Capítulo 32

121 20 1
                                    


- Amm, desculpa, eu não quis interromper, nem atrapalhar vocês. - As palavras quase não saíem por conta do nervosismo. Aperto o filhote ainda mais nos meus braços devido ao  nervosismo que os olhares causam,  principalmente do desconhecido. É indubitável que eu atrapalhei algo de suma  importância, as expressões de todos então rígidas, algo os perturbando. E minha intuição me diz, que tem ligação com a viajem de Jurian e Lucien a fronteira. Jurian está encostado na mesa de madeira retangular, Lucien ao lado dele e Vassa encontra-se sentada na poltrona de veludo vermelha, a postura é de uma rainha, e o estranho está de pé, de frente para eles, parecendo um criado relatando qualquer coisa aos seus mestres.

  Mas, o olhar que ele lança para todos, o caracteriza como tudo, menos como um criado. Ele parece um anjo, um anjo da morte, ou o próprio rei do submundo. Com a máscara fria e bela da morte enfeitando seu rosto.

- Quem é ela? - Sua voz me causa calafrios, e não é bom. Me sinto uma presa na presença do predador, acuada, como um rato só esperando o bote da cobra. A pergunta não foi para ninguém em particular, mas foi Jurian a responder:

- Uma amiga, está hospedada conosco por um tempo. - Diz com semblante desinteressado, mas a atenção totalmente voltada ao macho rodeado por sombras, sabendo que ele é a ameaça. Aquele com que deve ter cuidado. Uma faca de obsidiana situa-se presa na sua coxa, os dedos enluvados perigosamente próximos do cabo. Afasto meus olhos dele, pronta para dar meia volta e sair daqui, até que eu sinto um toque fantasma, gélido, como um sopro.

  Olho para minha mão apoiada no corpo peludo do filhote, uma gavinha de escuridão brinca entre meus dedos, deslizando. Sinto uma cosquinha gostosa, afasto os olhos da sombra, voltando a olhar para o macho numa pergunta silenciosa.

  Ele mantém a atenção focada em meu rosto, seu expressão indiferente caiu, agora ele parece estar um pouco confuso, tentando me desvendar enquanto observa meus traços. A sombra que fazia piruetas em meus dedos, volta para seu dono.

  Olho para meus amigos conforme digo:

- Se me derem licença vou me retirar, ainda não realizei meu desjejum e esse rapazinho também está com fome. - Aponto com o queixo para o cachorro. - Desculpe novamente a interrupção. - Sorrio sem graça.

- Sem problemas. - Diz a rainha caida olhando amável para mim. Com certeza ela segurou a risada, pelo meu modo embaraçoso de agir, fico feliz de não cair conforme saio da sala sentindo a todo o momento os olhos do desconhecido, estranhamente familiar, em mim.

                                  ✨🌙✨

  A atenção do encantador de sombras fica na porta até depois da mulher loira sair. Uma coisa estranha aconteceu, algo dentro dele brilhou em reconhecimento quando ela apareceu, mesmo nunca tendo visto a humana, um sentimento de familiaridade. As palavras de Elain, ou do que habita dentro dela, a muito esquecidas, vieram em sua mente, o incomodando como uma coseira irritante que o faz, talvez, reacender as chamas da esperança.

  Ele veio até às terras mortais para saber mais sobre as mortes que estão acontecendo. Pessoas estão sendo encontradas mortas, mas não são mortes quaisquer, seus corpos são achados muitas vezes desmembrados. Lucien enviara para Rhys uma carta relatando sobre os acontecimentos nas terras humanas, em contra partida, o Grão-senhor pediu a ele para que viesse se aprofundar mais sobre esse problema.

  Lucien estava lhe contando o estado do último corpo que foi encontrado perto da fronteira, um homen na meia idade, ao menos era, antes de ser dilacerado e ficar irreconhecível. Quando a loira apareceu, a princípio ele não deu muita importância para presença dela, mas ao decorrer que olhava em sua direção o sentimento foi crescendo dentro de si, até uma de suas sombras se atreveu a aventurar-se nos dedos dela, saltitando de felicidade, como se reencontrar-se uma velha amiga.

- Uma coisa ficou claro, ao menos para mim. - O humano, não tão humano assim, falou, tirando Azriel de seus conflitos internos. O puxando de volta para o que ele veio fazer aqui. - A coisa que fez isso, não foi um humano. - Diz, repleto de certeza, e com convicção ao falar. Seus braços estão cruzados e seu semblante fechado, sério. A postura de um exímio general que outrora fora, um general que conseguiu matar a irmã de Amarantha, a vadia ruiva. Não só Clythia como tantos outros feéricos.

- Que tipo de animal conseguiria fazer arranhões como aqueles? - Murmurou a ruiva, chamas da lareira de mármore, ilumivam seu rosto, deixando ainda mais aparente sua beleza. Azriel considerou que ela de fato é a mais bela entre as rainhas, o tom reluzente de sua pele, os grandes olhos azuis puxados para cima, emoldurados por cílios e sombrancelhas escuras, e o cabelo vermelho sedoso, o qual descia como cascata pelos seus ombros. Olhos e cabelos que os lembravam de outra pessoa, na qual essa combinação ficava ainda mais bela nela, acrescentando a pele pálida e as próprias constelações que ela carrega no rosto em forma de sardas.

- Não acho também que tenha sido um animal. - Sua voz sai arranhada, não mais que um sussurro, pelo costume de não falar tanto, principalmente sem estar na presença de seus amigos. - Nenhum animal que conheço teria causado tamanho dano como aquele.

  O trio parece ponderar por um minuto.

- Alguma besta das terras feéricas? - Jurian é quem pergunta dessa vez. Procurando qualquer saída dessa situação.

- Não acho que tenha sido eles, não costumam  deixar restos. - Diz o ruivo, seu olho mecânico girando sem parar.

  E do homen o corpo estava praticamente "inteiro", claro, ele estava estripado como um suíno mas, não faltava nada dele, nada exceto o coração.

- Acham...- Engasga Vassa, se interrompendo, antes de falar. - Acham que foi algum dos territórios no continente?

   Montesere, Vallahan e Rask. Reinos feéricos que os negaram ajuda na guerra, preocupados unicamente consigo próprio, Mor, foi para Vallahan, o território feérico antigo e montanhoso, do outro lado do mar do norte. O reino que havia sido tanto inimigo quanto aliado de Prynthian em diferentes épocas. Mas não diria que eles foram muito receptivos com ela, eles não quiseram assinar o tratado de paz que a corte noturna passou meses trabalhando com a colaboração dos aliados de outras cortes e outros territórios.

  Morrigan os contou qual foi a desculpa que a rainha de Vallahan tinha lhe contado para não assinar o tratado na época da guerra. Segunda ela, qual seria  a utilidade de um tratado de paz quando outra guerra, dessa vez com os humanos, poderia redesenhar as linhas territoriais podendo expandir seus territórios. Vallahan não estava interessada na paz. Morrigan também os confidenciou que eles estavam tramando alguma coisa, planejando alguma coisa, só não conseguiu descobrir o que era.

  Fora esse o medo dele e de toda sua família durante a guerra, que esses territórios do outro lado do mar pudessem se juntar a Hybern. Se tivessem se aliado, não haveria chances de sobrevivência.

  Que papel a rainha e o povo de temperamento esquentado de Vallahan teria nesse novo mundo ainda estava por ser decidido, assim como dos outros territórios no continente. O que importa, é que eles continuem calmos e tranquilos como estão, Azriel implora para que a mãe o ouça.



                                             🪷
                                       
* ESPERO QUE TENHAM GOSTADO.

*Se esse cap bater 15 votos eu posto o outro ainda essa semana.

 

Depois de você Onde histórias criam vida. Descubra agora