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Dandão

Termino meu banho e enrolo minha toalha na cintura, saio do banheiro e me jogo na cama, porra tô cansadão, tirar dois meses de plantão não é fácil não, se eu conseguia duas horas de sono e muito, mas graças à Deus, hoje foi meu último plantão na disciplina.

Agora vou trampar meu horário normal, voltar a dormi tranquilo comer bem, outra coisa que não tava fazendo, porque não dava tempo, tava puxando 24 hrs nativa, sem dar bobeira.

Sinto meu celular vibrando em baixo de mim, e começo a procurar ele pela cama, olho para o número diferente me ligando, vou atender porra nenhuma, vai que é a policia.

A ligação cai, e logo seja uma mensagem desse número, olho a foto de perfil, reconhecendo a irmã da Renatinha, Já pergunto como ela tá, tava preocupado pra caralho, com essa doida, no dia que ela fugiu, o Patrão veio todo na ignorância pro meu Lado, nunca tinha visto ele daquele jeito, matou o pai da menina na porrada.

Ela me responde dizendo que o Bagulhão achou a Renata, mas isso eu já sabia, na verdade acho que a Favela inteira também sabe, já que está geral comentando que ela vai ser a próxima a morrer na mão dele.

Me da um aperto um aperto no peito só de pensar isso, fico com dó dela, acabou de chegar na comunidade, ainda não entende como funciona as coisas aqui, e já foi parar logo na mão do chefe, e ele pelo jeito, está fazendo questão de não facilitar pro lado dela.

Infelizmente essa é a realidade, a partir do momento que um bandido pega a mina pra ele já era, não tem pra onde correr, fico com pena porque ela é nova pra caralho, cheia de sonhos, doida pra conhecer o mundo, vai viver pra sempre presa a um Bandido.

Respondo a Rose e coloco meu celular pra carregar, aumento a temperatura do ar e fecho o olho me entregando ao sono que tô desejando a dias.

(...)

Acordo com uma fome, parece que estou a anos sem comer, barriga doendo e roncando, visto cueca e pego uma bermuda de dentro do guarda roupa, jogo um perfume no corpo e passo a bandeirola nas costas.

Saio de casa guiando pra Bar do Seu Tião, hoje e dia de feijoada, só de pensar minha boca já enche de água, chego no Bar vendo quase vazio, só tem uns velhos bebendo e jogando baralho.

Peço um PF pro velho, e me sento pra esperar, logo ele trás aquele pratão caprichado, e uma Coca litro, começo a comer na apetite, quando já estou quase acabando, vejo O Patrão entrando, atrás dele vem o Muralha e o Fefe.

Ele passa reto para falar com o velho e os manos vem sentar na minha mesa, depois da disciplina que tomei, fiquei mais na minha, passei dois meses de plantão não tinha tempo pra nada.

Muralha: Saiu do castigo? - Pergunta querendo fazer gracinha, mostro dedo pra ele, fazendo o Fefe rir. - Da Próxima vez passa longe da mulher do chefe.

Ignoro ele voltando a comer, não vou da bola pras provocações, senão vou acabar perdendo a razão, o cara não sabe de porra nenhuma e quer tirar onda, só porque e braço direito do chefe, mas nada tira da minha cabeça que ele só está esperando a primeira oportunidade pra tomar o Poder.

Bagulhão: Fala meu filho, Nativa. - escuto ele falar e dar um tapinha nas minhas costas, graças a Deus que os machucados já estão tudo cicatrizado, senão ia doer pra caralho.

- Nativa Patrão. - falo vendo ele se sentar na minha frente, e encher o copo de vidro com cerveja, ele bate a garrafa na mesa me encarando.

Bagulhão: Tenho uma missão pra você, depois passa lá na boca. - concordo com a cabeça, encarando ele enquanto mastigo. - Pega um cigarro lá com o velho fefe.

O mano se levanta fazendo oque ele manda, ele apoia os braços na mesa de plástico olhando bem para o meu rosto, sustento sua encarada, notando seu semblante fechado.

Bagulhão: Vou te dar o Papo Reto, se eu ti ver perto da Loirinha vou te mandar pro inferno sem pensar duas vezes, talaricagem comigo não tem vez. - engulo em seco sua ameaça, sem abaixar a cabeça.

- Nunca fui talarico, eu vejo a mina como uma irmã, ela tem 15 anos e quase uma criança.

Bagulhão: Criança é o caralho. - nego vendo ele se alterar, quem conhece ele de verdade sabe que tem sentimento entre os dois, só ele que não vê. - Na hora que tava quase fodendo no meio da rua, ela não era criança.

- Nunca aconteceu isso aí, nois se beijou sim, mas foi na emoção. -  vejo ele sorrir sem mostrar os dentes, e alterar o olhar, entre meus dois olhos, buscando a verdade. - Única coisa que eu tinha com a Renata e Amizade, considero a mina como uma irmã mais nova.

Bagulhão: Amigo de cu e Rola, eu já dei meu papo, se te chegar perto dela denovo, você vai virar amigo do Capeta. - penso em debater, mas não vai levar a lugar nenhum. - A Lorinha tá no meu Nome.

- Isso a Favela inteira já esta sabendo. - fefe volta a se sentar ao meu lado, e entrega a carteira de cigarro a ele.

Bagulhão: E bom mesmo, quero geral ciente doque e meu. - chega ser engraçado, trata a mina mal pra caralho. - Vamo nessa Muralha.

Vejo ele se levantar e virar as costas saindo, o Muralha e fefe fazem o mesmo acompanhando ele como dois cachorrinhos atrás do Dono.

Pago meu almoço e a coca, saio da bar indo pra Barreira, hoje eu tô tranquilo, mais como não tenho nada pra fazer em casa, prefiro ficar na rua, tirando onda com a gurizada, descendo a comunidade vejo os menor soltando pipa.

- Aí menor, deixa eu torar uma aí. - falo pro muleque que enrola a linha na lata.

- Não perde não tio, só tenho essa. - pego a linha da mão dele e começo a brincar com a pipa no céu.

Lembro a minha infância correndo pelas ruas de comunidade, soltando pipa, jogando bola, foi a melhor época da minha vida, tinha a minha rainha do meu lado, mal sabia eu, que hoje estaria na comissão de frente, dando meu próprio sangue pela facção.

Mil Pedaços (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora