Capítulo 12

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  Não sei como quebrar o silêncio desconfortável que se instalou. Denso e pesado, Lucien parece perdido em seu próprio mundo dentro de sua cabeça, revivendo memórias de tempos passados. Como se sentisse meu desconforto, escuto pequenas patinhas batendo no chão ao correr. O pequeno cachorro desce os degraus e para nas minhas pernas, pedindo para subir. Isso parece tira o homen do transe em que estava.
- Quando foi que ele entrou aqui? - Pergunta olhando para o animal no meu colo.
- Ele é meu, eu o trouxe. - Falo fazendo carinho em seu pelo tricolor comprido e espesso, a cor dominante dele é marrom escuro na parte superior do corpo e até os olhos, marrom claro nas patas e do fuchinho para baixo, uma linha branca divide a cabeça do cachorro ao meio, circula o fuchinho e desce até o peito. Na testa dele, em cima dos olhos ao lado da linha branca, tem duas manchinhas marrom claro, um em cada lado do rosto, fazendo com que o animal pareça ter sombrancelha, ele parece ter uns três meses de vida. - O achei voltando para casa depois de um dia cheio no trabalho, quase dois meses atrás, revirando o lixo atrás da padaria, eu tinha recolhido o lixo e estava o jogando fora quando escutei o choramingar baixinho, ainda um filhote pequenininho, e desnutrido, quase perto da morte. O levei para casa e o tratei lá, minha mãe não foi contra. Fiquei com medo dele não aguentar no início.
- Bom para ele, ter sido achado por você. - Constata, mexendo distraidamente na cutícula.
- É. - Imagino o que teria acontecido com ele se eu não tivesse o achado, provavelmente teria morrido de fome, ou algo pior, em meio a crueldade humana. Mas prefiro pensar que, se não estivesse comigo, alguém de bom coração teria o achado e ele estaria sendo bem cuidado agora. Viveria em um lar grande e aconchegante, onde receberia vários mimos e atenção, principalmente se tivesse crianças, elas o perturbariam e brincariam com o filhote sem haver o amanhã.
- Sem querer ser intrometida nem nada. - Balanço o ombros sem importância. - Mas, como conseguiu essa cicatriz?. - Olha nos meus olhos, em silêncio. - Não precisa contar se não quiser. - Acrescento receosa.
- Amarantha achou divertido marcar o meu rosto como punição. - Solta um sorriso que não chega aos olhos. - A vadia psicótica arrancou meu olho, consegui esse aqui com uma amiga alquimista da corte crepuscular. - Olho para sua cicatriz e seus traços elegantes e afiados, eu diria que mesmo com a grande cicatriz, ela não conseguiu tirar a beleza seduzente desse homen, macho, contou Vassa mais cedo, que os feéricos não são homens e sim machos e as mulheres, fêmeas. Ela dava um toque assustador, porém ainda mais atraente no feérico quente de cabelos carmesim.
- Eu sinto muito Lucien. - Digo sem saber ao certo pelo o que. - Por tudo que você teve que passar e aguentar. - Os olhos dele estão fixos nos meus, intensos, seu olho mecânico estala, ele suspira demoradamente antes de falar:
- Você não tem nada a ver com isso. - Balança a cabeça, negando. Seguro na sua mão que está descansando em cima da mesa, como imaginei, é quente.
- Mesmo assim! Lamento pelo que teve que passar.
- Agradeço, mas como eu disse, não precisa, isso não é da sua conta. - Afirma, tirando minha mão da sua e se levantando, sinto um frio na mão que antes era esquentada pela dele. Me deseja boa noite e vai para o seu aposento.
  Desvio o olhar para o filhote não entendendo a reação do macho. Que inclina a cabeça para o lado devolvendo o olhar, tão perdido quanto eu.
- Você entendeu? Por que eu não. - Pergunto mesmo sabendo que ele não vai responder e nem compreender o que eu disse. Contrariando meu pensamento ele sacode a cabeça, como se negasse. - Pelo visto ele não gosta quando sentem empatia por ele. - Esqueço isso por enquanto e subo até meu quarto.
 

  Acordo no meio da madrugada com sede, retiro a coberta de mim, coloco os pés no chão frio e saio descalça mesmo. Atravessando o corredor noto o silêncio que o preenche, a casa deserta, sem ninguém a vista. O único som, são meus passos ecoando pelo piso, entro na cozinha, pego uma taça e a encho com água. Dou alguns goles antes de um baque ecooar pela cozinha, me fazendo pular de susto e levar a mão até o peito em cima do coração. Giro os pés, encontrando Lucien parado no arco da cozinha, o barulho foi causado por ele esbarrando no banco.
- Quer me matar do coração? - Pergunto, a respiração falhando por causa do susto.
- Desculpa, não consigo dormir, vim buscar um copo de água. - Passa a mão pelo cabelo solto, respirando baixo, sua voz está calma, mas seus olhos demonstram algo similar a inquietação. Ofereço o copo cheio para ele, que estende a mão me olhando com algo que eu não sei identificar, ignoro o sentimento de agitação que se apossou do meu corpo. Meus dedos deslizam pelo dele ao entregar o copo, me surpreendo em como a mão dele é maior do que a minha, em como ele é bem maior comparado a mim.
  Acompanho com os olhos enquanto ele bebe a água.
- Obrigado. - Fala ao terminar, indicando o copo. - E você, não conseguiu dormir também? - Pergunta com a voz rouca e profunda de sempre.
- Eu só estava com sede mesmo, não fui acordada por nenhum bicho papão. - Faço graça. Ele olha estranho para mim, acho que nunca ouviu sobre a criatura.
- Bicho papão?
- É, são histórias que contam para as crianças se comportarem e fazerem o que os adultos querem, vão dormir se não o bicho papão vai pegar vocês, caso não se comportarem o bicho papão vai pegar vocês. - Imito uma mãe. - Minha mãe vivia botando medo em mim com isso. - Rio lembrando.
- Nós também temos histórias parecidas, só que a diferença, é que nossos bichos-papões não são só histórias.
- Quando eu cresci, aprendi que os bichos- papões são na verdade os humanos.
- Feéricos não são muito melhores. - Fala sem expressão, encarando o nada. Agora com ele mais perto, posso observar o que de longe e no escuro não tinha reparado, ele não está vestindo uma camisa, seus músculos amostra, percorro meus olhos por todo seu tronco desnudo, seu abdômen definido, bicheps, peito largo, vou descendo meu olhos até o cós da calça do pijama, paro, encontrando as entradas para o que minha mãe diria,  paraíso. Lucien arranha a garganta fazendo com que eu levante o rosto rapidamente, meu rosto formigando e com certeza enrubecido de vergonha por ter sido pega olhando para seu corpo descaradamente. Estou pronta para pedir desculpa quando encontro com seus olhos, seu olhar é tão quente e intenso que eu sinto que posso derreter sobre ele. Ele passa a língua pelos lábios, engolindo em  seco, acompanho o movimento. 
- Me permite lhe distrair?


* Boa noite gente, tudo bem?

* Comentem, amo ler os comentários 💜💜💜

 

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