Algumas horas antes...
Ainda era cedo, eu estava no bar perto da escola de Mari encarando um copo de vodca, eu havia pedido uma dose, mas por algum motivo eu não conseguia beber.
—Droga!
Eu não podia beber, eu ia encontrar minha filha hoje. Mas eu tinha que beber. Eu não colocava uma gota de álcool desde o dia em que agarrei a Eloá, eu estava maluco, eu nunca tinha chegado a esse ponto, eu realmente achei que... eu não sei o que eu achei, a verdade é que eu nem me lembrava direito como cheguei na casa dela.
—Tira essa droga daqui! — empurrei o copo e o barman me olhou com cara feia — me dá uma garrafa de água, por favor, com gás.
Ele jogou e eu a peguei e bebi um gole deixando a água gelada descer pela minha garganta. Ficar sem álcool era uma droga me fazia ter consciência de todas as merdas que eu tinha feito, eu queria que a dor de perder minha família passasse, a dor de eu ter feito merda passasse, e a água não ajudava em nada.
Eu não conseguia me perdoar, e Eloá não ia me perdoar, eu tinha que falar com ela. Um dia desses eu fui até seu trabalho e acabei descobrindo onde ela e minha filha moravam, eu podia ir lá e perguntar se podíamos voltar a ser uma família, eu a amava tanto, eu faria tudo por ela.
Não custava nada tentar. Joguei o dinheiro no balcão e fui em direção a casa dela, era bem perto dali.
Enquanto andava na calçada eu relembrei de todos nossos momentos juntos, foram bons, foram felizes até que a obsessão dela pelo Theo acabou com tudo, eu tinha raiva daquele cara, ELE ACABOU COM NOSSO CASAMENTO, ou melhor, o fantasma dele, mesmo ele não estando por perto, era como se ele sempre estivesse lá a cada olhar, a cada sorriso de Eloá, era como se ela pertencesse a ele.
Quando percebi eu já estava bem de frente a enorme porta de madeira da casa, esse bairro era um bom bairro, as casas não tinham muros, no estilo americanizado, eu achava uma burrice afinal estamos no Brasil, mas ainda sim era um bairro seguro.
Respirei fundo tomando coragem para bater na porta. Esperei algum tempo e um homem alto de terno me atendeu, eu reconhecia ele de alguma forma, quando ele me encarou seu rosto tomou uma feição estranha como se estivesse confuso.
—Quem é você e o que faz aqui? Eu quero falar com a Eloá — exigi e o empurrei invadindo sua casa
—Você está maluco? Quem é você pra entrar na casa dos outros assim? Ela não está. — ele se pôs na minha frente me impedindo de avançar ainda mais na casa e quando ficamos cara a cara, eu percebi
—EU NÃO ACREDITO! — dei um passo para trás para olha-lo melhor e era ele, era aquele nerd estúpido— NERD ESTÚPIDO!
Seus olhos viraram duas fogueiras, o que me fez rir da cara dele, ele ainda me odiava
—Jonathan! —ele respirou fundo e continuou parado com uma feição estranha
—O QUE TA FAZENDO AQUI? — eu o empurrei e ele deu dois passos pra trás — Você tá com ela eu devia saber que aquela vadia ia correr pra você assim que soubesse que você estava aqui!
Ele colocou as mãos na gola da minha camisa e me puxou até ele me sacudindo me deixando atordoado, quando foi que esse cara ficou corajoso?
—Lava a sua boca pra falar dela! — ele me empurrou e eu o encarei
— Eu falo do jeito que eu quiser — eu fui pra cima dele e soquei a sua cara, meu soco o atingiu em cheio o fazendo cambalear — Eu te odeio, você acabou com meu casamento — eu gritei e novamente dei um soco nele, que fez com que sua boca se cortasse, eu vi o sangue daquele idiota jorrar e era o que eu queria, que ele sofresse como eu havia sofrido por culpa dele
Ele me segurou novamente e me empurrou contra a parede fazendo com que minhas costas batessem com força na mesmas me fazendo perder o ar
—PARA JONATHAN! — ele gritou — VOCÊ ACABOU COM SEU CASAMENTO, NÃO EU! — as palavras dele foram até minha mente me deixando parado — ele me empurrou novamente e meu corpo bateu mais uma vez contra a parede, agora eu estava sem reação — Você destruiu minha vida, me ferrou, mas a sua vida, você mesmo destruiu! Você teve sua chance — ele gritava me encarando e eu via raiva jorrar de suas palavras — TEVE SUA CHANCE, DE RECONQUISTAR A ELOÁ, DE FAZER TUDO POR ELA E VOCÊ NÃO FEZ, VOCÊ NÃO APROVEITOU, VOCÊ TEVE 12 ANOS JONATHAN, 12 ANOS
Ele me soltou e se afastou eu o encarei e franzi o cenho tentando digerir aquelas palavras
—Você teve 12 anos, com o amor da minha vida! Você teve 12 anos, pra fazer ela te amar, você teve uma filha com ela, você não vê? Que você mesmo acabou com tudo? E você não vê que teve tempo suficiente para fazer ela voltar atrás? Se você a conhecesse como eu a conheço, e se você realmente visse o quão rara aquela mulher é, você não teria desperdiçado todos esses 12 anos.
Ele se afastou ainda mais me fazendo ficar pensativo.
—Você não tem o direito de falar o que eu deveria ter feito! — eu gritei
—VOCÊ É UM BURRO! Ela sempre esteve com você, e se eu tivesse a metade desses anos que você teve, eu a teria feito a mulher mais feliz do mundo, eu a teria mostrado que poderíamos ser felizes, mas que droga você fez? Me diz? Você tentou abusar dela, e eu só não te mato agora porque ela nunca mais olharia na minha cara, porque ela é boa demais — ele se aproximou e apontou e o dedo em meu rosto — Ela é boa demais pra você, pra nós dois. A diferença é que eu vejo isso, e você demorou demais.
—Ela tem que ficar comigo temos uma filha, somos uma família, eu a amo!
—CALA A BOCA SEU BABACA! Você acabou com o que você chama de família quando resolveu brigar pela guarda da sua filha com ela, você não vê que não merece ela?
Ele não podia ficar falando aquelas coisas, era mentira, eu não tinha ferrado com tudo tinha? Eu avancei nele e antes que eu o alcançasse ele deu um passo pra trás e novamente me segurou pelo colarinho
—Se você quiser, nós podemos brigar aqui, e pra ser sincero eu quero muito que você escolha isso, porque eu quero muito arrebentar essa sua cara depois de tudo que você fez comigo e com ela. Mas não somos mais adolescentes, nossas atitudes têm consequências que vão cair sobre Eloá e Mari, Você diz amar Eloá e sua filha, o que você está fazendo para demonstrar isso? Quando a gente ama, a gente faz o melhor mesmo que doa, e eu só to vendo um cara egoísta de merda. Nós só temos uma vida e uma chance, e você Jonathan perdeu a sua.
Ele me empurrou e me soltou, suas palavras giraram na minha cabeça, aquele Nerd Estúpido tinha razão. Eu perdi minha chance. Eu o encarei e meus olhos arderam, eu perdi a mulher que eu amava e estava perdendo minha filha. Ele permaneceu parado olhando e eu via que ele se segurava para não vir pra cima de mim. Eu me virei olhando pro chão e saí, pior do que cheguei.
Eu não podia mais culpa-lo, tudo que aconteceu foi culpa minha, e eu finalmente enxerguei. Enxerguei que Eloá sempre tentou, e eu nunca fiz esforço eu a trai, não dei seu real valor, e saber que se Theo estivesse no meu lugar seria diferente para ela me deixou com um gosto amargo, saber que eu desperdicei 12 anos me fez querer vomitar.
O fim do meu casamento era exclusivamente culpa minha. Eu não podia mais fazer ela sofrer, eu tinha que deixá-la ir, e ser um verdadeiro pai e tentar consertar o que ainda havia conserto.
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Uma vida. Uma Chance.
RomanceTheodoro Albuquerque é um garoto tímido, introvertido e muito inteligente contrariando todo universo, é melhor amigo de Eloá Castro, sua vizinha e também a garota mais bonita da escola. Ele se considerava com sorte até ela resolver trocar sua amizad...