Entro em casa com a mulher, sou recebida como de costume pelo filhote, com muitas lambidas. Acaricio seus pelos, coloco a bolsa no sofá e vou para cozinha. Vassa já familiarizada, senta no sofá com o folgado animal no colo.
- Quer alguma coisa? - Pergunto mexendo nos armários.
- Não obrigada. - Responde da sala. Coloco comida para o pequeno no pote e deixo no chão, ele pula do sofá e vai até a comida, sento do lado da mulher, lembro do Lucien e antes que pudesse impedir minha língua, pergunto:
- Vassa, aconteceu alguma coisa com o Lucien? - Pergunto olhando para ela, Vassa se vira para mim com a testa enrugada, estranhando a pergunta.
- Por que desta pergunta?
- Encontrei com ele hoje mais cedo e ele não parecia muito bem, estava cabisbaixo, parecia não sei... Triste? - Ela levanta o olhar, olhando para o nada, seus olhos perdidos. Suspira e volta a olhar para mim, o semblante preocupado, ao mesmo tempo que parece estar acostumada com ele assim.
- Provavelmente ele foi visitar ela hoje. - Ela? E quem seria ela? - A parceira dele. - Responde, vendo a dúvida em mim.
- Parceira? O que é? - Pergunto.
- Pelo pouco que eu sei, é um negócio dos feéricos. Tipo alma gêmea e essas coisas, eles sentem um ao outro, sabem quando estão em perigo, tristes e outras coisas. A alma deles são interligadas, Lucien falou que os parceiros sabem que são, quando se conhecem, mas, o laço só se firma quando eles se aceitam. E quando um deles renega o outro, é um sentimento ruim, como se faltasse algo em si. E é isso que acontece com o Lucien, a parceira dele não tá nem aí para ele. - Posso jurar que um brilho de raiva passou em seus olhos, ressentimento. - E o pior, é que ele tá nisso a mais de vinte anos, ele simplesmente não segue em frente, quer dizer, ele não força ela a nada, respeita ela e o tempo dela, mas sofre com isso, por mais que não se abre sobre o assunto, é visível o quanto sofre. - Diz fazendo carinho no cachorro que está aninhado em seu colo. Mais de vinte anos, nossa! Não sei se eu esperaria alguém por tanto tempo, ainda mais alguém que me esnoba desse jeito. Mas, não posso julgar antes de conhecê-la, não sei o que se passa em sua cabeça, ou o que ela já enfrentou.
- Eu acho lindo tudo isso de almas gêmeas, mas, não sei se eu iria querer isso, sei lá. - Dou de ombros. - E se eu não amasse meu parceiro ou ele não me amasse, como ela parece não amá-lo? - Falo, pensando nessa possibilidade, nós seríamos infelizes, quero alguém que queira estar comigo, e não por obrigação, não porque um ser os amarrou juntos e decretou que pertenciam um ao outro. - Acho que as pessoas deviam poder escolher quem amar. - Reflito, e se for isso que acontece com a parceira de Lucien? Ela deve ficar com ele só por serem parceiros? Vassa parece refletir sobre isso também.
- Passei minha vida toda presa, sem escolhas, primeiro com minhas irmãs, nunca tive direito a nada, só a concordar sobre as escolhas delas. Nunca pude opinar sobre nada, apenas sentava com a coroa sobre minha cabeça no trono, sorrindo, e observando meu povo, meu reino cair, cada vez mais afundando, desmoronando, como um barco que foi furado por causa de uma escolha errada, a água entrando, cada vez mais rápido, até não sobrar nada. - Fala com mágoa na voz. - Nosso reino já foi um lugar lindo, unido, antes de cada rainha governar uma parte das terras humanas, crianças brincavam livremente, sem medo de andar nas ruas, tinhamos uma boa economia, aliança forte entre nós. - Um sorriso aparece em seu rosto, o olhar nostálgico lembrando dos bons tempos em que viveu. - Até que recebemos aquela proposta do rei de Hybern, fiquei contra, pela primeira vez em muito tempo me opus, não deixaria que elas jogassem nossas terras nas ruínas. Péssima decisão, elas armaram contra mim, na calada da noite entraram em meu quarto, me dominaram e me venderam para um feiticeiro. Com certeza tinha um traidor em meu palácio, alguém que tivesse o mesmo pensamento delas, afinal, nunca fui muito amável, e adorada. Ele resolveu jogar um feitiço em mim, um experimento se assim posso dizer, em prol de sua própria diversão. Ele me transformou em um pássaro de fogo, de noite mulher e ao dia um pássaro. Consegui barganhar a minha liberdade com ele anos depois, Rhysand e Feyre me ajudaram, não sei o que eles o ofereceram. Com ajuda de Amren pouco depois, me livrei de uma parte do feitiço, não deixei de virar um pássaro, mas agora viro quando for de minha vontade. Conviver com minhas irmãs nunca foi fácil, mas, éramos mais unidas, visando o bem em comum, buscando prosperar e crescer cada vez mais. Mesmo depois de cada uma governar uma parte do território, dividindo as terras mortais, nada do que acontecia ficava sem passar por minha irmã mais velha, ela tinha poder sobre todo o reino, não era eu quem governava realmente, eu só ficava parada e ela tomava conta. Podia fazer uma coisa aqui e ali, tentar melhorar meu território, mas, as decisões que afetavam toda terra humana, eram sempre tomada por ela. Com minhas outras irmãs era igual, Alexandra, minha irmã mais velha, sempre foi gananciosa ao extremo, sempre querendo se sobressair sobre os outros reinos. Ela assim como as outras, sempre tiveram inveja dos feéricos, não invelhecer, ser belo e imortal para sempre. - Solta um sorriso repleto de ironia. - O rei sabiamente se aproveitou disso, ele queria mais poder, armas e homens, tudo que garantisse que ele ganharia a guerra, mesmo já possuindo o poder do caldeirão. - A guerra, eu não era nascida quando aconteceu, mas a biblioteca da cidade tem livros contando sobre. A guerra que quase deu fim a nós. O caldeirão pelo o que eu sei, é o início de tudo, desse mundo e do povo feérico. Não tenho certeza, na aldeia não tem muito sobre os feéricos. - Meu território é, ou era, conhecido pelo rico comércio e armas, juntando isso a grande inveja que minha irmã possuía, decidiu se livrar de mim. Dois coelhos em uma cajadada, ajudar o rei na guerra e de quebra, assumir minha parte do território. - Levanta e vai pegar um copo de água, trás um para mim e senta de novo com as pernas cruzadas. - Depois que a guerra acabou e o rei foi morto, o continente não foi o mesmo, sem três das rainhas mortais, lá virou um caos. Não tive coragem para voltar, nem pelo meu povo que não tem culpa. Acho que um dia quem sabe, eu volte. Então é, você tem razão, ninguém deve ser obrigada a nada, cada um tem que ter o controle da sua vida e fazer o que quiser. Mas, o que eu não aceito de jeito nenhum e nem entendo, é a Elain não ser transparente e sincera com o Lucien, ele merece isso. - Range o dentes, as feições raivosas. - O que custava ela virar para o Lucien, o que ela nem se preocupa em fazer, e dizer: Não, eu não quero ficar com você, aconteceu várias coisas e eu preciso de um tempo, preciso focar em mim, quero ficar sozinha e quando estiver pronta eu vejo o que acontece. - Diz com gesticulando com as mãos e fazendo uma voz mais fina e doce.* Qualquer dúvida já sabe leitor.😉💜
* Não tenho nenhuma opinião sobre a Elain, ela não foi muito desenvolvida e eu até agora só vejo ela como irmã da Feyre. Uma personagem secundária, quando tiver um livro focando mais nela aí nós vemos o que vai dá. Acho sim que ela possa ter um potencial.
💜💜💜
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Depois de você
RandomDepois da perda de sua Grã-senhora, Rhysand perdeu a vontade de viver. Todos os dias são vazios, não há felicidade, ele não mais vive, apenas sobrevive. Tentou acabar com a dor, mas não é o que Feyre iria querer, ela estaria totalmente decepcionada...