Capítulo 11

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- Onde eu posso colocar minha bolsa? - Pergunto assim que chegamos na casa dela, a alça da bolsa num braço o filhote no outro.
- Pode deixar no meu quarto.- Confirmo e subimos para o seu quarto. Quando ela abre a porta observo o interior, é lindo, digno de alguém da realeza, assim como todo lugar.  Há uma porta de vidro que leva a varanda, com cortinas verdes musgo para garantir a privacidade e bloquear a luz do sol. Uma enorme cama encostada na parede, onde umas cinco de mim dormiriam confortavelmente sem se tocar, um criado mudo do lado dela, na parede em frente há dois guarda- roupas e a porta que vai para o banheiro. Em frente à entrada do banheiro há dois cestos para se colocar a roupa suja e um pequeno armário para se guardar toalhas e objetos de higiene pessoais. Entro no banheiro, ao lado do vaso sanitário tem a pia e em cima dela um espelho, tem o box de vidro fumê e na parede ao lado uma banheira.
  Deixo minha bolsa perto da cama, Vassa que estava sentada na cama levanta, pronta para descermos.
  Lucien e Jurian chegam quando estamos sentadas na mesa jogando cartas. Se juntando a nós. 
- Bati. - Fala a mulher, ganhando pela milésima vez.
- Você claramente está roubando. - Acusa Jurian apontando o dedo para ela.
- É isso que pessoas que estão perdendo dizem. - Zomba lhe mostrando a língua. Lucien que ainda não se manifestou, quieto no seu canto, revira os olhos, olhando entre os dois já acostumado com as brigas infantis deles.
- Criança. - fala baixinho, mas pela careta que Vassa fez, eu não fui a única que ouviu.
- Me chamou de que? - Olha para ele, tentando o intimidar.
- Criança. - Repete  lentamente, sorrindo para ela com puro deboche. Vassa pega um garfo em cima da mesa, que estávamos usando para comer uns aperitivos, e o joga na direção de Jurian, que  com ótimos reflexos escapa por pouco, o garfo passa raspando na lateral de seu rosto. Jurian olha para Vassa, a voz pingando em cinismo diz: - Acho que você deve melhorar a pontaria, vossa majestade. - Um sorriso de lado, debochando dela. Vassa o olha furiosa.
- Seu cretino.
- Se for me chingar ruivinha, que seja em minha cama. - Passa a língua pelos lábios e abre um sorriso cretino, ignorando completamente a vontade de Vassa de o estrangular. A ruiva que está com o rosto da cor de seu cabelo, agora se é de vergonha ou algo a mais, não sei. Vassa ameaça avançar contra ele, Jurian ergue os braços do seu lugar, de frente para mim, como se estivesse tentando acalmar uma besta raivosa.
- Calma, era só uma brincadeira. - Fala inocentemente. Vassa sai da sala, o praguejando.
- Mulheres, tão sensíveis. - Revira os olhos.
- Você que é um idiota mesmo. - Diz o homen ao meu lado, pelo que pude observar, Lucien é mais reservado, do tipo que guarda as coisas para ele.
- Assim você machuca meu coração amigo.
- Como se você tivesse um. - Rebate.
- Com um amigo assim, que precisa de um inimigo? - O moreno levanta, coloca a cadeira no lugar e se vira para mim. - Se me derem licença. - Faz uma mensura com a cabeça antes de sair.
- Quem vê assim até pensa que é educado. - Jurian que estava subindo as escadas faz um gesto obsceno para Lucien, sem o olhar, e continua subindo.
- Eles já tiveram alguma coisa? - Tenho a atenção do homen, o olho mecânico emitindo um clic.
- É complicado. - Respira fundo. - Não sei se Vassa te contou a história dela. - Confirmo com um aceno. - Eles se gostam é visível através de toda provocação, mas têm medo, eles já se machucaram demais. Ambos são quebrados emocionalmente, tudo pelo que passaram gerou uma consequência, tem danos que são irreparáveis. - Por algum motivo, ele parece está falando mais sobre si mesmo do que sobre os dois, os olhos são espelhos da alma, Gerard falou uma vez. E olhando nos olhos desse homen, vejo que carrega vários traumas, feéricos são imortais, por quanto ele já passou nessa vida? O quanto ele já viveu e sofreu? Ele disse sobre Vassa e Jurian, mas, quais são os traumas que ele carrega?
- Qual é a história de Jurian? - A história de Vassa eu conheço, mas Jurian? Só sei que ele já foi um soldado e lutou na guerra.
- Jurian foi morto pela Amarantha na penúltima guerra, por ter matado a irmã dela. Amarantha era uma general de Hybern, ela aprisionou e tirou os poderes dos Grão-senhores, os deixando presos sob a montanha durante 49 anos, colocando toda Prythian a mercê de suas vontades. Depois que Amarantha morreu, o rei de Hybern deu continuidade ao seu plano. Ele roubou o caldeirão e derrubou a muralha que dividia as terras humanas de Prythian. Reuniu o máximo de soldados que conseguiu e foi para batalha. Jurian foi revivido com o poder do caldeirão.
- E como eles foram derrotados? A Amarantha e o rei? - Pergunto curiosa.
- Amarantha foi derrotada por subestimar uma simples humana, que foi tola o bastante de ir até lá. A general era arrogante demais, achava que nada poderia lhe derrotar. Muito menos uma mera mortal. - Sorri irônico. - Mal sabia que seria essa humana, responsável pela sua destruição e salvação de Prythian.- Diz perdido em lembranças, com um brilho de dor e saudade em seus olhos. Sete Grão-senhores aprisionados por uma mulher, anciões e guerreiros não conseguiram se libertar, com séculos de vida, experientes em batalhas. Mas veio uma humana e os libertou? Ele disse que ela a subestimou, mas, como?
- A humana, onde ela está? - Gostaria de conhecê-la, saber mais sobre ela, como ela derrotou uma general feérica muito mais experiente que ela, forte e imortal. Seu rosto se contorce numa expressão dolorosa, uma única lágrima quase imperceptível escorre do seu olho, não o mecânico, o seu verdadeiro. Quando pensei que ele não fosse dizer, ele responde:
- Morta. A humana, burra, tola e idiota, salvadora de todos nós, está morta.





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