Cat and Mouse - Chaosduo QSMP

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- 𝐐𝐔𝐀𝐂𝐊𝐈𝐓𝐘-
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Nas poucas horas de sono que consigo antes do amanhecer, acabo sonhando.

Estou em uma casa que conheço bem, mas desta vez, tudo parece... melhor. Não há rachaduras nas paredes, nem marcas de tempo nos móveis. As janelas estão abertas, e a luz suave do sol da manhã preenche cada canto da sala de jantar. O ar é leve, perfumado com algo que não consigo identificar, mas que me traz uma sensação de conforto e paz.

Mamãe está sentada à cabeceira da mesa de jantar, usando uma roupa elegante que nunca a vi usar, um vestido caro de um tecido que reluz. Sua postura está relaxada, uma mão repousa sobre o colo enquanto a outra acaricia o braço de Alexis, que está ao seu lado. Ele está lendo em voz baixa, um jornal, talvez sobre o estado atual da economia. Sua voz é controlada, precisa, o tom de alguém que cresceu em uma família estável, cercado por segurança. Ele parece mais velho do que me lembro, mais confiante.

— O mercado está em alta este mês, — Alexis comenta casualmente, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Mamãe sorri, aprovando cada palavra, como se o sucesso financeiro fosse um tema cotidiano entre nós.

Eu estou de pé perto da porta, observando a cena com um sorriso. Por algum motivo, sinto orgulho. É como se finalmente tivéssemos alcançado tudo aquilo que sempre foi inalcançável. Tillin está sentada do outro lado da mesa, rabiscando em um caderno de capa dourada, algo de alta tecnologia. Não são mais bombas caseiras ou engenhocas improvisadas, mas desenhos de invenções complexas, grandes projetos, dispositivos que poderiam revolucionar o mundo. Ela está imersa, uma expressão de concentração no rosto.

O ambiente é calmo, sereno. Não há urgência, não há medo. Pela primeira vez, tudo está no lugar.

Então percebo o Menino ao meu lado. Não sei como ele chegou ali, mas ele parece pertencer a essa cena. Ele está bem vestido, como se sempre tivesse sido parte desse mundo de conforto e segurança. Seus olhos brilham de felicidade tranquila, e ele segura minha mão de maneira firme, mas suave. Eu sinto a tranquilidade em sua presença, como se ele fosse a âncora dessa nova realidade.

— Eu queria que você conhecesse minha mãe, — sussurro, minha voz carregada de uma esperança que mal reconheço em mim mesmo.

Ele apenas me olha, sem dizer nada, mas o sorriso em seu rosto já me responde. É como se ele entendesse, mais do que eu, que esse momento, essa versão de nossa vida, não pode durar. Quando volto meu olhar para a mesa, percebo algo.

Alexis e mamãe ainda estão lá, conversando calmamente. Mas Tillin... não.

Ela desapareceu. O lugar onde estava sentada agora está vazio, como se nunca tivesse existido. O sorriso do Menino se apaga, e ao olhar para ele, vejo uma tristeza profunda em seus olhos, algo que me atinge como um soco no estômago.

— A Tillin se foi, — ele diz, sua voz firme, mas carregada de uma melancolia que parece ecoar por toda a sala.

O sonho começa a desmoronar ao redor de nós. As paredes impecáveis começam a desbotar, os móveis voltam a ser os que sempre conheci, desgastados e manchados. A luz suave do sol é substituída por uma escuridão incômoda, e o cheiro agradável desaparece.

Antes que eu possa reagir, uma sirene distante me arranca do sonho. 

Acordo com um sobressalto, o corpo tenso e a respiração descompassada. Fico deitado por alguns instantes, os olhos abertos, tentando respirar direito, enquanto o sonho ainda se agarra à minha mente, vívido demais. As palavras dele, o olhar dele, tudo ainda está presente.