Capítulo 23

156 24 1
                                    

Com ajuda de Lucien entro na mansão deles, Vassa e minha mãe logo atrás de nós. O ruivo me coloca sentada no sofá e volta para ajudá-las com a bagagem, não que seja muita coisa, apenas três malas médias com o essencial que conseguimos trazer.

- Senhora. - Layla acena com a cabeça lhe saudando. - O doutor chegou.

- Obrigada, peça-o para que aguarde na antecâmara. - Ela confirma e se retira, falam que depois de tantas dificuldades, tantos problemas ao decorrer da vida, você acaba mudando, é obrigado a mudar pela situação em que é submetido, alguns mudam para pior, outros para melhor, uns mudam pelo amor, enquanto outros mudam pela dor. E Vassa apesar dos maus bocados, não que nenhum dos três morados da casa não tenham passado, trata o mais simples humano com respeito como se fosse um rei, não diferencia um simples mercador de um lorde, os trata igualmente. E não é só respeito, ela parece se preocupar de verdade, ela ajuda quem precisa, minha mãe e eu somos só mais duas na grande fila de pessoas que ela já ajudou. Subo até o quarto em que irei ficar, coloco um vestido de tecido fino e leve, sem estampa alguma, para colaborar com o doutor na hora de examinar e também para ficar mais confortável.

Uma batida na porta, autorizo a entrada e acomodo-me em meio aos lençóis esperando que entrem, Vassa surge com um homen um pouco mais baixo que ela, de idade mais avançada com algumas rugas na testa e ao redor dos olhos castanhos, que transmitem bastante conhecimento, como se já tivesse visto de tudo, na mão uma maleta de couro marrom, onde estão os remédios e outros aparatos.

Ele deseja uma boa tarde e tira de dentro da maleta um objeto para sentir minha pressão e e outro para meus batimentos, começa a me examinar. Tendo terminado recolhe novamento os utensílios na maleta e prescreve algo em seu caderno, o entregando para a mulher.

- A senhora vai precisar fazer repouso por uns dias, aplicar a pomada que passei no lugares em que estiver sentindo dor, para cabeça escrevi uns remédios que vão ajudar. Indico que faça uma compressa de água fria e evite locais barulhentos. E é claro alimente-se bem. A pancada não causou nenhuma fratura, vai ficar sentindo dores por algumas horas, conforme for tomando os remédio e tendo seus devidos cuidados melhorará. Também deixei uma loção para seus arranhões. Caso sinta enjoos, tome chás de ervas. - Assinto.

- Obrigada doutor. - Agradeço.

- Teve sorte menina. - Concordo com ele, o acidente podia realmente ter sido pior. Vassa o guia para fora do quarto me deixando descansar, antes de fechar completamente a porta o filhote passa por ela subindo na cama, sumindo completamente em meio aos lençóis. Minha cabeça dói, parece que alguém, ou algo, está pressionando minhas têmporas, fecho os olhos na intenção de descansar a vista e diminuir essa dor.


Meus olhos se abrem abruptamente, coloco minha mão no peito que situa-se completamente acelerado, minha respiração ofegante. Olho em volta, vendo que estou na segurança do quarto, na mansão. Porque estou com essa tendência para sonhos estranhos e desagradáveis ultimamente? Por que acordei assim e sem fôlego? Com medo, parecia ser real, ainda posso sentir as garras daquela coisa de aparência tão grotesca e demoníaca rasgarem a minha pele, suas asas de couro e aparência de morcego, os dentes pratas e afiados, o corpo esquelético, seu cheiro era pútrido e os olhos da mais pura e cruel escuridão.

Afasto o lençol levantando, querendo afastar também as lembranças do pesadelo. Não sei que horas são, mas o céu já se encontra escuro, ainda nublado, só que com menos nuvens do que ontem. O chão é gelado de baixo do meu pé, tenho costume de andar descalça, mesmo minha mãe dizendo que não é bom, porque eu não sei. Caminho pelo saguão encontrando tudo escuro, vou para cozinha em busca de algo para comer, não comi nada desde ontem, quando acordei o enjoou não deixou eu pôr nada no estômago, agora que estou melhor minha barriga não demora a rugir de fome.

Faço um sanduíche de peru e coloco leite no copo para acompanhar. Satisfeita, limpo o que usei e guardo no armário, voltando para meu aposento me deparo com o Lucien apoiado na grade da varanda, o vento beijando seus cabelos soltos, os bagunçando.

- Você não dorme? - Apóio meu ombro no batente.

- Achei que você estivesse. - Murmura sem se virar para mim. Me aproximo, quase colando nossos braços, vejo um copo entre suas mãos com um líquido âmbar dentro. O vejo engolir seco, seu cheiro amadeirado me atingi com força, trazendo com ele o cheiro característico de álcool. O cheiro dele, apesar do álcool, é muito bom.

- Acho que já dormi demais. - Ele assente.

Ficamos em silêncio, apreciando somente o nada. A noite escura e carregada revelando o silêncio que a mente necessita. O homen ao meu lado solta um soluço quase imperceptível, olho para ele, mas não consigo ver seu rosto.

- Lucien. - Chamo-o colocando a mão em seu ombro, sei que faz parte, mas não gosto do brilho desolado em que vejo no seu olho, algumas lágrimas presas no olho. O puxo para mim, abraçando ele, meus braços circulam seus ombros e cruzo meus dedos na sua nuca.

Ficamos assim, aproveitando o calor do corpo um do outro. Suas mãos sobem lentamente, acariciando gentilmente meus quadris, seus dedos fazem círculos suaves na minha pele coberta pela fina camisola azul escura de seda, que coloquei depois da saída do médico. Ele afasta seu rosto do meu, vejo um pequeno brilho de luxúria no seu olhar, ele olha para mim como se quisesse me arrebatar. Minhas bochechas estão em chamas, meu corpo se contorce sob seu olhar. Quando sua boca paira a um curto espaço da minha, quase que pedindo permissão para avançar, sinto uma queimação no estômago que jamais pensei sentir, que achava não ser para mim, igual as famosas borboletas que estão dançando em meu estômago, e que todos falam sobre. Mas o medo e a insegurança de que não dará certo também se mescla com as borboletas, causando um rebuliço forte e intenso.

De repente não consigo me lembrar como respira, ou o que levou a essa situação. Numa súbita coragem, fecho os olhos guiando meus lábios até os dele, começo desajeitada, nunca beijei então não tenho prática, ele parece perceber já que vai controlando o ritmo, o acompanho, prolongando o movimento. A excitação do que viria é quase palpável, meu coração reverbera em meus ouvidos, pulsando em minhas têmporas e devorando meu tórax. Estou completamente em chamas e me pergunto se ele pode perceber meu corpo superaquecido. Arranho levemente a nuca dele, sentindo os pelos arrepiar, ele solta um suspiro em meio ao beijo e me puxa pelo quadril voltando a atacar meu lábios.

Deixo-me levar por meus anseios e desejos, pensando em como me envolver com Lucien é um erro, um enorme, irrefutável e perigoso erro, principalmente para o meu coração.






Depois de você Onde histórias criam vida. Descubra agora