Capítulo 4

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  Solto um suspiro de cansaço ao terminar as encomendas de Vassa para amanhã. Não posso dizer que estou animada em ir, mas já dispensei diversos convites dela afim de conhecer sua casa. Não sou a pessoa mais elogiada daqui, frequentar uma casa, em que moram uma mulher solteira com dois homens, vai abrir ainda mais espaço para pessoas que não possuem o que fazer, além de tomar conta da vida dos outros, falem da minha vida. Ouço o tilintar do sino acima da porta quando ela é aberta, ergo o rosto, vendo um homen alto e bonito apesar de sua carranca séria, com cabelos castanhos escuros, olhos também castanhos e porte de soldado entrar, sua pele bronzeada, provavelmente por passar muito tempo no sol.
- Boa tarde senhor, o que deseja? - Pergunto assim que ele se aproxima. Ele apenas cumprimenta com um aceno de cabeça.
- Vim buscar a encomenda em nome de Vassa. - Então ele é um dos homens que dividem o palacete com Vassa. Será ele Lucien ou Jurian?
- Claro, só um momento. - Marcho até as encomendas dela, pego com certa dificuldade pela quantidade, volto até ele e as entrego. - Prontinho, está tudo aí.
- Obrigado Celene. - Estranho ele saber meu nome, quando lembro da ruiva, provavelmente ela o contou. - Vassa fala muito bem de você, e não é para menos, dispõem de uma beleza exuberante. - Coro diante do seu tom sedutor, apesar de ter acabado de completar meus vinte anos, nunca estive romanticamente com ninguém, e não é comum receber um flerte, ou algo do tipo, então sempre fico sem jeito quando acontece.
- Obrigada.
- Não tem o que agradecer, é apenas um fato. - Dá de ombros, sem muita importância. Concordo. - Então, estará lá amanhã? - Pergunta querendo saber se irei.
- Sim, comparecerei amanhã. - Confirmo minha presença.
- Até amanhã então senhorita. - Faz uma reverência zombeteira  antes de ir embora. Só depois me dou conta, ele não disse seu nome, bom, aparentemente amanhã descobrirei.

  Estou uma hora tentando me decidir com que roupa vou amanhã, já passam das oito da noite e ainda não comi nada desde de que cheguei, há duas hora atrás. Minha mãe está me ajudando com isso, ou tentando, mas não consigo achar nada apresentável. Que se dane! Desde quando eu me preocupo com tais banalidades? É só pegar qualquer coisa e pronto. Deixo isso de lado e vou a caça, buscando algo para acalmar a fera que habita minha barriga. Preparo os muffins com chocolate e mel, como uns dois e deixo o restante para minha mãe. Satisfeita e limpa, volto para o quarto, separo a roupa para amanhã, guardo o restante, e deito. O filhote se aconchega em volta do meu pescoço, como de costume,  encostando o focinho molhado e gelado na parte sensível dele, acaricio sua cabeça. Sinto minhas pálpebras pesarem, fecho os olhos me entregando ao mundo dos sonhos.

  Hesito antes de bater na enorme porta de madeira, inspiro e expiro. Um serviçal da casa atende.
- Boa tarde, eu vim para a reunião de Vassa. - Digo sem muita certeza, ele sinaliza para entrar, dou um passo exitante, entro e olho para o interior do lugar, amplo, com enormes janelas que vão do chão até o teto, lareira para aquecer nos dias frios, as paredes de um tom mais claro, pálido, o chão abaixo de meus pés, feito de cerâmica, numa cor marrom avermelhado. A casa, se é que pode ser chamada assim, pelo que pude observar é enorme, rica em detalhes linda, bastante confortável. O homen me direciona para o salão, digno de um rei, com um enorme lustre no centro do salão pendurado no teto, feito de cristais, onde se encontrava algumas pessoas dançando, conversando, ou só paradas comendo. Vejo Vassa perto da enorme mesa retangular, cheia de aperitivos, comendo, acompanhada de mais três pessoas, um homen ruivo e mais duas mulheres. Pelo que eu observo, estão conversando, ou ele está,  já as duas estão sutilmente dando em cima do ruivo, e Vassa está entretida demais no que se encontra em seu prato. Não as culpo, de longe ele já aparenta ser bonito, com as costas largas, provavelmente musculosas, alto, e cabelo mais sedoso do que o meu, de onde estou não consigo ver seu rosto. Sem perder tempo sigo na direção deles com o empregado ao meu lado, paro no lado da morena e a ruiva finalmente me vê.
- Celene, finalmente! - Me abraça, sou pega desprevenida, acabo por devolver o abraço. Sendo observada pelos outros três. - Estava começando a achar que realmente não viria. - Desfaz o abraço e me segura pelos ombros. O serviçal se retira, após pedir licença.
- Não seria capaz disso. - Acabo desviando o olhar para o homen que não parou de me encarar desde que vim até eles, curioso e querendo saber quem sou eu. Nossa! Antes achava ele bonito, mas agora, observando mais de perto, estava enganada, ele não é só bonito, ele é deslumbrante. Sua pele tem um bronzeado natural, cabelo ruivo carmesim, no rosto uma cicatriz cruel que vai da testa até o queixo. O que de nenhuma maneira tira sua beleza, seu olho direito possui uma cor castanho avermelhado. E seu esquerdo, perco um tempo nele observando melhor. No lugar em que deveria estar o seu outro olho, está um olho em que acredito ser mecânico. Me pego pensando, será que funciona como um olho normal? Acho que fiquei encarando por tempo demais, tanto seu olho quanto sua cicatriz, pois ele ergue uma sombrecelha duvidoso e pergunta:
- Algo de errado em meu rosto? - Interpreta errado, sinto a vermelhidão assumir meu rosto.
- Não, de maneira nenhuma! Peço perdão por ser rude e ter ofendido o senhor de alguma maneira. - Quase engasgo de vergonha e me atrapalho.
- Ora, Lucien está apenas brincando com você. - Afirma olhando de lado para ele, antes de completar: - Não é? - capto um brilho divertido passar por seus olhos, que antes estavam opacos.
- É claro. - Concorda.
- Bem, esse como você pode ver é meu amigo Lucien. - Fala para mim, e aponta para o ruivo. - Lucien essa é a Celene, minha amiga e confeiteira preferida. -  Faz uma leve mensura com a cabeça, a qual eu devolvo.
- É um prazer, senhor.
- Somente Lucien. - Corrigi, aceno confirmando. A essa altura as outras duas moças tinham se retirado, percebendo que não iriam conseguir nada com ele.
- Bom, se nos der licença, vou apresentar ela para os outros convidados. - Pega minha mão e sai, me levando junto com ela sem nem perguntar.
  Depois de ser arrastada pelo palacete inteiro e ser apresentada a inúmera pessoas, consigo escapar das garras da anfitriã da festa. Encontro uma porta aberta de vidro que oferece acesso a varanda. Atravesso-a, A noite está deslumbrante, algumas estrelas mais brilhantes e aparentes  do que outras, e a lua, completamente cheia e iluminada. Fico perdida observando o céu, sempre tive uma fascinação pela noite, as estrelas, sobre tudo que envolvia os astros.
- Noite bela não é? - Sinto uma descarga elétrica passando pelo meu corpo por causa do   susto que levei com a voz rouca perto de mim. Olho para o lado, tendo um vislumbre do cabelo carmesim antes de ver seu belo rosto.




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