Capítulo 19

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Ah, os sonhos...

Dias atuais.


– E você? - o examinador, senhor Han, é um pouco mais alto do que eu, parece estar no final dos vinte, usa paletó preto, tem uma prancheta na mão e óculos meia lua, além disso seu rosto mostra algo na linha entre tédio e decepção.

Engulo nervosamente.

– Sou Ella, estudante do 3 ano da Dwongsu-Po School de Gangnam-gu em Seoul. Minha obra - abro meus braços e indico meu quadro - é uma representação da floresta Gwanaksan em Gwanak-gu - o vento sopra fortemente contra meu cabelo enquanto falo, sinto que minha fala foi cortada várias vezes.

Junto às mãos em frente ao corpo, as nuvens que antes estavam mais calmas, agora estão tornando-se nebulosas, é como se quisessem refletir o humor do examinador.

Minha obra é a última, todas estão arrumadas seguindo a linha da " calçada " de pedras, vários alunos com uniformes diferentes, um ao lado do outro, alguns cochicham com as mãos nas bocas, outros cruzam os braços ou põe as mãos dentro dos bolsos. As pinturas são lindas, há parques, lagoas, casas… Do outro lado vejo a pintura da Floresta de Seoul feita por alguém de Daegu como Kyung-Hun falou, ela só não mencionou que o aluno é aluna, muito talentosa por sinal, o óleo sobre a tela parece brilhar, em comparação a dela, minha obra está um lixo, parece um desenho borrado feito às pressas.

Seria pior se fosse a torre 83.

Mas também não daria, porque um indivíduo de Inch'en pensou o mesmo. Na verdade ele é um dos únicos meninos aqui, a maioria são garotas e entre os meninos eu não o encontro.

Será que estou tão estressada ao ponto de ter imaginado aquele garoto? Mas Harper não está em lugar algum… Mas sei que ele não é fruto da minha imaginação, é impossível ter imaginado um cabelo daqueles, lábios tão lindos, o sorriso encantador… Em toda a minha vida nunca tinha conhecido alguém daquele jeito, com aquela energia que te atrai… E os cabelos? Meu Deus, parecia o sol de tão iluminado. Gostaria que o meu loiro fosse assim, ultimamente meu cabelo tem se apagado, em vez do louro tradicional, ele agora é meio platinado, um fantasma do que já foi.

– Então, por que escolheu essa floresta? – ergo a cabeça, o examinador me encara com uma sobrancelha levantada e bate na prancheta com uma caneta. Acho que ele já me fez essa pergunta.

– Eu ah... - olho em direção a Srª Song que agita a mão me encorajando com os dentes trincados.

Todos os outros disseram coisas lindas: " meus pais se conheceram ali ", " dei meus primeiros passos ", " me deu forças quando eu apenas queria chorar ". Mas eu nunca estive lá antes daquele dia.

O examinador me olha com impaciência, diante do meu silêncio, seus lábios apertados e testa franzida. Engulo seco.

Respiro fundo.

– Não sou coreana – digo calmamente tentando não tremer – sou da Itália, poucos lugares me lembram minha casa ou a Europa em geral – olho de soslaio para uma pintura da pequena França – lá eu gostava de ficar na floresta, que era simples e ao mesmo tempo arrebatadora. A Gwanaksan Florest me lembra de lá.

Ele apenas balançou a cabeça, anotou algo e foi em direção às portas.

– Resultado amanhã, como já sabem – e saio.

Solto o ar que não sabia estar prendendo. Minha mãe e meus professores vêm ao meu encontro enquanto arfo com a mão no peito me sentando.

— Tudo bem? – O Sr Hong sorri. Balanço a cabeça.

Até A Próxima PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora