Todo Cuidado é pouco

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POV LUIZA:

Sinto o ar faltar em meus pulmões, logo após a notificação de dez chamadas perdidas da mãe de Valentina, tem uma mensagem que ela enviou no WhatsApp. É o print de um site de fofoca, uma das fotos mostra eu e Valentina entrando no carro hoje cedo e na outra me pega grudando o tapa-sol no para-brisa. A manchete diz "O amor tem lugar para acontecer?".

Mais embaixo também tem mensagens da Yasmin perguntando se a Valentina me drogou e outro print da matéria. Identifico mais algumas pessoas perguntando sobre o assunto, mas não conheço essas, talvez sejam amigos mais distantes da Valentina. Uma das mensagens me chama a atenção, é um número que não foi salvo, a imagem do perfil não aparece e tudo que o contato manda é um print da manchete, uma carinha de nojo e logo depois "Já foi melhor, em?".

- Linda, o que foi? -- Valentina para atrás de mim e averigua a tela do aparelho. -- Mas que porra é essa?

Puxa o celular das minhas mãos e mexe nervosa. Sei que ela está tão surpresa quanto eu, mas não sei se ela está temendo o mesmo que eu. O que fizemos se encaixa em atentado ao pudor e se quem tirou essas fotos tiver alguma mais comprometedora, não sei como ficaria nossa situação em relação a guarda de Benjamin.

- Você acha que alguém viu a gente? -- Minha voz quase não sai.

- Impossível. O insulfilm do carro reflete tudo, pra enxergar teriam que grudar o rosto no vidro, e nós teríamos percebido se alguém fizesse isso. -- Tenta me acalmar.

- Tá, e o que vamos fazer em relação a isso? -- Aponto para o celular em suas mãos.

- Não perder a cabeça é a primeira coisa. -- Fecha os olhos e balança a cabeça impaciente quando o celular volta a tocar. -- Eu vou atender ou ela não vai parar de ligar, já volto.

Caminha para longe de nós e some do meu campo de visão.

- A titia tá brava? -- Ben me encara confuso.

- Não, amor. -- O puxo pra mais perto e termino de espalhar o protetor por seu rosto. -- Ela já volta, só foi resolver um problema.

- E ainda vai surfar comigo?

- Vai sim, vocês vão precisar me ensinar, também quero aprender a surfar. -- Ajeito o colete inflável em seu corpo.

- Você tem que segurar bem forte quando a titia mandar. -- Estufa o peito orgulhoso.

- É mesmo? -- Levo o canudo da água de coco até sua boca.

- Sim. -- Tenta continuar a conversa ao mesmo tempo em que bebe a água. -- Aí ela vai ficar em pé e a gente só pode ficar sentado, nada de levantar.

- E se levantar? O que acontece?

- Você mata a titia. -- Me olha como se fosse a consequência óbvia.

- Eu não mato ninguém, não. -- Aperto suas bochechas. -- De onde você tira essas coisas?

- A titia que me falou. -- Balança os ombros.

- Eu que falei o que? -- Valentina enfia o celular de volta na bolsa e beija o topo da minha cabeça.

- Que se eu levantar na prancha a Dinda vai te matar.

- Eu não falei isso não. -- Ela nega, mas o sorrisinho traquina entrega a mentira. -- De onde você tira essas coisas?

Ben enruga a testa confuso, mas assim que vê Valentina rindo também acaba caindo na risada.

- Cara, você pode trazer um pouco de areia molhada pra mim, por favor? -- Valentina entrega o balde de brinquedo na mão de Benjamin. -- Pode ser até metade, só vai reto, se olhar pra trás e não ver a gente, grita bem alto que eu vou te achar.

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