Rose
Acolho minha mãezinha que chora sem parar abraça a mim, faço carinho em seus cabelos grisalhos, sentindo meu rosto molhado pelas lágrimas.
Apesar de tudo ele era o nosso pai, eu nem tive tempo para me despedir, para pedir perdão, ou para tentar entender porque ele nos odiava tanto, a dor de perder alguém dilacera nosso coração, machuca a alma, e deixa um vazio enorme em meu peito.
Não aprovo e muito menos iria aceitar ele batendo na minha mãe, que o amou tanto, que cuidou dele, de mim e da minha irmã com todo o amor e carinho do mundo, esteve com ele em todos os momentos seja bons ou ruim, aguentou calada muita merda vindo dele, e mesmo assim chora lamentando a morte do Homem, que ela ama.
O sol quente bate contro nossa pele, acompanhando o cortejo, de no máximo dez pessoas, ele só tinha nos como família, e alguns bêbados como amigos, os coveiros levam o Caixão lacrado mais a frente.
Eu nem o rosto dele pela última vez eu pude ver, mais pelo oque minha mãe falou ele ficou destruído, com o rosto todo deformado, teve um corte grande na cabeça, o Bagulhão matou o meu pai de tanto bater, sem dó e nem piedade, ele bateu até não existir mais vida.
Me pergunto como pode existe um homem sem um pingo de piedade como ele, oque será que ele carrega no lugar do coração, oque se passava na cabeça dele enquanto ele batia, no meu pai.
Tenho pena da minha irmã, que infelizmente quis se envolver com ele, mas não acho que ela seja a responsável pela morte do nosso pai, o único responsável por esse desgraça toda é o Bagulhão.
Ele que destruiu nossa família, o Pastor da igreja que minha mãe frequenta começa a fazer uma oração para a alma do meu pai, conforme o Caixão vai descendo na cova o desespero da minha mãe aumenta.
Não a quem não se comova, com o choro dela, que se joga em cima do Caixão clamando a Deus, ele podia ter os erros que fosse, mais não merecia ter a vida ceifada assim, de forma tão monstruosa.
Seguro minha mãe e jogo as flores brancas em cima do Caixão, o coveiro começa a jogar terra, e as poucas pessoas que vieram começam a ir embora, quando o coveiro termina de fechar a cova, resta somente eu e minha mãe.
Sentadas ao lado do túmulo em silêncio, mas compartilhando do mesmo sentimento, penso na minha irmã, ela vai ficar desolada quando souber, pelo muito que conheço ela, posso garantir que ela vai se culpar.
Nem sei se ela já conseguiu chegar na casa da minha Avó, tudo aconteceu tão rápido, não teve velório, os meninos da boca que pagaram tudo do enterro, tô me sentindo perdida, descolada, a única coisa que sei é que agora eu preciso ser forte, pela minha mãe e pela minha irmã.
Limpo meu rosto e Abraço minha mãe escutando ela chorar baixinho, pego meu celular bolso e olho as horas, daqui a pouco começa a escurecer precisamos ir pra casa, passamos o dia inteiro aqui sem comer.
- Mãe, vamos pra casa. - chamo ela que nega, sem levantar o rosto. - Porfavor mãe, já vai escurecer, a senhora precisa comer.
Dulce: Me deixa aqui filha. - pede num sussurro. - Eu quero morrer com ele.
- Não fala isso, sem a senhora eu não sou nada. - beijo os cabelos dela abraçando seu corpo apertado. - Vamos mãe.
Ajudo ela a se levantar e saímos abracas do cemitério, o uber que pedi nos espera do lado de fora, ele segue o caminho da comunidade que não fica muito distante daqui, vou olhando as pessoas passando pela janela.
Não demora muito o uber para na entrada da comunidade, Subimos devagar chamando a atenção de todo mundo que nos vê, uns nos olham com pena outros julgam, criticam.
Entro em casa sentindo o cheiro de sangue impregnado aqui ainda, quando sai eu lavei tudo o chão, joguei produtos mais o cheiro não sai da nossa sala, me da até uma angústia no peito, sabendo que ele morreu aqui dentro, bem no chão da nossa sala.
Minha mãe pedi para ficar um tempo sozinha e vai para o guarto chorando, sei que agora vai ser barra para ela, o luto e a saudade nunca vai passar, mais com o tempo vamos nos acostumar, ultimamente ele não está sendo presente e só fazia merda.
Tiro minha roupa e vou tomar um banho para tirar a terra do cemitério do corpo, eu não paro de pensar na minha irmã, vou até ligar para minha avó pra saber se ela já chegou, preciso contar a ela oque aconteceu.
Fecho os olhos deixam a água me lavar, não tenho muitas recomendações do meu pai, porque ele nunca foi presente ou carinhoso, as lembranças que tenho de criança, são a maioria dele chegando bebedo em casa, Ou Brigando e gritando com minha mãe.
Mais é inevitável não sentir a dor de sua morte, querendo ou não ele era o meu Pai, tínhamos o mesmo sangue, convivi minha vida inteira com ele, o vazio da presença dele, incomoda.
Saio do banheiro enrolada na toalha, e abro a porta do guarto da minha mãe devagar, vejo tudo escuro e o corpo dela deitado na cama, fecho a porta novamente, deixando ela sozinha, mas vou ficar sempre de olho, o momento é delicado foram décadas casados, tenho medo dela tentar fazer alguma besteira.
Olho as roupas da minha irmã tudo bagunçando, a cama revirada, visto um Pijama e pego meu celular para ligar pra minha avó, estou com um aperto no peito, a Re não sai do meu pensamento.
Ligação on:
- Alô vó.
- Oi filha, aconteceu alguma coisa, Cadê a Renata?
- Como assim vó? Ela não chegou aí?
- Não a última vez que falei com ela, foi quando comprei a passagem ela estava na rodoviária.
- Eu tô preocupada vó.
- Oque tá acontecendo minha filha.
- Depois eu te explico, vou ligar pra ela.Ligação off.
Disco rápido o número da minha irmã, mas da desligado, me deixando mais apreensiva ainda, ligo várias vezes seguidas e tudo vai direto pra caixa de mensagem, começo a ficar com medo dele ter encontrado ela.
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Mil Pedaços (CONCLUÍDA)
Teen Fiction*- Primeiro Livro Trilogia III Pilares -* Renata e uma jovem cheia de sonhos e planos, mas vê sua vida virar de cabeça para baixo depois que se Muda para a Maré e Conhece Bagulhão. Bagulhão Dono da comunidade da Maré, Bandido respeitado e mulhereng...