Capítulo 15

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Cristais flutuantes.

Há mais de 2 anos atrás.

Mondello continua e continuará incrível não importa quanto tempo passe, a água continuará limpa e cristalina como se fossem cristais, a areia continuará quente e aconchegante, os turistas continuarão encantados, as casinhas perto da costa ainda serão lindas e darão uma sensação alegre.

Tudo continuará igual, mesmo depois que eu partir e isso dói, porque agora sentada na areia enquanto Emijya surfa eu me do conta: Palermo continuará sendo Palermo, linda e histórica Palermo com suas palmeiras, as óperas, os passeios de carruagem... Tudo vai continuar igual, apenas eu vou mudar. E essa sensação de que o mundo funciona muito bem sem você é tão dolorosa.

- Aí Ella, vem - Emijya sai do mar e vem em minha direção, os cabelos bagunçados graças as suas quedas d' água formando caracóis incertos.

Ela finca a prancha na areia e senta ao meu lado, sua roupa preta de mergulho encharcada marcando seu corpo.

- Tá pensando em quê? - ela se volta para mim, seus olhos meio fundos devido ao sono.

- Dormir - rimos ao mesmo tempo.

Hoje acordamos às 05:30a.m. e saímos de carro a paisagem ainda meio escurecida com a prima de Emijya, Chiara dirigindo enquanto colocamos a cabeça fora da janela e gritavamos a letra da música no rádio a todo pulmão.

- " Sai penso che;
Non sia stato inutile;
Stare insieme a te;
OK, te ne vai;
Decisione discutibile;
Ma sì, lo so, lo sai;
Almeno resta qui per questa sera;
Ma no che non ci provo, stai sicura;
Può darsi già mi senta troppo solo;
Perché conosco quel sorriso;
Di chi ha già deciso;
Quel sorriso già una volta;
Mi ha aperto il paradiso..."

- Para de ser estraga prazeres merluzzo - " merluzzo " foi o apelido que ela me deu quando eu cheguei, significa bacalhau, ela é uma das poucas pessoas que sabem que sou lisboeta.

- Só tô falando - paro um pouco, uma hora ela vai precisar saber o que vai acontecer.

O dia já está quase no fim, os turistas começam a ir em bora para se arrumarem para o jantar. Eu estive evitando isso o dia inteiro. Evitei quando chegamos e fomos nadar; evitei na hora do almoço quando coloquei pedaços gigantes de Risotto na boca, capazes de fazer qualquer um sufocar; evitei enquanto andávamos entre as palmeiras e flagramos Chiara com uma garota provavelmente inglesa cheia de tatuagens e cabelo roxo raspado na lateral. Mas não posso mais evitar.

- Sabe, tem algo que eu preciso falar - olho para ela que me encara de volta com uma expressão " não vou perguntar o que é então prossiga ".

- Lembra que o meu pai se candidatou a um emprego fora daqui? Ele conseguiu, soube essa semana.

- Isso é ótimo, o tio merece de verdade - ela sorri - e então, aonde é?

Eu não falei a ela que era em outro país só disse que meu pai se sentiu inspirado e achou uma boa ideia fazer uma loucura.

- Roma? Nápoles? Milão? Florença? - olho para frente.

- Seoul, a capital da Coreia do Sul, ele vai pra Samsung.

Silêncio.

- Bem, qualquer coisa é melhor do que turistas mal-educados que só sabem reclamar do " por que meu celular quebrou bem nas minhas férias ".

Eu não estou certa disso, estou muito feliz pelo meu pai mas e eu? Ele não pensou como seria difícil para mim mudar de país de novo? Ele não pensou que eu talvez perca meus amigos? Em como será difícil minha adaptação?

- Ei, você não vai me perder - ela me dá um leve empurrão e passa o braço pelo meu pescoço, é como se ela lesse meus pensamentos.

- Vamos continuar sendo amigas, lembra? La margarita e il merluzzo - ela entende o dedo mindinho e eu o aperto.

- Este vai ser um ótimo último ano, prometo.

Encostamos as nossas cabeças uma a outra, talvez não esteja tudo bem, talvez eu tenha dificuldades com a mudança, mas pelo menos eu tenho a minha melhor amiga.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora