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- 𝐂𝐄𝐋𝐋𝐁𝐈𝐓 -
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Acordo lentamente, sentindo algo fofo, quente e peludo sob meu corpo. 

Meu corpo está pesado e dolorido, como se estivesse emergindo de um sonho agitado e turbulento. Por um breve momento, a sensação é tão reconfortante que quase acredito estar de volta ao meu apartamento, seguro na minha cama. Mas quando abro os olhos, a realidade me atinge: um felino, com olhos curiosos, me observa de perto antes de lamber meu rosto de maneira afetuosa.

— Ei... p-para, Lobinho. — Murmuro, minha voz saindo como uma risada rouca, enquanto minha mão tenta afastar o animal de maneira gentil. A confusão começa a se infiltrar nos meus pensamentos.

O que está acontecendo? O que o meu cachorro está fazendo aqui?

Estou deitado em uma cama improvisada, rodeado por cobertores empilhados de maneira descuidada. A tenda ao meu redor é simples, feita de lonas desgastadas que deixam passar raios de luz fraca, filtrando o ambiente com uma sensação de desolação e precariedade. Não é o mesmo lugar onde eu estava com os garotos de rua antes. 

Tento me mover, mas assim que faço o menor esforço, uma dor aguda irrompe em minhas costelas, arrancando um gemido involuntário dos meus lábios. A dor é como uma faca cravada em minha lateral. Minha mente ainda está confusa, as memórias do que aconteceu vêm e vão em fragmentos desconexos. Tento forçar minha mente a lembrar, porém uma dor de cabeça ataca e me impede.

De repente, um som de passos se aproximando captura minha atenção, e o Lobinho corre para fora da tenda, tento chama-lo mas ele não vem. 

Viro a cabeça com esforço pra ver de quem era os passos. O Garoto entra na tenda, seu rosto uma mistura de alívio e preocupação. Ele carrega um cantil de água nas mãos e exibe uma expressão exausta. Parece que ele não dormiu por um bom tempo. As sombras sob seus olhos são profundas, e há uma tensão evidente em seus ombros. Mesmo assim, ele se esforça para me oferecer um sorriso reconfortante, como se quisesse me transmitir a segurança que ele próprio talvez não esteja sentindo. Meus sentidos estão voltando ao normal. Minhas observações detalhadas voltou. Solto um suspiro aliviado.

— Você está acordado. — A voz dele é suave, quase um sussurro, cheia de alívio, mas parece estar preocupado. 

Tento responder, mas minha garganta está seca como areia, e tudo o que consigo emitir é um murmúrio rouco e quase inaudível. A frustração de não conseguir me comunicar aumenta, mas antes que eu possa tentar novamente, o Garoto já está ao meu lado, ajoelhado. Ele segura o cantil com firmeza, mas com uma delicadeza que não havia percebido nele antes. 

 — Devagar... — O Garoto aconselha, a voz calma enquanto ele guia o cantil até meus lábios, inclinando-o gentilmente para permitir que a água fria escorra suavemente em minha boca. Bebo em pequenos goles, cada um mais revigorante do que o anterior, sentindo a secura em minha boca e garganta começar a ceder.

 Depois de alguns momentos, ele afasta o cantil de minha boca e limpa a água que molha meu queixo, consigo finalmente encontrar minha voz, embora ainda fraca e hesitante. O som é baixo, quase um sussurro, mas pelo menos é algo. 

 — O que... aconteceu? — Minha voz sai fraca, carregada de incerteza e confusão. — Bem... eu sei que você me tirou de lá... mas não lembro o que aconteceu direito...

 Ele suspira profundamente, enquanto se senta ao lado da cama improvisada em que estou. — Eu o encontrei a tempo. — Responde, o alívio visível em seus olhos, mas há algo mais ali, uma sombra de preocupação que ele não consegue esconder. — Você estava... em más condições. Eu consegui tirá-lo de lá. 

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora