Vinte e Quatro: Conversas

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– Olha só, quem deu o ar da graça.

Meu pai tinha deboche e ironia na voz. Tenho certeza que possuo bolsas arroxeadas sob os olhos, pois não dormi um minuto sequer ontem. Fiquei obcecada em checar a respiração de Bakugou a cada 30 minutos, nervosa pelo sono profundo dele. O loiro ainda seguia dormindo quando Shouto veio até o quarto para chamar-me, avisando que estava na hora de ir para casa. O meio platinado ainda estava um pouco estranho comigo, mas nada como da última vez. Conversamos normal, rimos, porém, havia aquele toque, no fundinho do meu peito, dizendo que ele estava triste.

Eu sei que havia prometido não esconder mais nada dele e acredito que esse tenha sido o problema. Já combinamos de sairmos para tomar uma café hoje a tarde, pois preciso muito conversar com ele. Até lá, tenho outros leões para matar na minha própria casa. Dou um sorriso pequeno para os meus pais, que trocam olhares e risos um com o outro. Pelo menos estão de bem novamente, mesmo que eu tenha sumido ontem. Talvez, se soubessem a verdade, teriam voltado a estaca zero.

– Uma hora eu precisava voltar... – Dou de ombros.

– Então, algo para nos contar? – Minha mãe estava sentada no sofá, com uma caneca de café nas mãos. O vapor embaçava seus óculos e dava um ar fofo a ela.

– Não.

– Como assim não?? – Meu pai parecia indignado.

– Você sabe que as vezes demora. – Mamãe diz, risonha.

– Mais do que já demorou? – Ele ergue uma sobrancelha, confuso.

– Ele não vai me pedir em namoro, se é o que vocês estão pensando.

Sirvo-me uma caneca de café também e vou sentar na sala, junto a eles. Fico na poltrona de frente para o sofá, com uma perna pendendo sobre a que está dobrada. Aqueço minhas mãos, enquanto olho para o teto. Meus pais ficam em silêncio por um tempo, aguardando maiores explicações. Afinal de contas, segundo o que sabem, eu dormi na casa de Shouto depois de sair com ele, por horas

– Isso é algum tipo de namoro moderno? – Meu pai pergunta.

– Eu... não gosto dele dessa forma.

Sinto que estou desabafando. Foi difícil, mas um alívio grande. Baixo os olhos para encará-los e posso ver um pequeno sorriso nos lábios da minha mãe. Meu pai, por outro lado, tinha uma careta. Ele abre a boca para falar, mas ele a fecha várias vezes. Parece que gostaria de falar algo, mas sempre repensava.

– Então... foi isso que vocês conversaram ontem? – Mamãe larga a caneca sobre o descanso de copos, na mesa de centro.

– É, mais ou menos. – Suspiro – Vou sair com ele hoje a tarde, se deixarem. 

– Para quem não gosta do garoto, vocês passam bastante tempo juntos. – Claro que Hayato estaria desconfiado.

– Eu o amo, mas como amigo. Conheço o Shouto desde que eu nasci, graças a vocês. É claro que nos tornamos amigos de verdade bem mais tarde e depois fui morar com os Todoroki. Consideramos que somos amigos há 10 anos, sabiam? – Dou um riso curto – Eu amo estar com ele e fazer coisas juntos. Eu só... não o amo, sabe? – Encaro a parede, nervosa com o assunto que eu mesma trouxe – E me sinto culpada por isso.

– Ah, filha... – Minha mãe levanta e vem até mim, ajoelhando-se no chão para poder me abraçar. – Não se culpe, você não escolhe esse tipo de coisa.

– Ele sabe disso? – Meu pai pergunta, sério.

– Sabe. – Suspiro.

– Aquela vez em que vocês brigaram, foi por isso? – A memória do meu pai é boa mesmo, ein?

𝐛𝐫𝐢𝐧𝐜𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐜𝐨𝐦 𝐟𝐨𝐠𝐨 • katsuki bakugouOnde histórias criam vida. Descubra agora