O Testamento.

Ano Novo

POV VALENTINA:

O ano mais louco da minha vida está chegando ao fim, Luiza e eu decidimos que esse ano não vamos passar o ano novo no Rio como era costume, essa virada será na casa em Angra dos Reis, como a venda da casa que Duda tem lá ainda não foi concluída, Luiza achou uma boa ideia fazermos uma despedida.

Luiza convidou alguns dos colegas de trabalho dela que não tinham planos, para minha total infelicidade, o convite foi em um grupo de WhatsApp e como já era de se esperar, vou passar minha virada aturando a Daniela tarar minha namorada enquanto aquele banana do namorado dela finge não perceber.

Eu também convidei algumas pessoas, modelos que acabei criando amizade, a nossa vizinha Vanessa, mas ela foi mais pensando em ter outra criança para brincar com o Ben. E a Yasmin também confirmou presença. Acredito que estaremos em no máximo quinze pessoas.

- Coloco as coisas no meu carro ou no seu? -- Luiza grita do andar de baixo.

- No meu. -- Grito de volta.

- Vai me revezar o volante comigo, né?

- Ué, traindo seu amado Corolla com o meu humilde HR-V? -- Implico só pra não perder o costume.

- Posso ir com o Ben no meu e você vai com as bolsas no seu, o que acha? -- Devolve a implicância.

- Que mulher brava, credo... -- Desço as escadas correndo. -- Que delícia. -- Cochicho.

Ela tenta manter a cara de brava, mas logo se desfaz em um sorrisinho bobo.

- Vai logo buscar o Ben ou a gente vai chegar depois de todo mundo. -- Ai... as mulheres mandonas.

Lhe roubo um selinho antes de obedecer como a namorada esperta que sou.

São quase cinco horas de viagem, Luiza determinou que seria a primeira a dirigir e como eu não faço questão nenhuma de estar atrás de um volante, cedi sem insistências.

- Titia, coloca a música do palhaço. -- Ben grita.

- Agora! -- Conecto o celular ao som do carro.

Luiza da risada quando entende do que se trata a "música do palhaço", o que eu posso fazer? Meu sobrinho tem bom gosto.

- De onde esse menino conhece essa música, meu Deus? -- Pergunta ainda rindo.

- Eu não ensinava só a subir em janelas, amor. A gente gosta de ouvir música juntos, né Benzinho?  -- Coloco a mão para trás e ele bate.

Um dos passatempos favoritos entre eu e meu irmão era música, ouvir, tocar, dançar... qualquer coisa que envolvesse música era com a gente mesmo. Isso começou quando ainda éramos adolescentes, sempre que meus pais começavam com a gritaria, Igor se trancava no quarto comigo e ali passávamos horas tocando e esquecendo a guerra que deu origem à nossa existência.

Quando Igor começou a namorar a Duda, trouxe ela para nossa bolha. Por vezes tudo que fazíamos era ficar deitados no chão da sala do apartamento de Duda ouvindo música, em uma dessas, Duda trouxe O Teatro Mágico para nossa vida. Virou nosso programa de domingo, passávamos o dia inteiro só ouvindo a banda.

Igor pediu Duda em casamento ao som de "Você me bagunça", eu toquei com ele. Nunca vi minha cunhada chorar tanto na vida. Então quando o Ben chegou em nossa vida, mesmo que ainda na barriga, era O Teatro Mágico que ele escutava sem pausa, era de se esperar que ele ia gostar.