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Renata

Acordo com o barulho da porta, abro o olho e vejo ele entrando com a cara fechada e um copo de suco na mão, sinto minha cabeça doer muito, fecho o olho tentando me acostumar com a dor, e sinto ele passar a mão no meu cabelo.

- Ooi. - abro o olho vendo ele beber o suco me encarando.

Bagulhão: Como você tá? - pergunta e levanta o lençol pra me olhar.

- Tô com dor de cabeça. - falo, e passo a língua nos lábios sentindo sede. - Me dá o suco.

Ele me entrega o copo e vai até a janela pequena, bebo o suco tentando engolir o no formado em minha garganta, sinto um aperto no peito, e meus olhos se enchem de lágrimas, eu estava grávida, com quinze anos, da pessoa que matou o meu pai, me bateu.

Sinto uma onda de choque descer por todo meu corpo, minha cabeça dói, o líquido gelado descer pela minha garganta e a porta se abre.

Por ela passa a Doutora Ana, que sorri para mim, e olha para ele logo em seguida, termino de beber o suco e ela pede meu braço para medir minha pressão.

Dr Ana: Como está se sentindo Renata? - pergunta me olhando. - Está mais calma?

- Estou bem Doutora, já posso ir embora. - Falo quando ela tira o aparelho do meu braço.

Dr Ana: Sente que já está bem para ir pra casa? - confirmo rápido. - vou assinar sua alta.

Agradeço e ela tira o acesso do soro meu braço, eu preciso ir pra casa, ficar sozinha, preciso colocar minha cabeça no lugar, está tudo uma bagunça, não sei oque, ou oque pensar.

Estou com muito medo da reação dele, quando eu contar sofre o bebê, não sei oque ele pode fazer, o vejo nesse exato momento como uma bomba relógio.
Sinto um aperto no peito, uma angústia tão grande.

A Doutora vira as costas saindo do quarto e ele olha pra mim, sinto seus olhos correndo por cada centímetro da minha pele, meu corpo dói, e se arrepia, ele anda com as mãos no bolso, até a cadeira de canto e pega uma sacola trazendo para mim.

- Obrigada. - agradeço pegando a sacola com minha roupa e firmo o corpo para levantar, ele me da a mão, me ajudando a ficar em pé.

Bagulhão: Consegue?. - confirmo sentindo cada músculo do meu corpo doer, respiro fundo e ando devagar até o banheiro.

Fecho a porta atrás de mim, e deixo as lágrimas que estava segurando caírem por meu rosto, meu peito dói, meu pensamento não sai da bebê que sonhei, eu perdi um bebê que eu nem sabia da existência, mas me dói tanto.

Me sinto culpada, por não ter descoberto antes, não ter me cuidado melhor, sinto uma revolta enorme, por maldade do ser humano, eu perdi um bebê, uma vida inocente, eu nem tive a oportunidade de ouvir seu coraçãozinho, sempre tive o sonho de ser mãe, mas não agora tão nova.

Escuta a voz dele do lado de fora, e ligo o chuveiro deixando a água gelada lavar até minha alma, cada respingo que cai nos meus ferimentos arde, e queima, olho para as manchas roxas e vermelhas espalhadas por todo meu corpo, o corte mais profundo foi o da coxa, que está me dificultando a andar.

Relembro todo daquela noite, meus pedidos de socorro, a risada delas enquanto me batiam, não consigo entender como o ser humano pode ser tão covarde, por isso que elas fizeram comigo foi covardia, da pior espécie.

Ele bate na porta e me pergunta se está tudo bem, respondo que sim, e desligo o chuveiro, voltando para minha realidade, onde eu preciso ser forte, para conseguir contar a ele.

Tiro meu vestido Rosa da sacola, e me visto, saio do banheiro encontrando ele, sentado na cama, com o semblante fechado e de braços cruzados.

Bagulhão: Vem cá. - Me chama, vou até ele que me abraça apertado, sinto uma sensação tão boa. - Você nunca mais vai ver nenhuma das três, entendeu? - concordo com a cabeça, não querendo sair dos seus braços. - Vamos pra casa.

Ele limpa minhas lágrimas com as mãos e me olha fundo nos olhos, sinto meu coração se acelerar, e a vontade de chorar novamente, estou tão quebrada, mais não o físico, a dor carnal não é nada comparada a que dói na Alma.

Sinto seus lábios em contato com o meu, sua língua invade minha boca mais diferente das outras vezes que o beijo vem carregado de desejo, dessa vez ele me beija com carinho e cuidado.

Me pergunto oque acontece com meu corpo, quando sinto seu toque, porque a minha única vontade nesse momento é correr, correr para bem longe dele, dessa comunidade, longe de tudo que só me machucou, mas não consigo, me sinto presa, atraída por ele como um imã, como se tudo que aconteceu fosse nada.

Saio do Hospital segurando suas mãos, todos olham pra gente, sinto vergonha e baixo a cabeça, ele para e eu olho pro carro preto cheio de furos de bala.

- Meu Deus. - falo pensando no que ele fez para vim. - Não precisava ter vindo.

Bagulhão: Eu necessitava, na hora não pensei em nada, só senti. - engulo o cúmulo de saliva que se forma, e entro no carro. - Senti uma parada louca. - fala ligando o carro e coloca ele em movimento. - Tu tá sentindo uma dor no peito também, sensação ruim.

- Estou. - falo e ele me olha rápido e nega rindo. - oque é isso?

Pergunto vendo uma caixinha preta no chão do carro, quase embaixo do meu banco, ele olha para a caixinha e sorri.

Bagulhão

Mil Pedaços (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora