Um ano

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{11 de Fevereiro de 2024}

POV LUIZA:

Nem em meus piores pesadelos imaginei perder meus melhores amigos, muito menos que um ano sem eles passaria tão rápido como passou. Pensar na falta deles ainda é doloroso, mas nem de longe me sufoca como sufocava nos primeiros meses.

Também não tenho só motivos para me lamentar, nesse um ano ganhei um filho. Mesmo sem nunca ter sonhado com a maternidade, a experiência tem sido surpreendentemente gostosa, não planejo ter outros filhos, só o Ben já me basta.

Não posso me esquecer da minha improvável parceira nessa jornada. Nunca passaria pela minha cabeça que a Valentina se tornaria alguém tão importante e amada pra mim. Não consigo mais planejar um dia qualquer sem a presença da desmiolada que me ensinou a sorrir, não consigo e não quero.

- Gente? -- A casa está um silêncio só, mas sei que eles não saíram porque os carros estão na garagem. -- Ooi?

- Aqui fora, linda! -- Valentina grita.

- Eu tô plantando florzinha pra mamãe e pro papai, Dinda. -- Ben completa.

- Poxa vida, nem me chamaram? -- Paro próximo ao jardim dos fundos.

- Você tava dormindo tão tranquila. -- Valentina diz exibindo a bochecha em um pedido por beijo.

Beijo o rosto de Benjamin e ele limpa sujando a bochecha de terra. Em Valentina deposito três selinhos rápidos.

- Vai limpar também? -- Pergunto rindo.

- Jamais, quero é outro. -- Forma um bico nos lábios.

Me aproximo na intenção de outro selinho, mas Valentina suga meu lábio inferior. Tento fugir, mas ela puxa minha nuca contra a própria boca enchendo meu cabelo de terra. Eu não costumo ficar dando beijos muito profundos em Valentina na frente das pessoas, principalmente na frente do Ben, mas dessa vez decido que tudo bem, quero isso tanto quanto ela.

- Sonhou comigo? -- Sussurra entre o beijo.

- Por que eu sonharia? -- Me faço de desentendida.

- Nossa... -- Encena chateação. -- Achei que tivesse te inspirado ontem.

- Deixa de ser safada, moça.

Benjamin faz buracos e mais buracos na terra do canteiro, vai dar um belo trabalho fechar isso tudo.

- Ajuda a gente, Dinda. -- O pequeno diz concentrado na escavação.

- É, pode me alcançar aquele vaso, por favor? -- Valentina sinaliza com o queixo o vaso com margaridas brancas.

- As favoritas da Duda. -- Mal consigo segurar o sorriso bobo.

- Sim. -- Sorri. -- Comprei as copo-de-leite que o Igor gostava também. Lembra que ele usou uma na lapela no dia do casamento?

- Lembro, eles estavam lindos.

Passamos boa parte da nossa manhã cuidando do jardim. Eu não sabia, mas Valentina vem cuidando da horta que Duda fez, de acordo com ela, isso tem sido uma espécie de terapia. Não partilho do gosto pro plantas e afins, mas se faz bem pra ela, faz bem pra mim.

Benjamin até conseguiu prender a atenção em ajudar Valentina por bastante tempo, mas depois da segunda hora mexendo com terra e água, o espírito da criança arteira atacou e ele começou a jogar terra pra cima. Foi questão de tempo até eu e Valentina nos tornarmos seus alvos.

- Não ouse! -- Valentina encara Ben que está com a mão cheia de terra. -- Benjamin...

Benjamin não demonstra qualquer medo, na verdade sorri insinuante. Me abaixo atrás do corpo de Valentina para tentar sair mais limpa que esses dois vão sair disso.

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