Demarcando Território

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POV VALENTINA:

Eu não sei o que meu irmão e minha cunhada tinham em mente quando decidiram que seria uma boa ideia exigir que eu e a Luiza vivêssemos sob o mesmo teto, e pior, compartilharmos a guarda do meu sobrinho. Não precisa ser nenhum gênio pra saber que em menos de dois dias nessa dinâmica a Luiza vai com certeza me matar e esconder o corpo na horta que a Duda fez.

- Titia, titia! -- Benjamin pula no colchão da minha nova cama. -- O monstro pegou.

- O monstro pegou? -- Jogo a toalha por cima da minha cabeça assumindo o papel do 'monstro'. -- O que o monstro pegou?

- O Ben, o monstro pegou o Ben.

Corro atrás dele pelo quarto fazendo um barulho de monstro e fingindo não estar conseguindo alcançar seu corpo. Depois de umas três voltas pelo quarto e passar por cima da cama umas duas vezes, ele se esconde debaixo da cama, me enfio lá pra tentar puxá-lo.

- Valentina, eu tava pensando... -- Luiza entra no quarto do nada.

- Dinda Lu! -- O traidorzinho escapa das minhas mãos e corre até ela.

Levanto a cabeça de uma vez no susto e acabo acertando a testa na madeira da cama.

- Aí caralho! -- Resmungo.

- Olha a boca! -- Ela me repreende.

- Aí caralh... -- Benjamin começa, mas Luiza tampa a boca dele.

- Não senhor, isso é coisa feia de falar, não pode falar isso. -- Ela me lança um olhar de raiva.

- Já que vamos dividir o mesmo teto, seria gentil da sua parte bater na porta do meu quarto antes de entrar, não acha?

- Também seria gentil da sua parte não ficar ensinando palavrão pra ele.

- Vou dar o meu melhor pra isso. -- Sorrio. -- Você ia dizendo?

- Nós devíamos montar uma lista de obrigações, determinar qual o papel de cada uma, organizar a rotina... essas coisas.

- Pra quê? -- Levanto do chão e tomo meu celular da mão de Benjamin. -- Não é só manter a criança viva e bem até os dezoito anos e missão cumprida?

A Luiza não é muito paciente, pelo menos não comigo. Desde o nosso primeiro contato, ela revira os olhos para absolutamente qualquer coisa que eu diga, eu sei que ela me acha fútil e até meio inútil, mas quem liga? Eu sei que estou tentando o meu melhor e é isso que conta.

-Isso vai ser quase uma missão impossível... -- Ela toma da mão de Benjamin um cortador de unha que ele pegou na minha mala.

- Ei... -- Ele retruca.

- A gente precisa mesmo fazer isso funcionar, Valentina. -- Respira fundo. -- É da educação do Ben que estamos falando, acredito que seja do seu interesse fazer mais do que manter ele vivo até os dezoito.

- Claro que é.

Um breve silêncio toma conta do ambiente, Luiza me encara com aquele ar de superioridade que nunca sai dela e eu tento, pelo bem da minha dignidade, não parecer um cachorrinho com medo dela.

- Olha, tá brilhando. -- Ben puxa nossa atenção.

Sinto minha cara queimar, meu sobrinho está com um dos meus vibradores na mão, balança o objeto no ar como se fosse um brinquedo muito divertido (se bem que é mesmo), Luiza está com os olhos arregalados e as bochechas levemente avermelhadas, me dá uma ordem silenciosa com o olhar para pegar o vibrador da mão dele.

- Cara, você não pode ficar mexendo nas minhas coisas assim... -- Desligo e enfio embaixo dos travesseiros. -- É como eu tava dizendo pra sua madrinha, precisamos de regras, calendário de metas e todas as coisas chatas que só poderiam sair da imaginação dela mesmo.

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