A Ligação

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POV VALENTINA:

Existem noites em que a gente até tenta dormir, vira de um lado para o outro mas parece que o travesseiros tem espinhos, o colchão é duro demais ou mole demais. Hoje sem dúvidas é um desses dias. Desde que meus pais decidiram se mudar para fora do país, Igor e eu temos dado o nosso melhor para aguentar as pontas, não financeiramente, meus pais deixaram um escritório bem conhecido nas mãos de Igor e eu tenho me saído muito bem em meu estúdio, mas superar anos de traumas não acontece da noite pro dia.

Acontece que existem pessoas que simplesmente não nasceram para ser pais, acredito que seja o caso dos meus pais e suspeito que também seja o meu. Mas o Igor... nossa, o Igor nasceu pra ser pai, ele é indiscutivelmente o melhor pai que eu já vi. Eu sempre soube que ele daria um show nesse quesito, Igor sempre foi um protetor nato, cuidou mais de mim que os verdadeiros responsáveis por isso, me incentivou e me forneceu todo o suporte necessário quando comecei a fotografar e hoje suspeito que ele seja o meu maior fã, mas em pouco tempo o Benzinho vai tomar esse posto dele.

Saio da cama e vou até o banheiro para jogar uma água no rosto, estou com uma sensação ruim, o coração apertado, uma vontade esquisita de vomitar, devo ter comido algo estragado. Olho no relógio, 03:27, considerando que fiquei uns bons minutos tentando voltar a dormir depois de despertar do nada, devo estar acordada desde às 03:15, por aí. Resolvo tomar uma água e um remédio pra enjoo.

~CELULAR TOCANDO~

- Droga, quem é que liga uma hora dessas? Coisa boa não é.

Um número desconhecido me liga, não tenho o costume de atender números que não conheço, deixo chamar até cair.

~CELULAR TOCANDO~

-Mas o que? -- O número insiste na ligação.

Uma pessoa ligando errado não iria insistir, iria? Melhor de três, deixo chamar até cair outra vez, se o número tornar a ligar vou atender.

~CELULAR TOCANDO~

- Alô? -- Alguém do outro lado parece conversar com outra pessoa. -- Oi?

- Ah, Desculpe. Falo com Valentina Albuquerque nesse número?

- Anh... Sim?! -- Quem é que liga pra outra pessoa de madrugada? -- Com quem eu falo?

- Boa noite, Dona Valentina. Peço desculpas se te acordei. Eu me chamo Lorena, sou assistente social e motivo da minha ligação é porque seu número é o contato de emergência de Igor Albuquerque. -- Gelo dos pés a cabeça, contato de emergência não é bom, não é nada bom.

- Sim! Ele é meu irmão. O que a aconteceu?

- Gostaria de saber se a senhora poderia me encontrar no Hospital Copa D'Or o mais rápido possível.

- Hospital? Por que? O que aconteceu? Meu irmão tá bem?

- Infelizmente precisamos tratar desse assunto pessoalmente.

- Meu irmão está bem?

- Em quanto tempo consegue chegar?

***

Acho que minha moto nunca correu tanto, não teve nem um período do trajeto em que o ponteiro da velocidade marcou menos de 100 km/h, meu coração parece querer sair pulando por aí, estou tremendo e nem sei direito o motivo, só sinto que tem algo de muito errado acontecendo, mas desejo com todo o meu ser estar exagerando.

Largo a moto na primeira vaga que encontro e disparo para dentro do hospital, nem me atentei a tirar o capacete da cabeça, assim que atravesso a porta de entrada da recepção passeio com o olhar por todo canto, buscando por um rosto que nem mesmo conheço. Acho que lá no fundo estou implorando pra encontrar o rosto de Igor, mas nada de pessoas familiares, não reconheço ninguém.

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