Dança comigo?

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POV VALENTINA:

Ja fazem duas semanas desde que voltei daquela festa e parece que deixei toda a minha vontade de viver lá na sala do Igor. As vezes tenho a impressão que até a saturação da vida ficou mais fria, só quero a minha cama. Não tive força de vontade nem para cancelar meus compromissos, Luiza quem se encarregou de resolver isso, para ser honesta, Luiza quem tem se encarregado de bastante coisa, até banho ela me dá.

A última vez que me senti assim ainda era adolescente, parece que não tem nem porque tentar sair da fossa, pelo menos enquanto não tenho forças nem para pentear meu próprio cabelo eu não faço mal para ninguém.

As páginas de fofoca fizeram a festa com as fotos que tiraram de nós duas sendo arrastadas para fora. Mas a que mais me machucou, foi a que Luiza tenta esconder o rosto marcado pelo tapa que era pra ser meu, eles não foram nada cautelosos com os títulos das matérias. "Valentina Albuquerque agora tem uma parceira em suas tentativas de destruir o império construído pelos pais." foi o mais gentil que eu li.

- Titia. -- Ben tenta me fazer reagir pela quinta vez só essa manhã. -- Vamos molhar o alface e o tomate?

- Pede a Dinda, cara.

- Ela disse que não sabe fazer isso, só você.

Luiza tem feito um esforço danado para me tirar da cama nesses últimos dias, mas suas tentativas não tem tido muito sucesso. Eu simplesmente não tenho vontade de fazer absolutamente nada. Quero parar de atrapalhar a minha vida e a vida das pessoas que convivem comigo.

- Vem, Ben. Vamos pra aula. -- Luiza entra no quarto.

Sinto sua mão afagar meus cabelo e logo em seguida recebo um beijo no rosto, Benjamin espelha sua atitude antes de sair. Não demorei a pegar no sono outra vez quando do me vi sozinha.

POV LUIZA:

Eu nunca apareci tantas vezes em páginas de fofoca em tão curto intervalo de tempo, na verdade, das poucas vezes que eu apareci, eu nem era o foco. Aparecia no fundo das fotos de Igor e Duda, mas nem sabiam o meu nome. Mas nas últimas semanas faltaram colocar meu CPF no meio das fofocas, como se o fato do meu rosto ter sido machucado fosse uma informação de grande relevância na vida das pessoas.

Eu até poderia ter meus minutos de surto por toda a exposição, mas com a Valentina sem vontade de viver, toda minha atenção tem se voltado para ela. Durante essas duas semanas que se passaram, o que eu mais ouvi foi "eu devia ter morrido" e "eu estrago tudo que chega perto de mim", em um dos dias eu simplesmente me entreguei a vontade de chorar e passamos a tarde toda chorando na cama juntas, é complicado limpar a imagem que as pessoas tem si mesmas.

Quando volto para casa encontro Valentina na mesma posição que deixei quando saí para levar Ben até a escola. Pedi alguns dias no meu trabalho para conseguir cuidar dela, tenho respeitado seu momento, mas já chega. Ela precisa reagir ou vou acabar me afundando na tristeza junto com ela, não dá pra sorrir quando a alegria da casa resolve tirar férias sem aviso prévio, até o Benjamin tem estado pra baixo.

- Meu amor, acorda. -- Tiro a coberta de cima do seu corpo.

- Não, Luiza. Me deixa quieta. -- Ela resmunga e tenta se cobrir outra vez.

- Valentina, eu preciso que saia dessa cama. -- Me ajoelho ao seu lado. -- Eu sei que está triste, mas você nessa situação está deixando a casa inteira com ar de velório, e sinceramente, já chega de velórios na nossa vida.

Ela me encara sem um pingo de credibilidade, já tentei tirá-la dessa cama de todas as formas imagináveis. Já tentei com carinho, já tentei com provocações, com gracinha, já até implorei. Mas nada funciona, então o jeito vai ser usar a técnica que eu estava tentando evitar, vou ser a Luiza chata e mandona de novo.

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