Capítulo 32

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O dia em que a primavera foi embora.

Dias atuais.

Eu não estou bem, meus olhos estão inchados, minha cabeça enevoada, não consigo comer e minha respiração tornou-se rasa. Não durmo, não falo, não tenho vontade de fazer nada.

Depois que voltei ao mundo real, as pessoas me tomaram como algum tipo de animal a ser evitado, eu os ouço coxichar.

" Olha, aquela não é a garota que viu a Bo-Kyung morrer? "

" Além do professor ainda tem isso? "

" Como ela aguenta? "

Todos na escola me olham com pena, agora eu sou " a garota que viu a amiga pular do prédio ", " a garota que desmaiou em uma tragédia ", " a pobre menina que foi a primeira a ver o corpo ".

E além disso, tem a minha casa. Meus pais sempre brigaram, faz parte da vida a dois, mas ultimamente eles têm se superado; minha mãe culpa meu pai por tudo isso, diz que inicialmente a ideia de vir para cá era loucura e burrice e ele retruca dizendo que pelo menos ele trabalha e não nos deixa morrer de fome, quando não é isso, há um silêncio mortal na casa, mas nunca bom humor como antes.

Para parar com tudo isso, tomo seis pílulas de uma vez e espero o mundo sumir. Acho que os efeitos que o médico falou, estão iniciando mas eu não consigo parar.

Além disso, há repórteres e youtubers lotam nossa entrada, não me espanta que eles tenham me achado, minha mãe joga baldes d'água pela janela, minhas vizinhas jogam vassouras, e meus vizinhos os ameaçam com processos, os outros moradores e comerciantes os espantam, meu pai virou meu guarda-costas já que a empresa o deu uns dias de férias até " sua filha se recuperar do choque ". Mas eles sempre acham um jeito de me encurralar e fazerem perguntas uma em cima da outra, às vezes me irrito e quebro suas câmeras, outras vezes só me abaixo e cubro meus ouvidos esperando eles irem embora oh alguém me buscar.

Todos parecem ter noção do quanto isso é terrível, menos eu. Estou vivendo a base de remédios, usando o triplo ou mais do que deveria, não sei quando é dia, noite, mal reconheço as pessoas ao meu redor, só ouço vozes abafadas e o mundo gira ao meu redor, as pessoas precisam me sacudir, gritar, às vezes apago, às vezes fico invisível.

Eu não tenho noção de nada nem percepção, não reconheço ninguém a única coisa que eu ainda ouço é a voz de Bo-Kyung.

O concurso é na semana que vêm e eu não fiz nada ainda. Passo horas olhando da foto para a tela e vice-versa, há a única coisa que consegui foi o esboço, e para completar, as provas também estão chegando, a diretora não pode mais adiar.

Essa é a única coisa boa em meio a tudo isso, eu não sou a única pessoa surtando, a única em meio ao caos, mas se me analisarem de perto, vão perceber que estou a beira de uma explosão, só esperando alguém empurrar a alavanca.

***

É hora do almoço, estou a uns dez minutos olhando o meu prato, sopa de tomate, sem sentir vontade alguma de provar nada. Ao meu lado, Ji-Hye come um prato com: arroz, vegetais e tofu, em pequenas quantidades enquanto seus olhos saltam de um livro para uma atividade, de um trabalho para uma anotação. Sei que não estou em condições de diagnosticar ninguém, mas ela não está bem, tem olheiras e bolsas nos olhos, o cabelo preso para disfarçar o óleo e anda se estressado facilmente, inclusive com o vento.

Além dela, Kyung-Hun também não parece bem e na verdade, estou com medo que ela desapareça já que não vem comendo nada além de gelo recentemente para " ficar bem nas fotos da inauguração da loja da tia " dela.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora