Lorena Salles
E agora o que eu faço?
Já me aconteceu essa mesma situação inúmeras vezes, principalmente em banheiros de festas, sempre havia no mínimo uma chorando por ter visto o namorado a trair, e eu sempre fiz o mesmo todas as vezes, agi como se nada estivesse acontecendo, fazia o que era preciso e ia embora sem olhar para atrás e nunca me incomodei com isso, nem na hora ou depois, mas agora é diferente, não sei o porquê. Estou nervosa e sem saber o que fazer, penso em agir como de costume, afinal por que seria diferente com ela? Só porquê conseguiu acalmar a Manu e posso acabar a contratando como babá? Isso não é motivo. Mas ela não aceitou ainda, se não a ajudar agora pode ser que leve esse momento em consideração na hora de sua escolha. Que se dane! Será muito bem paga para isso, não posso e nem vou me compadecer do seu choro, se fizer isso agora vai tentar usar de chantagem emocional sempre que acontecer alguma coisinha. Fora que essa não é a realidade entre mim e meus funcionários, os problemas deles não me interessam assim como os meus a eles, não quero saber nem me meter em nada, só quero que façam o seu trabalho.
Passei por ela sem olhar em seu rosto, ela estava encolhida no chão com a cabeça nos joelhos os abraçando e escondendo seu choro, fui até a pia e liguei a torneira para lavar as mãos, senti seus olhos sobre mim mas não me atrevi a olhar, por alguns instantes o choro ficou mais baixo, mas não parava. Ensaboei minhas mãos, enxaguei e sequei, respirei fundo quando algo dentro de mim gritava para ficar e ajudá-la, mas não dei ouvidos e simplesmente sai, assim que passei pela porta meu estômago revirou, mas que porcaria é essa? Não quis nem saber, apenas continuei andando até chegar a minha mesa, o garçom estava parado ao lado e falava com dona Lúcia.
- Para viagem senhora? - Escutei ele perguntar a ela quando me aproximei
- Sim, por favor. Poderia trazer a conta também?
- Sim senho...
- Não! - O interrompi. - Não traga a conta ainda, pode preparar o que foi pedido para a viagem mas eu gostaria de um suco de maracujá bem forte com um croissant recheado.
- Sim senhora, qual seria o recheio?
- Nutella, por favor.
- Sim senhora, algo mais? - Olhei para Lúcia para ver se queria algo, ela não quis nada, apenas mais um copo de água, o rapaz anotou e se retirou da mesa indo para a cozinha.
- Uau. - Lúcia falou chamando minha atenção. - Não sei o que me surpreende mais, não estar numa daquelas dietas malucas e ainda comer tudo isso, ou ter dito "por favor". - Parece cômico mas ela estava realmente surpresa, acho que em todos esses anos ela nunca ouviu dizer isso a ninguém, nem mesmo ela que está comigo a tantos anos, aliás só por isso ela tem toda essa intimidade e segurança, se fosse qualquer outro funcionário jamais nem pensaria em dizer algo assim, e se fizesse já estaria na rua, mas não consigo fazer isso com a mulher que está comigo desde a minha infância. - E ainda tem a Manu. - Falou depois de um tempo olhando para ela que dormia no carrinho. - Pela primeira vez foi com alguém que não fosse a senhora, hoje deve ser dia de santo Antônio.
- Por que? - Perguntei confusa, não faço ideia do que ela queira dizer com isso.
- É o santo das causas impossíveis. - Disse se levantando. - Vou até comprar um bilhete de loteria hoje... Vou ao banheiro, já volto. - Não! Que droga! Ela vai ver a mulher lá chorando, e se ela disser que eu não fiz nada? Vou ouvir muito depois, apesar de ser minha funcionária ela sempre me repreende, eu nunca mudo, mas ela sempre tenta.
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Uma babá para Manoella
RomanceGiovanna acabou de perder sua mãe para uma terrível doença, sem ter de onde tirar seu sustento e morando com a megera de sua tia e prima, que fizeram e fazem de tudo para tornar os dias dela tenebrosos, ela se vê encurralada e sem outra alternativa...