Dá Pra Ser?

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{5 anos após o acidente}

POV VALENTINA:

Cinco anos.

Cinco anos foi o tempo que demorei para conseguir finalmente a permissão para entrar na tal cachoeira onde meu irmão e minha cunhada determinaram que as cinzas deviam ser espalhadas também. Eu já estava a ponto de desistir e jogar em uma cachoeira qualquer, mas aí três dias atrás meu e-mail finalmente teve uma resposta positiva.

"Bom dia Valentina, lamentamos a demora para responder seu pedido de reserva do local, só temos o costume de alugar para três famílias por ano e já existia uma fila quando entrou em contato conosco.
Ficamos honrados por estar na lista deixada pelos seus familiares, e desde que não prejudiquem a natureza da cachoeira ou a estrutura do chalé, sinta-se à vontade para eternizar seus familiares aqui.
Será um prazer receber você e sua família em nossa propriedade."

- Mãe, por favor... -- Benjamin argumenta com Luiza mais uma vez. -- Eu já passei protetor três vezes.

- Depois vai ficar todo queimado aí e reclamando que não consegue nem encostar na cama. -- Luiza protesta.

- Eu não sou mais um bebê, mãe. -- Revira os olhos.

- Embora ainda durma na nossa cama as vezes. -- Implico.

Luiza me lança um olhar de reprovação por tocar no assunto e Ben me encara com tédio.

Desde que o Ben deu uma crescida, tem ficado cada vez mais parecido comigo, mas o garoto sabe ser chato quando quer. A Luiza sofre escondida pela pressa do tempo, então sempre que faço qualquer brincadeira com o fato dele ainda ser um grude conosco, Luiza falta me bater por medo dele parar só de vergonha das coisas que eu digo.

- Não tem nada de errado em dormir na nossa cama, cara. -- Conserto meu erro. -- Eu até gosto.

- Mãedinha... -- Lá vem, quando ele chama ela assim... -- Não vai passar protetor na mãe? Ela vai ficar toda vermelha igual aquela vez.

Me encara como se tivesse vingado minha piada, devolvo o olhar tentando não transmitir que ele jogou baixo mas atingiu seu objetivo.

- Vem amor, deixa eu passar em você. -- Luiza chama alheia a guerra fria entre eu e meu sobrinho.

- Já passei, linda. -- Minto.

- Ela tá mentindo. -- Benjamin me denuncia.

- Que moleque linguarudo. -- Bufo.

Benjamin da risada da minha frustração e Luiza me enche de protetor solar, faltar passar dentro do meu ouvido, essa mulher com protetor na mão é um perigo.

***

- Nossa, aqui é lindo! -- Luiza diz analisando o chalé de boca aberta.

- A gente vai dormir todo mundo junto? -- Ben encara a cama king como se fosse alérgico a mim e a Luiza.

- Tem um colchão inflável no armário. -- Explico. -- Mas você não precisa ficar fingindo que não gosta de dormir com a gente, eu só estava brincando. Eu adoraria ter pais que me fizessem gostar de dividir cama com eles depois de grande, e nós duas gostamos quando dorme com a gente.

- Você só tem oito anos, Ben. -- Luiza puxa ele para um abraço. -- Para te ficar me tomando meu filho antes da hora, por favor.

- Isso! -- Abraço os dois esmagando Ben entre nós duas. -- É o nosso Benzinho ainda, inho, beeem inho!

O chalé não é grande, tem uma cama King, a cozinha é pequena e conjugada com o quarto, sendo separada apenas por uma bancada. Ainda no espaço que seria do quarto, tem uma jacuzzi e em um cantinho meio escondido, um banheiro simples.

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