Capítulo 34

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Giovanna Veríssimo






- Pode sim. - Ele fala ao amigo e eu sinto meu coração errar as batidas. - Se você quiser morrer por lá mesmo. - Volto a respirar novamente. - As duas são do chefe, nem mesmo pense ou ele arranca sua cabeça fora, só leve ela para casa e cuide para que ela não saia de lá, assim que resolvermos a situação vamos todos.

- Porra, não sou babá não cara.- Fala furioso, o amigo da dois toques em seu ombro e sai do carro.

Mais alguns minutos de estrada e chegamos a uma grande casa de fazenda, ele para o carro, destrava as portas e sai me puxando pelo braço para dentro. Na porta há cinco cães da raça pitbull, pelo negro e olhos azuis, só o latido deles já me amedronta, eles parecem muito agitados e nervosos, são enormes, me encolho quando ele faz menção de passar perto deles, ele sorri e me arrasta pelos braços.

- Se não fizer o que a gente te mandar, vai virar comida desses aí, me entendeu? - Balanço a cabeça em concordância.

Entramos, ele me leva até o segundo andar da casa, seu estilo é antigo mas muito bonita, por fora uma bela textura na cor areia, por dentro a mesma cor, lá em cima há um grande corredor, caminhamos somente até a segunda porta, ele a abre e me empurra lá dentro me fazendo cair no chão. Entra logo após e olha todo o quarto, não há nada aqui além de um colchão e uma caixa velha, a caixa está muito bem trancada, tentei diversas vezes mas não consegui abrir e não há nada nesse lugar que possa me ajudar, a janela está aberta mas tem grades com espaços extremamente pequenos.

- Espere aí, mais tarde o chefe vem te fazer companhia, eu mesmo adoraria fazer isso agora, mas minha vida vale mais do que uma puta. - Sai batendo a porta.

Olho tudo minuciosamente em busca de qualquer coisa que me ajude a sair desse lugar mas não encontro, não tem nada aqui além do colchão e a caixa, como disse, até tem uma janela, mas suas grades apertadas muito mal dão para passar minhas mãos, nem esquartejada conseguiria passar por esses espaços. Fico ali roendo as unhas, comendo a pele em torno das mesmas, minha cabeça não para, estou tão ansiosa e curiosa, o que será que aconteceu com as duas naqueles hospital? Será que estão bem? Será que conseguiram ajuda? Não sei se essa demora para os homens e aquele maldito voltarem me deixa mais ansiosa ou mais calma. Pois se não voltaram até agora é porque ainda devem estar a procura delas, ou até podem ter sido pegos, caso contrário já estariam aqui com elas.

Mil possibilidades passam como um filme em minha mente, as horas passam e a agonia vai aumentando a cada segundo, depois de muito tempo o homem que me trouxe entra no quarto.

- Toma. - Diz jogando uma faca no chão. - Isso é para você ver como sou bonzinho, acabe com seu sofrimento enquanto pode, vou por fogo nesse lugar, se você não quiser sentir o fogo consumir você, faça isso antes dele. - Corro no mesmo instante em sua direção e seguro em seu braço antes que saia.

- Não, por favor não, me deixa sair. - Suplico.

- A casa caiu boneca, morra feliz sabendo que as duas estão bem, mas não posso te deixar sair, não vou me arriscar por você, como eu já disse, minha vida vale mais do que uma puta. - Me joga novamente no chão, sai e tranca a porta, não demora vejo um líquido escorrer no quarto por debaixo da porta, pelo cheiro com certeza é álcool, não acredito, o que eu fiz para merecer uma morte assim tão terrível?

Pego a faca e chego a cogitar a possibilidade de tirar minha própria vida, nunca pensei nisso antes, nem mesmo sei se terei coragem de fato, mas que outras opções eu tenho? Não me resta nada a não ser escolher qual destino é menos doloroso para seguir.

Ouço barulho de carro, olho pela janela e vejo o mesmo pegando alguma coisa na mala do carro, ele joga tudo num canto próximo a parede externa da casa, faz um pequeno monte de objetos, derrama um galão do que deve ser álcool na pilha e ascende um fósforo, o fogo já começa alto, foi muito álcool jogado nos itens, o fogo vai se alastrando para além da minha visão.

É isso, chegou a hora de escolher.

Não posso fingir que não me dói, sou jovem, tinha muito para ser vivido, nessa hora me vem os arrependimentos, lembranças, as coisas poderiam ter sido diferentes, eu gostaria que muitas delas tivessem sido. Gostaria de ter tido coragem, atitude, gostaria de ter agido diferente em muitas ocasiões, mas do que isso me vale agora? Em parte morrerei aliviada e feliz por saber que as duas escaparam das garras daquele nojento, me sentiria ainda pior se tivesse quem viver sob o domínio dele ou ter este mesmo fim que terei agora. Pensar nas duas me deixa feliz e ao mesmo tempo triste, como eu gostaria de ter tido mais tempo, ver minha princesinha crescer, acompanhar ela no primeiro dia na escolinha, ir em suas apresentações, ver a pessoa que ela vai se tornar. E a chata da mãe... essa mexeu comigo desde o primeiro momento que eu pus meus olhos nela, o que tinha de linda tinha de mal educada e teimosa, mas o tempo passou e eu fui conhecendo um lado dela que de primeira vista eu jamais pensei que existiria. Eu não queria, na verdade nem mesmo sabia que um dia eu poderia ter interesse em outra mulher, mas quando eu vi já era tarde demais, eu já não tinha mais controle, até meu corpo se rendia a ela, bastava um olhar para me amolecer, seu mais simples toque gerava em mim pensamentos que eu jamais tive com qualquer outra pessoa, eu estava totalmente entregue a ela... gostaria de ter vivido mais momentos ao seu lado.

Por outro lado, não sentirei falta dessa vida, não quero ser ingrata mas ela não foi nada generosa comigo, olha tudo que já vivi e pelo que estou passando agora. Desde sempre procurei ser uma pessoa boa, ser gentil, não devolver o mal que me foi feito mas sim respondê-lo com amor, e agora olhe onde tudo isso me trouxe, vivi todos esses anos debaixo de humilhação, não sentirei falta de nada disso, e serei sincera, por mais que isso sempre tenha me machucado e incomodado, eu nunca tive e é provável que nunca tivesse a coragem de fazer diferente, de tomar uma atitude, de me impor e impor os meus limites. Seriam apenas anos e mais anos de humilhação e sabe-se lá mais o que, já que eu pareço um para raio de tarados e estupradores.

O calor vai ficando cada vez mais forte, isso só me mostra o quão rápido o fogo está se alastrando e que meu tempo está acabando, me pego pensando com meus olhos fixos na faca na seguinte questão: Como eu quero morrer hoje?




Votem e comentem!

Demorei bastante eu confesso, e não posso prometer que não vai acontecer de novo porque vai sim, estou muito atarefada ultimamente e logo ficarei mais ainda. Então tomem seus remedinhos para ansiedade, fiquem com a terapia em dia e esperem o milagre deu conseguir escrever e postar o próximo capítulo.

Capítulo foi curtinho pois eu não gosto de despedidas, principalmente de quem eu gosto, acredito que vocês também não vão gostar nada apesar de preferirem a Lorena, mas acontece galera, é a vida.

Até o próximo capítulo minhas delícias! 💋

Uma babá para ManoellaOnde histórias criam vida. Descubra agora