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Renata

Termino de fazer meu cabelo e vejo pela porta de vidro que já está escuro lá fora, passei a tarde toda aqui no salão, aproveitei esse tempo para dar uma organizada na minha mente, decidi fazer algumas coisas depois do meu aniversário.

Meu celular descarregou a uns 40 minutos atrás, a última vez que entrei no WhatsApp tinha mais de dez mensagens do Rogério sem visualizar, pago a Valquíria e saio do espaço me despedindo das meninas, assim que eu coloco o pé na rua começa a chover.

No mesmo instante vejo o carro preto parando na minha frente, tem horas que ele até serve pra alguma coisa, entro no banco de trás e ele vira o corpo para me olhar.

Bagulhão: Não sou teu motorista, vem pra frente. - ignoro ele que desliga o carro, filho da puta, olho para as meninas na porta do salão tudo olhando. - Só vou sair daqui quando você sentar aqui do meu lado.

Até penso em mandar ele ir tomar no cu e ir ape, mais não vou estragar meu cabelo nessa chuva, atravesso os bancos e ele bate na minha bunda.

- Não me encosta. - falo olhando para ele, que me encara rindo de canto. - Na verdade nem fala comigo.

Bagulhão: Caralho maluca, ainda tá nessa neurose toda. - liga o carro saindo de frente do salão. - Tá batendo cabeça Atoa.

- Vai tomar no cu Rogério. - xingo ele é viro a cara, olhando a comunidade pelo vidro do carro, vejo ele fazer um caminho diferente e já estranho, depois da morte da Luana, tô desconfiada de tudo, principalmente desse homem e louco. - Quero ir pra casa.

Ele fica quieto, subindo a comunidade, nunca passei por aqui, aos poucos as casas vão diminuindo e caímos na estrada de chão, meu coração já acelera, e a primeira reação que tenho é puxar o freio de mão, fazendo o carro derrapar.

- Me leva pra casa, agora. - falo olhando para ele séria.

Bagulhão: Tá com medo de morrer? - Pergunta olhando em meus olhos.

- Me leva pra casa. - Repito e vejo ele desviar o olhar para minha boca. - Tô falando com Você Rogério.

Bagulhão: Não vou te matar não porra, bem que tu anda merecendo um pega leve. - Bato no braço dele, que segura minha mão. - Começa não caralho, tamo indo buscar seu presente.

- Você me falou que ia dar só semana que vem. - vejo ele sorrir, e abaixar o freio de Mão colocando o carro em movimento novamente. - Cadê teu carregador?

Ele aponta pro porta luvas, Abro e logo de cara já vejo a arma, e vários Malote de dinheiro, olho para ele que sorri me olhando de canto, sinto meu coração ainda mais acelerado, e pego o carregador, conecto no som e no meu celular, que logo acende a tela.

Mais a frente avisto uma casinha de madeira, no meio do mato, ele desliga o carro, mais deixa o farol ligado e desce, vejo ele comprimentando um cara alto de com uma barba enorme, e olha na direção do carro esperando eu descer.

Abro a porta sentindo a garoa fina cair, ele me olha sorrindo e o cara sai andando, me aproximo dele que me estuda dos pés a cabeça, paro ao seu lado sentindo seu perfume, o cara volta com uma PCX branca.

Olho para a moto sentindo meu coração acelerado, e inevitável não sorrir, a moto é linda, olho para ele que me estende a chave, pego rápido da mão dele e vou até a moto a olhando de pertinho, ela é perfeita.

Bagulhão: Não é pra pilotar iqual louca. - fala me olhando, e vejo seu sorriso sincero, algo que é raro de se ver. - O Mano vai levar ela.

- Não. - falo e ele fecha a cara. - A moto é minha, o Presente e meu não é?

Bagulhão: Não discute cara. - Passo a língua nos lábios ligando a moto. - Renata.

- Desculpa moço. - falo subindo nela e acelero, deixando eles para atrás, ainda escuto ele me xingando.

Caraca que felicidade, não imaginei que ele iria me dar uma moto, eu pedi tanto para ele me ensinar a pilotar, mas a XRE é enorme, e pesada eu não conseguia pilotar sem ele para me ajudar, agora de PCX ninguém me segura, vou dar altos perdidos, e o principal vou conseguir sair da favela sem segurança.

Olho pelo retrovisor ele me seguindo, acelero mais, e vejo a poeira subir, merda meu cabelo, logo vejo o asfalto da comunidade, desacelero a moto descendo as Ruas devagar, e logo ele me alcança.

Bagulhão: Eu vou te Matar sua filha da puta. - abaixa o vidro para me xingar.

- Obrigada pelo presente. - falo e acelero a moto deixando ele para trás denovo, pego o caminho de casa e vejo ele me seguindo, entro no beco e olho para trás vendo ele parar na entrada e dar ré. - Otario.

Vou dar uma passada na pracinha, só para curti um pouquinho mais minha branca de neve, esse vai ser o nome dela, porque é toda branquinha, piloto entre os becos para ele não me achar.

Atravesso a principal entrando no beco que da na Praça, que por sinal está lotada, jogo meu muco ao vento e piloto  devagar, vejo as pessoas me olhando e as monas já começam a cochichar, dou a volta na praça, e volto pelo mesmo beco.

Tenho que confessar que amei meu presente, estou radiante e apaixonada, porém isso não apaga nada doque ele fez, continuo Bolada e assim vou ficar, enquanto viver com ele.

Eu sei que ele me enche de presente porque ele gosta, o próprio já me disse isso, mas quando ele faz merda exagera, então sempre que ele está muito manso, cheio de lovizinho eu já sei que a merda está feita.

Com o tempo aprendei, a sobreviver a minha situação, aprendi a ser mulher de Bandido, e infelizmente a realidade não é essa que encanta as mulheres, só quem sabe como é difícil, e quem já passou, eu apanhei dele, apanhei por causa dele, apanhei por ele, apanhei em troca dele, e mesmo assim ele continua vacilando comigo.

E eu tenho que simplesmente aceitar, porque não tem oque fazer, não consigo fugir porque ele vai atrás, matar eu já tentei várias vezes, mas eu só vou conseguir sair dessa relação quando ele quiser, por isso aprendi a ser fria, a me blindar.
Se ele sabe ser ruim eu também sei.

Mil Pedaços (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora