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-𝐐𝐔𝐀𝐂𝐊𝐈𝐓𝐘-
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Normalmente, eu adoro a confusão dessas ruas. A multidão perto da estação de trem é o meu disfarce perfeito. Me movo sem ser notado, me misturo. Perdi a conta de quantas vezes essas ruas lotadas foram minha salvação. Mas hoje, elas são meu obstáculo. Cada rosto, cada ombro que esbarro, me retarda. E eu não posso me dar ao luxo de perder tempo.

As sirenes estão mais próximas, quase competindo com o som da minha respiração pesada. Eu corro, desviando pelo atalho ao longo do lago, mas sei que não vou chegar a tempo. Não importa o quanto meus pés corram, os Trabalhadores soldados estarão lá antes de mim.

Mesmo assim, eu preciso tentar. Não posso simplesmente desistir. Preciso chegar à minha família antes deles. Preciso ao menos vê-los, avisá-los, fazer algo.

De vez em quando, paro só para confirmar que as ambulâncias continuam seguindo o caminho certo. Elas estão indo direto para o nosso bairro, sem desvio.

Acelero ainda mais. Não penso nas minhas pernas queimando, nem no suor que escorre pelo rosto. Tudo que importa é a casa, é minha mãe, Alexis, Tilín. Não posso falhar com eles. Uma velha aparece na minha frente, e, antes que eu possa desviar, esbarro nela. Ela tropeça e cai, e a culpa me aperta o peito.

— Desculpa! — grito por cima do ombro, mas não paro. Não posso parar. Ela grita algo de volta, mas não me dou ao trabalho de entender. Minha família precisa de mim.

Quando finalmente chego, estou ofegante, o suor encharcando minhas roupas. A casa está ali, silenciosa e cercada pela quarentena. O bairro parece suspenso no tempo, como se a vida tivesse pausado ao redor da nossa pequena casa. O som das sirenes está mais distante agora, mas não tenho muito tempo. Corro pelos becos, evitando qualquer olhar curioso, até alcançar a cerca em ruínas do nosso quintal.

Me agacho e me esgueiro por uma fenda que conheço bem. As tábuas soltas da cerca se movem facilmente, permitindo minha passagem. Me enfio debaixo da varanda, o coração batendo forte contra minhas costelas. As papoulas que deixei ali, há algumas semanas, murcharam. Mortas, como tantas outras coisas.

Olho pelas fendas no chão da varanda, e lá estão eles. Mamãe sentada ao lado da cama de Tilín, os dedos finos segurando a mão dela. Alexis está perto, lavando alguma roupa numa bacia. Meu coração aperta ao ver Tilín. Ela parece pior. Pior do que eu lembrava. Toda a cor foi drenada de seu rosto, sua respiração é fraca e irregular. Mesmo de onde estou, posso ouvi-la, um som que parece uma lâmina afiada cortando o ar.

Preciso pensar em algo. Qualquer coisa.

Minha mente corre com possibilidades, mas todas parecem vazias. Eu poderia tirar minha mãe, Alexis e Tilín daqui agora, levá-los para longe antes que os soldados chegassem. Mas Tilín... ela mal consegue respirar, como poderia correr? Alexis poderia carregá-la, mas por quanto tempo? Eu sei que ele é forte, mas não o suficiente para carregar nossa irmã indefinidamente.

Talvez haja outra solução. Talvez eu possa levá-los para um dos esconderijos que Wilbur e eu usamos. Eles poderiam ficar lá até a situação melhorar, mas... será que isso seria suficiente? E se eu os colocasse num trem de carga? Poderíamos fugir para o interior, para algum lugar longe das patrulhas. Talvez em Las Nevadas eles pudessem recomeçar. Mas e se... e se nada disso funcionar?

E se o Menino estiver errado? O pensamento cruza minha mente como um lampejo de esperança desesperada. Talvez as patrulhas nem estejam vindo. Talvez eu ainda tenha tempo para juntar mais dinheiro, comprar o remédio para a infecção da Tilín. Eu poderia continuar lutando, continuar tentando.

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora