- Qual é pai, como se o senhor já tivesse me justo comer um monte de Pesce Fritto al Cono.

- Não está tentando entrar no padrão está? É loucura.

- Não, não estou, só não estou com muita fome.

- Então eu quero te mostrar um outro lugar antes que o sol se ponha totalmente.

Ele paga, e a gente sai, vamos andando até o topo de uma colina de onde dá pra ver a cidade toda.

- Lindo né?

- Haram, mas sabe, eu nunca vi Seongsu... - olho para ele fingindo tristeza.

- É longe daqui, próximo fim de semana a gente vai.

- Promettere?

- Promettere - ele faz uma expressão alegre.

Acho que o meu pai precisa de compreensão neste último ano.

***

- Posso entrar lá?

- Tá meio escuro, tem certeza?

- Haram.

- Non darmi motivo di preoccuparmi - e então ele segue o seu caminho.

Me sento em um banco e respiro um pouco de ar frio, eu já enfrentei um ano aqui, mas se este for igual ao outro eu fujo nadando pelo Han; me levanto e entro.

O Haneul Park estaria vazio se não fosse por mim e um outro casal na minha frente. Como eu falei, a Coreia é cheia deles, sinto até uma pequena preção para achar alguém, mas a famosa " regra dos três dias " não me entra na cabeça.

Me sento em outro banco, o casal na minha frente faz o mesmo só que junto a uma moita aonde parece ter mais alguém, segundos depois percebo que eles estão em grupo, são cinco casais. Eca.

Quero dizer eu não odeio casais, mas o amor é maluco, todos temos a necessidade de amar alguém, de estar com alguém mas seria muito mais fácil se não houvesse essa necessidade de companhia e aprovação.

Pego o meu caderninho e minha caneta do meu bolso e começo a escrever:

" 27 de fevereiro de 2023, sentada em um banco em baixo de uma árvore no Haneul Park:

O vento gelado não faz minha pele tremer;
Os lobos escondidos não me assustam;
Voltar para um lugar que nunca me fez bem me assusta;
Ser testada ao extremo, e saber que sou apenas uma estatistica;
Uma pessoa invisível sem indentidade;
A verdade é que na maior parte da sua vida as pessoas vão te ignorar;
Te pisar;
E só resta aceitar "

Levanto a cabeça, um dos casais o que estava na minha frente está discutindo, ele está em pé tentando se afastar e ela está chorando agarrando a sua perna; este tipo de cena é comum por aqui, mas eu nunca tinha presenciado só visto videos no tik tok.

Ela levanta e o abraça mas ele não a abraça de volta, ele começa a andar e ela o segue. É isso que eu chamo de dependência emocional, ela não precisa tanto assim dele, o mundo dela não é ele, mas ela só vai saber quando se afastar.

- Saia - ele grita para ela que cai de joelhos no chão.

Ele sai do parque ela levanta e parece que vai o seguir, mas aí ela olha ao redor e me vê, ela olha no fundo dos meus olhos por um tempo como se dissese que eu iria morrer, mas só consigo ter pena dela; ela sai do parque seguindo-o.

Claro que se fosse uma garota qualquer eu não me importaria, afinal a Coreia pode ser pequena mas não o suficiente para isso, mas ela provavelmente me conhece, era Mi-Suk ( 미숙 ) a namorada do Boniim e aquele era provavelmente ele eu só não reconheci pelo boné e o casaco cinza enorme.

Os outros não fazem nada, não se mexem, não saem, nem falam, devem estar acostumados.

Mas Mi-Suk não é do tipo que admite falhas no seu comportamento pelo pouco que eu vi ela é extremamente perfeccionista, e tudo bem os outros terem visto já que são amigos, mas eu não.

- Sento che mi farò male.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora