Testamento

1.6K 220 30
                                    

POV LUIZA:

Eu não tenho ideia do que é que minha amiga, o marido dela e o filho faziam dentro de um carro durante a madrugada. Se eles estivessem bem quietinhos dormindo em suas camas nada disso teria acontecido e agora eu estaria no máximo ouvindo minha amiga reclamando mais uma vez que o Igor precisou buscar a irmã em outro bar, mas não. Eles precisavam ir embora e me deixar responsável não por uma, mas por duas crianças, valeu amiga.

- Eu adoraria que você estivesse em melhores condições. -- Resmungo mais uma vez  -- Você é que não vai gostar nada quando estiver... Nossa, você vai ter sorte se eu não te der uma bela de uma surra, uma surra que seus pais deviam ter te dado e não fizeram.

No banco de trás Valentina nem se mexe, do mesmo jeito que eu joguei ela antes de ir pagar a conta, ela ficou. Da pra acreditar que ela gastou quase trezentos reais em um bar fim de carreira no dia do velório do irmão? Bom, pelo menos ela esperou pra fazer isso depois, ela não é uma sem noção completa, mas está quase lá.

- Ótimo, chegamos em casa e você nem se mexe. Eu devia te deixar aí, pra acordar toda dolorida, mas em respeito à você Igor... -- Olho para o teto do carro como se meu amigo estivesse grudado nele. -- Eu vou levar essa... sua irmã pra dentro.

Bato a porta do motorista com força e Valentina permanece imóvel, só falta ela ter morrido também.

Não Luiza, vira essa boca pra lá, o Benzinho não merece perder todo mundo assim.

Já está escurecendo e até agora minha vizinha não ligou pedindo pra buscar logo o Benjamin, mas isso vai acontecer bem rapidinho, ela tem pavor da ideia de cuidar de criança durante a noite, diz que eles atrapalham o sono merecido e que foi por isso que escolheu não ter filhos.

- Aí Duda, espero que você esteja transbordando orgulho de mim aí de cima, porque cara... você e seu marido me deixaram com uma bucha e tanto aqui em baixo viu. -- Volto a falar sozinha.

Não sei exatamente como, mas estou com Valentina nas costas outra vez. Os pés dela se arrastam pelo chão atrás de mim e a cabeça está pendendo para todos os lados, seguro firme seus braços em volta do meu pescoço para garantir que ela tenha só os tênis desgastados. Ela tem bastante sorte que na dança eu preciso levantar algumas pessoas vez ou outra e isso me faça dar duro na academia, caso contrário em vez dos tênis o que estaria sendo arrastado seria a bunda ou a cara dela.

Largo Valentina no sofá e corro para buscar Benjamin na vizinha.

- Ele já jantou, tá? -- Ela me averigua de cima a baixo, acho que quer ter certeza de que não fui para alguma festa ou algo assim, é uma fofoqueira.

- Muito obrigada, Dona Carmen. Precisei ajudar uma colega, por isso saí correndo. -- Solto um sorriso amarelo.

- Nossa, menina... Você anda boa de amigo em.

- Não entendi. -- Ela não vai fazer nenhum comentário babaca sobre a morte dos meus amigos, vai?!

- Não... -- Parece repensar o que vai dizer. -- Não é nada, tenha uma boa noite.

Não me dou ao trabalho de dar continuidade a conversa, pego Benjamin no colo e caminho de volta para minha casa.

- Titia!! -- Benjamin praticamente salta do meu colo e corre na direção de Valentina.

- Ah, qual é? -- Ele nem olha pra trás. -- Você podia pelo menos esconder o preferentismo.

O pequeno sacode o corpo de Valentina, mas como sua força não é nada comparada ao peso da tia, o corpo dela nem se mexe.

- Dormiu? -- Me olha procurando por uma explicação enquanto tenta levantar as pálpebras de Valentina com os dedinhos. -- A titia dormiu?

Não cara, sua favoritinha bebeu! Ela bebeu até cair, foi isso que ela fez.

O Testamento.Onde histórias criam vida. Descubra agora