Bagulhão
Escuto o Barulho de Tiro e logo atrás os fogos avisando da Invasão, abro a gaveta pegando o pente alongado da minha glock, pego também o ak de cima do sofá e abro a porta escutando a bala comer.
Esses comédias só sabe invadir durante o dia, quando tem Morador na rua, criança correndo pra lá e pra cá, depois coloca na mídia que a bala saiu do fuzil de um bandido, sendo que é eles que não respeita ninguém, mete a mão na cara de trabalhador, tudo covarde, não tem coragem de vim na madruga porque sabe que não aguenta o bonde.
Meus crias falam a todo momento na Frequência, vou descendo a comunidade atento, primeiro filho da puta todo de preto que avisto eu sento o dedo no gatilho, escutando a Ak cantar.
- Essa Porra e Tartaruga ninja e? - falo levanto o rádio a boca, escuto barulho no beco ao meu lado, e só levanto o ak na direção atirando. - Já levei 3.
- Tá fraco em Patrão, já levei mais de 10, aqui é apetite. - O fefe fala do outro lado me fazendo dar risada.
Escalo o muro subindo em cima da Laje, fico agachado só na mira, um safado sobe correndo, aperto o gatilho acertando o Tiro em sua cara, ali mesmo ele fica caído, logo chega outro mais dessa vez olhando pro alto, assito seus miolhos com sangue voar pela rua, quando acerto uma rajada dele, no mínimo deve ser pego uns 3 Tiro.
Fico nessa brincadeira divertida, pulando de Laje em Laje, por toda a comunidade, cada tiro e uma alma que mando pro inferno, escuto me chamarem no Radinho pedindo ajuda na rua de trás, me levanto com cuidado e pulo no beco que da acesso a rua onde os muleque estão.
Olho pros dois lado e sinto meu suor escorrendo por minha pele, ajeito a bandeirola e seguro o ak, dou alguns passos e o Dandão aparece na minha frente.
Minha mente diabólica já começa a me relembrar da filha da puta que estou a dias tentando esquecer, na minha visão vem ela beijando ele denovo, depois esse papo de amizade.
- Tudo se resolveria com um tiro. - falo e levanto o ak na direção dele que levanta as mãos. - Um a mais, um a menos não vai fazer diferença.
Dandão: Qual Foi patrão, tá Chapadão? - fala todo se tremendo, consigo ver o apavoro e medo estampado em sua cara. - Abaixa a arma cara, tamo junto a mó caminhada.
- Você conhece as leis da favela Dandão. - minha voz sai calma, e a bala voa a nossa volta. - Não vou criar cobra pra depois me picar.
Dandão: E só amizade mano. - fala rápido e junta a mãos, implorando pela vida. - Pelo amor de Deus.
- Amigo de Cu e Rola. - coloco o dedo no gatilho mirando bem na testa dele. - Melhor tu morrer agora doque depois.
Escuto barulho de três tiros sendo desparados, nesse momento o adrenalina corre por minhas veias como droga, o coração bate acelerado no peito, e sinto o suor escorrendo por meu rosto.
A sensação de Fraqueza, ardência, dor vem só depois quando meu corpo já está próximo ao chão, meu ak cai de lado ecoando o barulho, tudo parece ficar em silêncio e minha visão fica turva, viro a cabeça olhando o corpo caído atrás de mim, na entrada do beco.
Dandão: Não dorme cara. - escuto ele falar la no fundo e minhas pálpebras se fecham por conta própria. - Acorda Patrão, acorda.
- Seu filho da puta. - falo e o gosto de sangue invade minha boca, escuto a frequência do rádio no fundo, e sinto vontade de vomitar, mas acabo sufocando com meu próprio sangue.
Sinto ele me pegar pelos braços e me colocando encostado na parede, nessa hora sinto uma dor insuportável e acabo me engasgando denovo, Tudo fica preto, e começo peder os sentidos, tudo fica em silêncio, e o cheiro de sangue é é única coisa que entra por minhas narinas, meus músculos relaxam, mas sinto me carregarem.
Olho para o campo limpo na minha frente e corro impinando a pipa, escuto a risada do meu pai, e corro para mais longe ainda, minha pipa voa alto, se destacando no meio do céu azul, olho para toda a comunidade abaixo de nós, e sinto as mãos dele no meu ombro.
- Você é o Herdeiro de tudo isso, um dia serão todos sua responsabilidade, mas lembre-se o respeito e conquistado, seu povo precisa estar do se lado, não contra você. ‐ olho pra ele sorrindo, meu pai e o meu herói, um dia quero ser igual a ele. - Esta na hora de voltar Rogério, já está ficando tarde, e você precisa conhecer um sentimento novo.
- Qual sentimento?. - pergunto curioso, escuto um Barulho irritante e fica cada vez mais alto, sinto uma forte pressão não cabeça e grito mais não escuto som, o barulho só aumenta, e sinto uma onda de choque correr pelo meu corpo.
De longe vejo meu pai acenando com as mãos, outro choque atinge meu corpo, denovo sinto a mesma sensação mais não consigo me mexer, outro choque, e vejo uma menina correndo ao meu redor, cabelo preto e lisinho com laço vermelho, seu rosto me parece familiar.
Outra descarga elétrica, dessa vez consigo abrir o olho mais fecho imediatamente, escuto conversarem no meu lado, e o barulho irritando para, sinto colocarem um acesso no meu nariz me ajudando a respirar melhor.
Tento abrir os olhos novamente mais minha pálpebras parecem pesar uma tonelada, mexo meu pé, e os dedos das mãos, sinto meu corpo exausto, com muita dor tento me ajeitar.
Acabo de entregando ao sonho na tentativa de sonhar com meu coroa de novo, ou quem sabe até aquela menina que mais se parecia um anjo.
Mas a única coisa que passa na minha mente é só morte e destruição, os barulhos de tiro são a trilha sonora dos meus piores pesadelos, o corpo do meu coroa caindo sem viva na minha frente revive várias e várias vezes, me pego pensando se existe um sentido para eu ter sobrevivido aquele assalto.
Perdi minha única família, a única pessoa que ficaria ao meu lado mesmo eu estando no fundo do poço, sem a única forma de amor e carinho que recebi, sem ele me tornei, um homem oco por dentro, não sei amar, não sei ser educado, não sei ser gentil, não me importo com os sentimentos de ninguém, porque um dia não se importaram com o meu.
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Mil Pedaços (CONCLUÍDA)
Fiksi Remaja*- Primeiro Livro Trilogia III Pilares -* Renata e uma jovem cheia de sonhos e planos, mas vê sua vida virar de cabeça para baixo depois que se Muda para a Maré e Conhece Bagulhão. Bagulhão Dono da comunidade da Maré, Bandido respeitado e mulhereng...