Capítulo 37

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A cidade do outono.

mais de dois anos atrás.

Eu não me lembro de quando começei a gostar de escrever poemas, não me lembro do porquê também, mas me lembro da minha professora da quarta série admirada enquanto lia um que fiz sobre as formigas, depois disso, ela me inscreveu em uma competição que eu ganhei e então, de alguma forma, hoje eu não consigo viver sem eles. Acho que os uso como fonte de desabafo, um local seguro, algo que me ouve, para mim nesse papel, eu posso colocar tudo o que não consigo colocar para fora, e então me sinto mais leve. Bem mais.

" Sexta-feira, dezenove de novembro de 2021, sentada em um monte de areia perto à um lago próximo às montanhas em Dolomites;

É outono, e o mundo mergulhou em marrom e amarelo;
O vento leva não só as folhas da natureza mas as do meu caderno também;
É outono, e todos os meus amigos se divertem enquanto eu estudo uma língua nova;
É outono, e meu coração aperta, porquê outono é a minha estação favorita;
É o outono, mas só o verei de novo daqui a duas primaveras;
É outono, e o frio que sai da minha boca, alivia meu coração;
Porque sinto que ultimamente fiquei menor do que um grão de feijão;
É outono, e reconheço que nada sei;
Tenho medo sem querer, me convenço mas sei que temerei;
É outono, e eu quero um xale marrom maior;
É outono, e eu quero me sentir segura;
Porquê no outono o mundo fica frio e quente, como uma pessoa indecisa;
E é no outono que irei embora do meu país;
Sem casinhas de barro, sem ruelas estreitas, sem calçadas de pedras;
É outono, e eu estou deixando meu amor, para o que quer que for;
E no outono, me despeço com um aperto no coração, sozinha;
Pois já não tenho uma amizade para chamar de minha;
Talvez elas me tenham como surda;
Muda;
Burra;
Mas eu estou apenas levando, fechando os meus olhos, ignorando;
Porque é outono e nada pode estragar o que eu amo;
É outono, e é por isso que o amo. "

Levanto minha cabeça, jogando o cabelo para o lado reparando no meu nariz vermelho e olho ao redor, as meninas brincam perto de umas poças d'água, sujando os longos vestidos amarelo claro e marrom os quais elas têm distribuídos igualmente. Acho que devem ter combinado de trazerem roupas dessas cores, mas não me avisaram, então eu vim com as mesmas roupas quentes e casacos de sempre.

Ou, talvez usar essas cores seja um código do qual eu não saiba sobre. Deve haver alguma explicação para o que aconteceu.

E aqui vai outra coisa que também não sei como aconteceu e nem como explicar: meu cabelo, loiro claro tradicional como uma clara de ovo, está ficando branco. Não só algumas mechinhas aqui e lá, mas todo, começando pela raiz e alguns fios já estão até as pontas, daqui a alguns meses ele vai estar todo branco, acho inclusive que quando desembarcar em Seoul já estará todo ou praticamente dessa cor.

E não gosto disso. Talvez use uma peruca.

- Tá preocupada em parecer uma vovó? - Emijya senta ao meu lado com duas xícaras do chocolate quente, uma em cada, mão usando uma coberta igual a minha, de lã grossa com quadrinhos vermelhos e pretos, e o mesmo xale com tirinhas que compramos para fazer par no ano passado.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora