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Renata

Dandão me deixou em um ponto de taxi perto da comunidade, ele não podia ficar muito tempo fora, para ninguém desconfiar dele, sei que pode até parecer egoísmos da minha parte, arriscar a vida dele assim, mas essa era minha oportunidade.

Eu não posso ficar de braços cruzados, deixando ele brincar comigo assim, durante a noite beija meu corpo todo, mas quando amanhece só me machuca, eu não quero viver assim.

As lágrimas molham meu rosto enquanto o taxista me leva ate a Rodoviária onde vou pegar um ônibus para a casa da minha Avó, me sinto usada, violada, nem nos meu piores pesadelos imaginei viver isso.

Logo eu que sempre foi tão confiante, tão segura, tinha mil sonhos e planos, agora nem sei oque pensar, não sei oque fazer, como vou recomeçar, eu pedi tanto a Deus para o Rio de Janeiro Mudar minha vida, e realmente mudou só que pra pior.

Nunca fui de me arrepender de nada, sempre vivi intensamente, mas hoje carrego comigo o arrependimento de ter conhecido o Bagulhão, me arrependo tanto de ter me entregado a ele sem pensar, até agora não consigo entender o porquê de tudo isso.

Eu rejeitei vários meninos bacanas, que queriam namorar comigo, para me entregar para a pior pessoa que cruza meu caminho, fui boba e inocente, cai como uma pata na lábia e na luxúria que ele exala.

De certa forma eu achava que sabia como a Favela funcionava, mas a realidade é sempre pior, eu precisei viver, precisei sentir na pele para entender como são as coisas, embaixo daquela hierarquia.

Para uma menina de quinze anos, recém chegada já era de se esperar, eu ficar deslumbrada, curiosa, com tudo, deixei me levar, pela primeira pessoa que me fez sentir prazer de verdade.
Mas eu não vou deixar ele fazer oque quiser de mim, eu não nasci para ter dono, vou reconstruir minha vida bem longe dele, custe oque custar.

O taxista para na frente da Rodoviária, pego o dinheiro de dentro da mochila e pago a corrida, atravesso a rua entrando na rodoviária de cabeça baixa, ando até o guiche de atendimento.

- Bom dia, que horas sai o próximo ônibus para Campos?. - pergunto me encostando no vidro.

- As 10 hrs. - olho para o relógio na parede que marca ser 8:30 da manhã, vai demorar muito, corro o risco dele me achar até o ônibus sair.

- Quero uma. - ela me pede meus documentos, pego minha identidade entregando a ela. - Quantos que é a passagem?

- Você é de menor, só pode viajar na presença de um responsável. - tudo que imaginei vai por agua a baixo, quando ela termina de falar e me entrega minha identidade.

- Moça pelo amor de Deus, eu preciso ir pra campos, e questão de vida ou morte. - falo juntando as mãos e o desespero começa a me bater. - Eu vou morrer se ficar aqui, estou sendo ameaçada.

- Sinto muito. - Fala negando e pede para mim dar licença, olho para a fila de pessoas atrás de mim.

Oque eu faço agora, como vou embora, olho a minha volta, e vou em direção ao banheiro, acho perigoso ficar lá fora, não sei se ele vai vim atrás de mim, ou vai mandar alguém, me sento no chão  começo a chorar, eu deveria ter morrido quando ele me bateu assim pouparia tanto sofrimento.

Pego meu celular de dentro da mochila e fico num impasse se ligo ou não, o Dandão me mandou desligar, para não correr o risco dele me rastrear, mas eu preciso ir embora de alguém jeito.

Ligo o celular com as mãos trêmulas, respiro rápido com medo, as notificações começam a chegar, disco o número da minha Avó, que me atende no primeiro toque.

Ligação on:

- Vó.
- Graças a Deus minha filha, eu estava tão preocupada.
- Vó me escuta, eu não posso viajar porque sou de menor, não consigo comprar a passagem.
- Calma aí minha filha, a vó consegue resolver isso, vou ligar na Rodoviária daqui, tenho uma conhecida que trabalhar lá.
- Tambom, me liga quando conseguir o ônibus sai 10 hrs.
- Você está aonde?
- Aqui na Rodoviária, tô escondida dentro do banheiro.
- Cuidado minha menina, a vó já te liga.

Ligação off.

Guardo o celular denovo na mochila, e faço uma oração baixinho, sinto um aperto tão grande no peito, e um calafrio sobe por minhas costas fazendo minha pele se arrepiar, tudo começa a girar, me deixando tonta.

Me levanto e jogo uma água no rosto, olho pelo escolho a camiseta dele, cobrindo a metade do meu corpo, o cheiro do perfume grudado na camiseta, me faz relembrar da língua dele me chupando como se dependese da minha buceta para viver.

Juntos com as lembranças da nossa química na cama, vem ele me agredindo, despejando todo seu ódio em mim, escuto um Barulho na porta e me assusto colocando a mão na boca.

Uma menina entra pela porta empurrando uma mala de viajem rosa, ela me vê parada e sorri, entrando em uma das cabines, enchugo minhas mãos e volto a me sentar no chão.

- Você está bem?. - ela me pergunta, e vai ate a pia lavar as mãos. - Está precisando de ajuda. - pergunta preocupada. - Quer que eu chamo alguém?

Volto a chorar, e escuto meu celular tocar dentro da mochila, pego ele rápido atendendo minha vó.

Ligação on:

- Consegui minha filha, pode ir retirar a passagem.
- Tabom vó, muito obrigada, te amo.
- Vovó amo você filha, estou te esperando, fiz aquele bolo que você gosta, se cuida.
- daqui a pouco eu chego, beijo vó.

Ligação off.

- Você pode sim me ajudar. - falo vendo ela virar as costas para sair, me levanto do chão arrumando a camiseta no corpo. - Pode pegar uma passagem pra mim no guiche, já está comprando, e só retirar.

- E porque você não faz isso?

- Sou de menor, porfavor moça, você perguntou se podia me ajudar. - ela concorda e pergunta meu nome e a cidade para onde vou, manda eu esperar e vira as costas saindo do banheiro. - Vai dar tudo certo.

Falo pra mim mesma, e desligo meu celular guardando ele na mochila denovo, os próximos minutos que se passam são comigo apreensiva, andando de um lado pro outro no banheiro, até ela voltar com a passagem nas mãos.

Agradeço a ela e pergunto as horas, ela me informa que são 9 hrs, se despedi rápido porque o ônibus dela já chegou, fico sentada no chão esperando a hora passar, meu estômago começa a roncar de fome, acabou que não jantei ontem e não comi nada até agora, fico com medo de passar mal na viajem e decido sair pra comprar um salgado.

Coloco a mochila nas costas e fico na porta, olhando todos dentro da rodoviária, não vejo ninguém suspeito, ando de cabeça baixa até a lanchonete onde peço um misto quente e um suco a atendente.

Meu coração bate acelerado no peito, respiro rápido, sentindo como se estivesse sendo observada e minha pele se arrepia, uma onda de medo se instala sobre meu corpo, decido desistir do lanche e voltar para dentro do banheiro com medo.

Antes de passar pela porta, sinto puxarem meu cabelo, e a voz dele sussurra baixo contra meu ouvido.

- Achou mesmo que ia conseguir fugir de Mim Puta?

Mil Pedaços (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora