A Manhã -23-

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- 𝐂𝐄𝐋𝐋𝐁𝐈𝐓 -
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 Acordo ao amanhecer. A luz suave do sol nascente faz meus olhos arderem. Tento descobrir de onde vem essa luminosidade intensa. Ela está vindo de trás de mim? Não. Talvez pelas janelas quebradas do prédio abandonado em que me encontro.

 Então, uma dor aguda no meu estômago me atinge, forçando-me a respirar com dificuldade. Ao pressionar a mão contra a área dolorida, a memória volta com clareza. Fui esfaqueado

 O pânico começa a se instalar enquanto revivo a cena na minha mente. Lembro-me da luta de Skizz, a lâmina fria da faca cortando minha pele, e, em seguida, a imagem vívida do garoto que apareceu do nada e me salvou no último instante.

 Ouço passos rápidos e vejo um garoto se apressando para junto de mim ao notar que me mexi.

 — Como está se sentindo? — Ele pergunta, seus olhos carregados de preocupação. Era Wilbur, o garoto que salvei no ringue de Skizz.

 — Dolorido — murmuro. Não quero que ele pense que não fez direito minha atadura, por isso acrescento rapidamente: — Mas muito melhor que ontem.

 Levo um minuto para perceber que o garoto que me salvou está sentado no canto do cômodo, balançando as pernas sobre a varanda e observando a água. Sua presença é tão inesperada quanto as papoulas que brotam entre as rachaduras no chão.

 Preciso esconder meu constrangimento. Num dia normal, sem o ferimento de faca, eu nunca deixaria um detalhe como esse passar despercebido. Sempre observo todos e tudo ao meu redor com atenção. 

 Mas hoje, debilitado pela dor e pela confusão, estou falhando em manter meu controle habitual. Tento recompor-me, focando na importância de entender minha situação e as intenções do garoto.

✧·✦·✧

 Ele foi a algum lugar ontem à noite.

 Enquanto eu alternava entre momentos de sono e vigília, observei atentamente a direção que ele tomou: norte, rumo ao setor Ilhis. Mentalmente, anotei cada detalhe, tentando não perder nada importante.

 — Espero que você não se importe de esperar algumas horas antes de comer — ele diz, interrompendo meus pensamentos. Está usando seu velho boné, mas alguns fios de seu cabelo castanho escuro escapam pelas bordas. — Como perdemos o dinheiro da aposta no Skizz, estamos sem dinheiro para comida agora.

 Há uma ponta de acusação na voz dele, como se ele estivesse me culpando pela derrota na aposta. O tom amargo e o olhar fixo deixam claro que ele realmente me responsabiliza. Apenas concordo com a cabeça, aceitando silenciosamente a culpa que ele me atribui. Não quero prolongar o confronto, então prefiro não argumentar. 

 Ele que foi o idiota de apostar seu dinheiro todo em um jogo ilegal.

 Não sei o nome dele, e parece que ele quer manter essa distância. Quando perguntei, ele disse que não me diria seu nome já que eu não revelei o meu. Justo, eu acho. Afinal, parece que estamos no mesmo barco de desconfiança mútua. Talvez um dia possamos falar mais abertamente, mas por agora, essa barreira de anonimato parece ser o mais seguro para ambos.

 Enquanto ele fala, minha mente viaja para o som da voz entrecortada de Quackity, que vinha dos alto-falantes. Comparo silenciosamente a voz de Quackity com a desse garoto, tentando encontrar semelhanças. 

 Ele me observa por um instante, seu rosto sério e sem sorriso, como se soubesse exatamente o que estou pensando. Seus olhos me analisam rapidamente antes de se voltarem para a vigília, mantendo um olhar atento e constante sobre a área ao nosso redor.

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora