Chuva...-7-

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 Absorver novamente as palavras devastadoras de Tina foi como ser atingido por um tsunami emocional. Pedi para ela repetir duas vezes, na esperança de que fosse apenas um erro auditivo, mas a certeza ainda não se solidificava em minha mente.

 Dentro do jeep tenso, compartilhando o espaço com Tina, que dirige como sempre, o destino é o hospital - uma visita forçada pelo maldito Comandante. Maldito seja ele...

 Tina conduz o veículo com uma leve tremulação, seus olhos vermelhos revelando o rastro do choro. Ela tenta esconder sua vulnerabilidade e tristeza, mas a maneira como segura o volante denuncia o peso em seus ombros.

 E eu? Estou anestesiado. Será que ainda tinha alguma emoção? Minha mente trabalha freneticamente para processar tudo o que está acontecendo.

 Horas atrás, a vi irritada comigo, mas mesmo assim, seu carinho único estava presente. Agora, a imagem dela se misturava à lembrança da estranha sensação de despedida no carro, quando ela não ouviu minha despedida. Será que eu senti isso porque sabia que ela morreria mais tarde?

 Mínimas faíscas de esperança tenta se manter vivas em minha mente, repetindo como um mantra interno: Não é a Bagi, é outra pessoa, não é a Bagi... Ela vai voltar para o apartamento mais tarde, aparecerá viva... certo? Não é a Bagi... certo?

 Observo pela janela do carro, notando outdoors e decorações na rua. O céu encoberto anunciava uma tempestade iminente, com algumas gotas de chuva antecipando sua chegada. O relógio marcava meia-noite e 21 minutos, e mal se passaram trinta minutos desde que soube da notícia.

 — Lamento... — murmura Tina hesitante, rompendo o denso silêncio que nos envolvia. Meus olhos se voltam na sua direção enquanto pondero sobre como responder.

 Levo um momento para formular uma resposta, pois estou emaranhado em um labirinto de emoções. Aceno com a cabeça em agradecimento, um gesto frio que mal consegue expressar minha gratidão, antes de desviar o olhar.

 Internamente, sou dominado por um sentimento de culpa, consciente de que estou sendo frio com Tina.

 À medida que nos aproximamos do hospital, o peso da inevitabilidade se torna quase tangível, envolvendo-nos em um manto sombrio que é intensificado pelas sombras da noite. Observo o prédio do hospital ao longe de dentro do carro, reunindo coragem para romper o silêncio.

 — Vocês não conseguiram capturar o assassino, não é mesmo? — minha voz carrega um toque de frieza enquanto direciono a pergunta a Tina. Seus olhos se arregalam diante da minha assertividade, mas ela tenta sorrir, mesmo que vacilante.

 — Por que pensa isso?

 — A janela do quinto andar está quebrada. É plausível que tenha sido por lá que ele escapou, não é? — pontuo, observando a reação de Tina.

 Ela concorda com um aceno, buscando oferecer algum conforto ela diz:

 — Exatamente, mas estamos trabalhando para localizá-lo e logo vamos encon...

 — Não. Vocês não vão encontrá-lo — interrompo abruptamente, cortando sua fala.

 — Por quê?

 — Se até agora não o capturaram, é provável que tenha conseguido fugir para longe. Considerando o tamanho de Los Ilhis, não será uma tarefa fácil encontrá-lo da noite para o dia.

 — Mas talvez ele tenha até mesmo morrido...

 — Sim, é uma possibilidade. Sobreviver à queda de um quinto andar não é para qualquer um. Portanto, é plausível que tenha perecido durante a fuga.

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora