Evite Olhar

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POV LUIZA:

Conversar com a Valentina depois do dia no hospital surtiu efeito, o clima ficou mais leve e nós estamos conseguindo até nos divertir os três juntos, percebi que a Valentina é até bem engraçada. Ela parece estar aprendendo meus limites então sempre chega na beira, mas nunca ultrapassa, estamos nos entendendo melhor.

Já faz um mês e meio desde a minha última conversa com Mariana no estacionamento do hospital, a Valentina tentou disfarçar, mas eu sei que o fato de eu ter levado um fora agradou ela, provavelmente porque eu parei de deixar o Ben só com ela quase toda noite.

- É sério que você vai dar aula hoje? -- Benjamin está tentando escalar o corpo dela pra alcançar o celular que ela segura acima da própria cabeça. -- É tipo a pior chuva que o Rio de Janeiro já presenciou.

- Não é pra tanto... -- É sim, parece que o telhado vai sair voando a qualquer hora. -- Não vou dar aula hoje, tenho ensaio com algumas alunas mais velhas, a apresentação está chegando.

- Só toma cuidado, se acontecer alguma coisa com você, acho que o Benjamin não se recupera. -- Coloca o celular em uma das prateleiras mais altas da sala.

- Só ele? -- Porque eu perguntei isso?

- Óbvio, isso nem me atingiria. -- Finge desinteresse. -- Tá carente?

- Estaria menos se alguém não tivesse assustado minha pretendente. -- Ela revira os olhos e dá risada. -- Enfim, tenta manter ele seguro, não sei se sobreviveria sem ele.

- Só ele? -- Implica.

- Tá carente? -- Devolvo a má resposta anterior.

Ela não responde, só balança a cabeça e sorri. Me despeço de Benjamin com um beijo na cabeça e dela com um aceno discreto de cabeça.

- Mais tarde a Dinda volta, tudo bem?

- Tá bom. -- Ele me deposita um beijo no rosto.

***

Está caindo o mundo lá fora, duas das cinco alunas que deviam participar do ensaio acharam melhor não sair de casa, mas pelo menos ainda tenho três delas aqui e estamos dando nosso máximo para que fique tudo perfeito.

- Lu, você não acha que esse giro no final está muito demorado? -- Isabela pergunta.

- Pois é, eu pensei o mesmo. -- Beatriz concorda. -- Talvez se a gente concluir o primeiro giro mais rápido, dá pra dar mais dois seguidos, ia ficar legal.

- Sobre o giro no final eu não tenho nenhuma observação, mas acho que estamos demorando muito pra dar a pirueta no meio. -- Lívia pontua.

Já estamos aqui há pouco mais de duas horas, repetindo e repetindo a mesma coreografia. Estamos quase alcançando algo parecido com impecável, essas apresentações me deixam muito empolgada, nem vejo o tempo passando nos ensaios.

- Podemos tentar as três coisas, agilizarmos a pirueta no meio e acrescentamos mais dois giros no final. -- Determino.

Caminho até o som para podermos recomeçar a coreografia, mas antes que eu alcance o aparelho um estrondo invade o ambiente. Nós três nos olhamos assustadas quando a energia da escola acaba.

- Eu acho que minha alma foi junto com a energia. -- Beatriz brinca com a mão no peito como se tentasse acalmar o coração.

- Acho que algum poste deve ter explodido, sei lá. -- Lívia tenta recuperar a cor nos lábios.

- E agora? -- Isa diz ligando a lanterna do celular.

Não dá pra ensaiar sem música, mesmo sabendo os passos de trás pra frente, ainda precisamos encaixar tudo no tempo da música pra não dar errado na hora.

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