Não sei onde estou, ouço risadas de crianças, quadros, jornais no chão e tinta. Estou segurando um pincel, diante de um quadro, que retrata um rio? Ele está incompleto, só consigo visualizar uma mesclagem de tons de azuis, formando uma corrente.
- Senhora! Senhora! - Um menino rouba minha atenção para si, parece ter uns sete anos, pele bronzeada, cabelo castanho e olhos esverdeados com um toque de âmbar perto da pupila. Ele carrega um pequeno quadro na mão.
- Olha o que fiz. - Diz completamente empolgado com sua obra, para perto de mim. Pego o quadro de suas mãozinhas, eu sou péssima em decifrar artes, já me arrisquei a pintar e desenhar alguma coisa mas, nunca ficava digno de um grande pintor. Nunca sei desvendar o que ele quer passar através das pinceladas no quadro. Tento entender a obra do pequeno, tem uma parte pintada de azul escuro, tão escuro quanto a noite, uns pontinhos brancos, então imagino que seja uma noite estrelada. No meio do quadro encontro duas pessoas, um feito com lápis da cor marrom, a pele. Uns traços preto com azul em cima do círculo, que é a cabeça. As orelhas pontudas, então é um feérico, olho para a criança que também possui orelhas pontudas, pelo visto estou em uma das cortes feéricas, agora, qual? Volto a analisar o rabisco, "desenho" da criança, a pintura que eu imagino ser o homen, possui olhos, violetas? Nunca vi ninguém possuir olhos tão exóticos na vida. Ao lado dele, um desenho de uma mulher, cabelos castanhos dourados, olhos azuis oceanos e pele branca. Os dois parecendo ser alguém da realeza feérica, por causa das coroas em suas cabeças.
- Que lindo! Você quem fez? - Falo admirada, ele confirma acenando empolgado.
- Quando eu crescer vou pintar tão bem como a senhora. - Diz, admiração em seu olhar. O olho emocionada.
- É claro que vai. - Afirmo, escutamos sua mãe o chamar, ele se despede de mim com um abraço, me pegando de surpresa e vai até a mulher. Aceno para eles, solto um suspiro satisfeito.
Minhas pálpebras estremecem antes de abrir, me espreguiço, enrolando enquanto posso na cama. Me levanto, o chão gelado baixo de meus pés, começo a me arrumar para trabalhar. Minha mãe e o filhote continuam dormindo, alheios ao barulho que faço, desço e preparo o café, com ele pronto, começo a comer. Algumas imagens do sonho começam aparecer, vagamente. Não sei porque sonhei com isso, ainda mais com feéricos, talvez a presença do Lucien durante a noite passada tenha influenciado nisso. As vezes eu tenho sonhos vividos e malucos, mas, nunca com tantos detalhes. Será que aquele garoto é um menino qualquer que eu tenha visto pelo vilarejo? - Coloco a louça limpa no armário, enxugo minhas mãos, pego minha bolsa e vou até a padaria.
Enxugo a gota de suor que descia pela minha testa com o braço, coloco a última cereja em cima do bolo e finalizo. Gerard surge através da porta.
- Pausa para o almoço? - Pergunta me olhando.
- Sim, pausa para o almoço. - Sorrio, limpando minhas mãos no avental.
- Que bom, se não te arrastaria daqui obrigada para almoçar, já nos encontramos no meio da tarde e você ainda aí, trabalhando! - Reclama gesticulando para o bolo. - Precisa ser mais responsável com sua saúde menina. - Fala como um verdadeiro pai preocupado com sua filha. Gerard nunca teve filhos, mas tenho certeza que não foi por falta de querer, ele daria um ótimo pai. Levanto as mãos, me rendendo.
- Você está certo. Agora podemos ir? - Dou um sorriso infantil, torcendo para que ele deixe isso para lá, para podermos ir comer. Ele balança a cabeça de um lado para o outro com as mãos na cintura. Como se dissesse que não tenho jeito.
- Vamo logo. - Largo o avental e o coloco na gaveta, busco minha bolsa e as chaves da porta, a fecho, tranco e partimos em rumo a taberna. Chegando lá encontro uma cabeleira ruiva familiar, Lucien estava sentado sozinho no bando de madeira com os cotovelos apoiados no balcão, em sua mão um copo transparente, dentro, uma bebida âmbar. Seus cabelos presos, caindo sobre um ombro. Vestindo uma roupa mais casual que ontem, meu companheiro me puxa para nossa mesa, sento e dou uma olhada nas pequenas opções que o lugar oferece. Após ter solicitado a nossa refeição dou mais uma olhada no amigo de Vassa, pela postura, ele parece incomodado com algo, ele não nos viu quando chegamos, isso mostra que mesmo sendo um feérico e sempre estar atento ao seu redor, agora ele se encontra completamente alheio ao que o rodeia. Lucien bebe todo o líquido do copo, paga e vai embora, nossa comida chega, agradeço e como.
Após nos satisfazer Gerad paga a conta, e voltamos para loja.
Com o dia encerrado, me despeço do dono da padaria e vou embora. Quando fecho a porta da loja dou de cara com Vassa parada, encostada na parede.
- Oi. - Saúdo.
- Oi. - Me abraça.
- Se veio comprar alguma coisa veio tarde, como pode ver, já fechamos. - Tranco a porta depois de nos destanciarmos.
- Não. Vim te acompanhar. - Fala entrelaçando nossos braços, andamos.
- Algum motivo em especial? - Pergunto desconfiada. Com certeza ela tem coisas melhores e mais importantes para fazer do que me acompanhar até em casa. Ela coloca a mão no peito ofendida.
- Não posso simplesmente acompanhar minha única amiga até em casa?
- Onde você aprendeu a ser tão dramática? - Ela dá de ombros.
- Acho que estou andando muito com Jurian e Lucien, você não imagina o quanto eles podem ser dramáticos. - Revira os olhos entediada. - Por isso quero passar mais tempo com você sabe? Fazer coisas de garotas, uma hora cansa só ficar rodeada por macho. Não quer dormir lá hoje?
- Não sei.
- Vamos! O que custa? - Balança meu braço com o seu, me incentivando a aceitar.
- Vou pensar. - Ela aceita isso, por enquanto. Mas tenho certeza de que vai me arrastar junto dela mais tarde.*Comentem 💜
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Depois de você
AléatoireDepois da perda de sua Grã-senhora, Rhysand perdeu a vontade de viver. Todos os dias são vazios, não há felicidade, ele não mais vive, apenas sobrevive. Tentou acabar com a dor, mas não é o que Feyre iria querer, ela estaria totalmente decepcionada...