Capítulo 28

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Lorena Salles




Fiquei mais alguns minutos no banheiro observando a Giovanna mas também criando coragem para o sermão que me aguarda, respiro fundo e saio dali exalando naturalidade, ou pelo menos é o que eu espero, vou até o quarto da Lúcia onde ela me espera sentada na cama, entro e encosto a porta, ela bate com a mão na cama indicando que eu me sente ao seu lado.

- Ô minha linda. - Fala pegando em minha mão. - Desde a primeira vez que a vimos notei seu interesse pela Giovanna, só não imaginei que você ficaria assim, parece que voltou a ser criança, escutando atrás das portas, observando escondida... Você é uma mulher ou uma ratazana? - Fala pondo as mãos nos quadris me fazendo rir. - Não te criei para ficar assim se escondendo pelos cantos, te criei para ser uma mulher de atitude, por que não vai lá e fala com ela?

- Não acho que seja uma boa ideia, você viu o que eu fiz a ela, sei que ela não me desculpou nem esqueceu o que eu fiz e nem vou pedir que faça isso, ela tem todo direito de nem querer olhar na minha cara. Já fico satisfeita dela voltar a ser babá da Manu, tenho certeza que se eu tentasse acabaria com isso também e eu não posso perder a única pessoa que conseguiu ficar com a Manoella.

- Entendo filha, realmente o que você fez não é algo que se esquece ou perdoa fácil assim, mas ela tem um bom coração, é doce, gentil, se você se retratar pode ser que ela te perdoe algum dia. Vejo nos olhos dela também que ela se interessa por você, mas esse seu jeito, esse muro que você criou para se proteger da dor e das pessoas, é o mesmo muro que está te protegendo de coisas boas como essa menina. Pense bem, ela é uma mulher linda, de bom coração, inteligente, educada, gosta muito da sua filha assim como a Manoella a adora, daria uma ótima esposa.

- QUE ESPOSA O QUE LÚCIA? - Grito e me levanto indignada. - A senhora só pode estar delirando.

- Não estou não, não vou durar para sempre sabia? Assim como a sua juventude, um dia eu irei para não voltar mais, você vai precisar de alguém ao seu lado e eu não consigo pensar em ninguém melhor do que essa moça, sinto algo diferente entre vocês duas, algo além da nossa limitada compreensão, até mesmo dela com a Manoella e não finja que não percebeu nada.

- Confesso, as vezes parece que elas estão ligadas de algum jeito... Não sei se gosto disso.



[...]



Conversamos por quase duas horas, a Lúcia é como uma mãe para mim, me escuta, me ajuda, me dá conselhos, me dá sermões e puxões de orelha... é um dos anjos que a vida me deu, não sei o que teria sido de mim sem ela. Como já disse antes, quando eu tinha a idade da Manoella eu também não ia com ninguém a não ser a minha mãe e uma vizinha dela na época, acontece que essa vizinha é a Lúcia. Ela e minha mãe era melhores amigas, viviam juntas para todo canto e ela ia muito em nossa casa, quando atingi uma certa idade me lembro de uma discussão feia entre as duas, não me lembro o que falavam, só lembro dos gritos, do choro, desde então tudo mudou. Ela parou de frequentar a nossa casa e eu sentia muita a falta dela, chorava e chamava por ela assim como a Manoella fez com a Giovanna, cheguei a ficar doente de saudades, certo tempo depois a Lúcia voltou mas já não era como antes, ela e minha mãe não se falavam muito apenas o necessário, o brilho que ela carregava se apagou, ela estava mais magra e triste. Nessa época meus pais me disseram que ela seria minha babá, e assim foi durante muitos anos até que eu atingisse a maior idade, ela se tornou um tipo de assistente pessoal e desde que fui morar sozinha se tornou a minha governanta, ela nunca saiu do meu lado.

Uma babá para ManoellaOnde histórias criam vida. Descubra agora