capítulo 1

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  Batucava os dedos na mesa de madeira, aguardando a massa do bolo assar, após dar o tempo, retiro o bolo do forno colocando em cima da mesa. Desenformo o bolo delicadamente para que não dê errado e acabe quebrando, corto as fatias e separo as camadas, coloco o creme no saco de confeitar, começo a recheiar o bolo. Terminado, o coloco na vitrine da loja, volto para trás do balcão arrumando a pequena bagunça que fiz. Tudo devidamente organizado, me preparo para ir embora, tiro o avental o pendurando na parede, pego a chave, grito paro o senhorzinho dono da padaria que estou de partida.
  Ando pelas ruas terrosas da vila, passo pelo mercado aproveitando e comprando alguns mantimentos que necessitamos em casa. Com algumas poucas sacolas de legumes e frutas, sigo para casa, carne é um luxo para nós, o preço é comparado a uma pequena riqueza e por mais que nossa aldeia seja rodeado pela floresta sombria, onde serve de lar para várias espécies, não me atreveria a caçar por conta própria. Não somente pela floresta fazer fronteira com as terras feéricas, onde antes existia uma muralha que impedia as bestas de virem até nossas terras para nos  devorar, mas por não possuir coragem o suficiente para tirar a vida de um animal. Portanto, me resta apenas virar uma pessoa que só come o que vem da terra, e dos galinheiros. Chego em casa, abro a porta e vejo se minha mãe já está em casa, pela quietude em que se encontra, já sei a resposta. Sinto minha barriga roncar como as novas carroças motorizadas que chegaram recentemente do continente, caminho até a cozinha colocando as compras no balcão de mármore, abro os armários procurando algo para comer, aproveito e guardo as compras. Lavo uma maçã antes de leva-lá a boca, dando uma mordida generosa, sinto o gosto adocicado e pouco ácido conforme vou me deliciando com a fruta.
  Tenho minha atenção roubada pelo pequeno animal de quatro patas, peludo e com um bafo de leite que adentra ao recinto. Sinto as lambidas nos dedos do meu pé, me agacho e o pego no colo, recebendo agora as lembidas no rosto. Desvio o rosto das suas investidas, mas acabo com o rosto todo babado.
  - Também senti sua falta! - Afago atrás de sua orelha, ele inclina a cabeça contente pelo carinho. Subo as escadas em direção ao meu quarto, bem, não totalmente meu, já que não temos o luxo de ter uma casa grande com vários quartos e empregados para nos satisfazer, mas, o pouco que temos já é o bastante por enquanto, e dá para termos uma vida digna e honesta. Nosso chalé é pequeno porém espaçoso, possui dois andares, em baixo fica a sala com um sofá marrom de dois lugares, mais uma poltrona gasta também marrom, a mesa de centro, um banheiro e a cozinha, com os armários, uma bancada no centro e a mesa de seis lugares, e lá em cima fica o quarto, tendo uma cama de casal que divido com minha mãe, a janela diante dela, as duas cômodas, uma escrivaninha e a estante onde guardo meus precisos livros que me tiram da minha triste realidade. Não que eu não seja feliz ou não seja grata pelo que tenho, ao contrário, sou bastante grata, verdadeiramente, mas, não posso me impedir de sonhar com algo melhor do que temos, sem me preocupar com o que comeremos amanhã ou se estaremos seguras até lá, somos duas mulheres sozinhas vivendo nesta casa, a qualquer momento uma pessoa com más intenções poderia invadir e fazer, não gosto de pensar nisso. Em breve estaremos passando por um momento bem difícil, o inverno logo estará aqui e é nele que as coisas ficam complicadas. É uma estação onde não tem como plantar nem colher alimentos, os animais parecem fugir, e as águas ficam congeladas. As pessoas que não morrem de fome, morrem de frio, e outras são mortas por pessoas desesperadas que fazem de tudo por dinheiro, afim de saciar nem que seja um pouco a fome e o frio.
  Ouço o barulho da porta fechando, sinalizando que outra pessoa acabou de chegar, decido continuar na cama e esperar, minha mãe surge pela porta do quarto me cumprimenta, vai até a cômoda tirando de lá uma nova muda de roupa, tira a que estava e veste as novas.
  - você já comeu? - Aceno, dizendo que sim.
  - Comprei legumes na feira, estão no armário, tem que lavar.
  - Obrigada meu amor. 
  Perco a noção do tempo olhando para o teto, sinto minha pálpebras pensarem, e depois, nada.

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