Vida -9-

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Na jornada da vida, as pessoas vivem e morrem, sejam elas consideradas boas ou más, importantes ou não.

Muitos lutam arduamente para viver uma vida digna, serem pessoas boas e terem importância no mundo ao seu redor. Alguns lutam por isso em busca de aprovação, e outros, lutam por isso para ter uma mentalidade e espiritualidade boa - ser apenas uma boa pessoa e certa.

Porém, há uma ironia na percepção daqueles que se veem como "certinhos", que acreditam estar fazendo "tudo certo" em sua busca por uma vida significativa. Na verdade, essas pessoas a maioria da vezes - não todos - são as piores que tem, agem de forma oposta ao que imaginam, e aqueles que não estão intimamente ligados ou não sabem muito dessas pessoas, os veem como verdadeiros "santos", sem perceberem as falhas nessas pessoas desse tipo.

Por outro lado, existem aqueles que genuinamente lutam para sobreviver, para serem bons e para terem importância. No entanto, no fim das contas, eles são frequentemente criticados e alvo de inveja. 

A inveja é uma das piores coisas que podem existir no mundo - dizia minha irmã. A inveja é uma força destrutiva, onde pessoas que buscam incessantemente o bem e a importância, recebem dos invejosos em troca, apenas o desejo de derruba-la por inveja e se aproveitar de sua bondade. E muitas vezes essas pessoas realmente certas, acham que estão erradas.

Em resumo, é uma luta interminável onde, no final, aqueles que buscam fazer o que é certo muitas vezes são percebidos como perdedores, enquanto os que agem de forma questionável são vistos como vencedores, recebendo títulos avassaladores.

Fico me perguntando, de que lado Bagi foi entre esses dois grupo durante sua vida? O grupo que lutava ou o que achava que lutava?

Acredito que Bagi fosse parte daquele grupo que genuinamente lutava pela sobrevivência. No entanto, mesmo quando estamos próximos de alguém, sendo como irmãos ou pais, nunca chegamos a conhecê-los completamente. Nós nunca conhece uma pessoa completamente.

Entendemos verdadeiramente alguémquando nos envolvemos em situações relacionadas ao poder ou ao dinheiro. É uma outra fala que minha irmã dizia.

Estou diante do espelho, vestindo esse maldito sobretudo grosso formal com essas dragonas metálicas em cada um dos meus ombros. Quatro botões dourados de cada lado do sobretudo, uma blusa fina preta, calça alagada preta, e um coturno preto. Tudo preto. Formal. Uma peça que minha irmã insistiu que eu usasse em ocasiões como esta. "Você precisa parecer apresentável, Cell", ela costumava dizer. Mesmo agora, em meio ao luto, sua voz ecoa em minha mente, uma lembrança constante de sua presença.

 Observo meu reflexo no espelho, a imagem de um jovem vestido de preto, cercado pela escuridão que parece me consumir. — Eu odeio roupa formal... —, murmuro para mim mesmo, sentindo-me desconfortável nesse traje.

"Dane-se, você vai assim mesmo, pirralho", é o que ela diria, com sua franqueza característica. Um sorriso triste se forma em meus lábios enquanto recordo suas palavras, tão cheias de amor e preocupação.

Ela era chata, era amorosa, era insuportável, era bonita, era brigona, era cuidadosa... 

Isso é a morte: quando o "é" se transforma em "era".

Deixo meu quarto para trás e me vejo diante da porta do quarto de Bagi. Um suspiro escapa de meus lábios enquanto a hesitação me envolve. Com um nó na garganta, decido abrir a porta, permitindo-me mais uma vez adentrar o santuário silencioso de minha irmã.

Seu quarto parece congelado no tempo, uma cápsula do passado que se recusa a desaparecer. Sua mesa de estudos, seus livros empilhados, suas fotos na parede. Cada objeto é um lembrete doloroso de sua ausência, uma ferida aberta em meu coração.

Fico ali por um momento, deixando as lembranças me envolverem, antes de finalmente sair do quarto, fechando a porta suavemente atrás de mim. Pequenas lágrimas escapam de meus olhos, mas as enxugo rapidamente, recusando-me a ceder à tristeza que ameaça me dominar novamente. 

Chorar não é remédio, e sim uma doença que só atrapalha nossa vida.

O som da campainha me puxa de volta à realidade, e eu me viro para enfrentar o mundo lá fora. Olho pro olho magico, Tina está do outro lado da porta, seu rosto expressando preocupação e tristeza. Ela não precisa dizer nada; seu olhar diz tudo.

Abro a porta para ela, recebendo-a em meu espaço pessoal, uma presença reconfortante em meio ao caos que me cerca. Não há necessidade de palavras, apenas a certeza de que não estou sozinho nesta jornada de despedida e recomeço.

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Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora