Jogo das confissões

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Vamos jogar algumas verdades no ventilador?
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POV VALENTINA:

O dia está corrido pra caramba, tenho seis ensaios para fazer e ainda preciso adiantar algumas edições que devem ser entregues até o fim da semana, espero que quatro dias seja o bastante, preciso começar a pensar na possibilidade de contratar alguém pra me ajudar aqui no estúdio, as coisas estão começando a fugir do meu controle.

Luiza parece estar quase gostando de mim, é engraçado pensar em como isso me deixa aliviada, até alguns meses atrás nós duas não conseguíamos trocar mais que duas frases sem brigar, e agora estamos aqui dando um show na criação do meu sobrinho, modéstia à parte. No fim das contas meu irmão e minha cunhada sabiam mesmo o que estavam fazendo.

Meus ensaios ocorrem sem maiores problemas, quase quatro da tarde e finalmente vou poder começar a mexer com as edições, adoro essa parte.

Nem terminei de esvaziar o cartão de memória quando sinto meu celular tocando, é a minha mãe. Desde o aniversário do Igor ela vem me ligando de forma insistente, tenho recusado sempre, mas uma hora ou outra vou precisar enfrentar o capeta ou ele não vai parar de voltar pra puxar meu pé. Atendo a ligação.

- Quem incomoda?

- Onde é que você está?

- Eu tenho um trabalho, tô nele nesse momento, em quê te ajudo?

-Eu pensei que com a morte daquele ingrato do seu irmão e da interesseira da mulher dele, você ia tomar jeito, pelo menos pra conseguir sustentar o menino lá, que eu aposto que eles deixaram pra você. Mas você deve conseguir imaginar a minha desagradável surpresa ao ligar na empresa e descobrir que você pediu para fazerem um processo seletivo pra encontrarem um substituto para seu irmão, não teve nem a capacidade de cuidar disso você mesma.

- Meus Deus, eu tenho tantas coisas pra falar e tão pouca vontade de continuar em ligação com você que meu cérebro entra em combustão.

- Pra piorar, a interesseira lá deixou a parte dela pra uma amiga? Essa mulher nem dá família é e agora tem direito à parte do dinheiro, não sei quem era mais burro, você por não ter tido a capacidade de terminar a faculdade de direito ou seu irmão por se casar com a escurinha que claramente só se importava com o dinheiro dele.

- Cala sua boca, você já tem uma lista gigante de defeitos, agora vai me aparecer com racismo também? Isso é crime, caralho.

- Ah, claro que sim. Agora você é ativista da causa negra, tem um negrinho te chamando de mamãe?

- Vai se foder.

-  A pior decisão que tomei na vida foi dar aquela empresa pra vocês, suor e lágrimas jogados no lixo. Mas também, o que eu esperava? Criei dois incompetentes.

- Tinha a opção de nunca ter tido filhos também. Sinto muitíssimo que se arrependa de ter deixado a empresa pra gente antes de desaparecer no mundo, mas ainda sim acho que isso era o mínimo que poderiam ter feito pela gente depois de anos tornando nossa vida um inferno...

- Sua garota...

- Eu não terminei de falar, agora antes de desligar essa ligação e voltar a fingir que sou órfã, eu só vou dizer dessa vez, então grava bem. Se você se referir ao meu sobrinho e à minha cunhada com "negrinhos", "escurinhos", interesseira ou qualquer outra forma pejorativa mais uma vez, eu não vou hesitar em te denunciar por racismo. Passar bem.

Desligo a chamada antes que qualquer palavra saia da boca dela.

Pode até parecer que eu me saio bem em desviar do ataques repentinos da Catarina, mas não é muito bem assim. Pra ela eu estou sempre pronta pra revidar, mas depois fico aqui, com vontade de me afundar no buraco mais fundo que eu encontrar tendo como companhia só algum uísque barato.

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