As vielas estreitas de Qued se desdobram diante de mim como um labirinto sombrio, onde casas decrépitas se amontoam sob a sombra de um céu cinzento, perpetuamente coberto de nuvens baixas. O chão irregular e coberto de poças reflete um brilho trêmulo das lâmpadas amareladas que pendem de fios desencapados. As fachadas gastas das construções exalam um ar de abandono e desespero, criando uma atmosfera que engole qualquer vestígio de esperança.
Vestindo roupas que já conheceram dias melhores, com meu cabelo desgrenhado intencionalmente para não despertar suspeitas, eu me misturo aos moradores do bairro, um estranho entre os desconhecidos. Eu, Cellbit, agente e detetive da Federação, forçado a esconder minha verdadeira identidade enquanto me infiltro num reduto de miséria que contradiz todo o meu ser. Bairro pobre... Tudo o que eu mais odeio.
A cada passo que dou, é como mergulhar em uma realidade diferente, onde a desigualdade se torna tangível. O odor da pobreza paira no ar, e o eco de risadas cansadas ressoa pelas paredes sujas, com sacolas de lixo espalhadas pelo chão, gatos e cachorros pelas ruas junto com as pessoas. Tenho que me esforçar para parecer parte desse cenário, meu disfarce uma armadura frágil contra olhares curiosos que raramente cruzo.
A cada passo que dou, meu corpo se ajusta ao ambiente: ombros curvados, olhar desconfiado. O odor de pobreza infiltra-se nas minhas narinas, um misto de lixo não recolhido, esgoto a céu aberto e comida estragada. O som de risadas cansadas e conversas abafadas ressoa das portas entreabertas, enquanto crianças correm descalças pelas poças, esquivando-se de cachorros vira-latas que farejam o chão em busca de comida.
O fone de ouvido escondido atrás da orelha, sob meus cabelos rebeldes, zumbia com a voz indignada de Tina. Suas palavras, uma mistura de preocupação e raiva, perfuram o silêncio que eu tentava manter.
— Cellbit, pelo amor de tudo que é mais sagrado, você não podia ter ido sozinho! Isso é loucura! Nós deveríamos ter planejado isso juntos! — sua voz se eleva, tensa e urgente — Isso foi o que você quis dizer quando disse mais cedo "Pode deixar Tina, deixa que eu mesmo procuro"?!
Ignoro a reprimenda de Tina, minha mente focada na missão. Quackity está em algum lugar aqui, escondido entre esses becos que sussurram segredos e perigos. Com base em seu sotaque mexicano, suspeito que ele possa ser do bairro de Qued ou de Ilhis, lugares marcados pela presença desse sotaque. Cada minuto aqui pode ser crucial.
Eu sei que Tina não concordaria com a ideia, e eu também não, já que, como mencionei antes, odeio esses bairros pobres onde estou. Mas é preciso para a vingança de minha irmã. Eu só falei com o Comandante, e Tina parece ter descoberto mais cedo do que o esperado.
— Pelo menos me avise da próxima vez! Não podemos arriscar tudo assim, Cellbit!
Enquanto avanço pelas ruelas sombrias, observo as expressões fatigadas dos moradores. Eles conhecem bem o rosto da escassez, e talvez, entre suspiros e murmúrios, possam compartilhar informações sobre o enigmático Quackity.
— Estou falando sério, Cellbit! A Resistência está de olho em nós, deve ter alguns deles disfarçados como você, e você age como se estivesse brincando de detetive!
A cada passo, a cidade parece se fechar ao meu redor. As sombras de Qued se tornam mais densas, refletindo a complexidade do jogo que estamos jogando...
— Não desligue esse fone, Cellbit! Estou falando com você!
Desligo o fone, apesar dos protestos de Tina. Preciso me perder nas sombras de Qued, mergulhar mais fundo na realidade deste lugar.
Enquanto percorro as sinuosas vielas de Qued, minha interação com os locais é fugaz, Converso com alguns moradores, a maioria cautelosa, outros curiosos sobre o forasteiro entre eles. Ninguém menciona Rebeldes.
As fotografias - de possíveis Rebeldes - que o Comandante me enviou ficam escondidas no bolso interno do meu casaco, imagens que me ajudam a escanear cada rosto que encontro à luz trêmula dos postes de luz. Mas, até agora, nenhum dos semblantes corresponde aos retratados.
À medida que a escuridão se aprofunda, a ideia de retornar à segurança da Federação cruza minha mente. No entanto, sei que uma retirada agora significaria enfrentar a desaprovação de Tina, que certamente hesitaria em me permitir voltar a esses bairros marginais.
A ansiedade me envolve como a brisa noturna, fria e penetrante, levando-me a questionar: "Onde, diabos, vou dormir?" A possibilidade de uma noite ao relento nas ruas sombrias de Qued faz com que um suspiro pesado escape dos meus lábios.
— Talvez um beco isolado ofereça algum abrigo temporário — murmuro, minha voz baixa ressoando contra os muros de pedra encharcados pela chuva recente. Com passos cautelosos, avanço pelas vielas, meu olhar perscrutando cada canto escuro, não só em busca de Rebeldes, mas também de qualquer pista que possa levar a Quackity.
É incrível como fico ansioso na esperança de cruzar com Quackity. Uma audácia incrível, já que não sei nada sobre ele. Conheço apenas sua idade aproximada e o sotaque mexicano que permeia sua fala, uma descrição vaga que poderia se aplicar a tantos jovens aqui. No entanto, essa busca se torna um fio condutor de minha missão, cada vez mais desesperado por encontrar frascos contra a infecção que assola a região.
Por isso, acho audacioso ter esperança de encontrá-lo, já que sei muito pouco sobre ele, e talvez até já tenha cruzado com ele sem sequer perceber.
Qued, agora envolto na penumbra, vibra com uma vida noturna contida. As sombras parecem dançar ao sopro do vento, e a única iluminação provém de postes que oscilam com cada rajada mais forte e das velas que cintilam tristemente nas janelas.
Passando por um grupo de moradores de rua, seus corpos estendidos sobre papelões e jornais, sinto os olhares de curiosidade e desconfiança. Meu disfarce, porém, se mantém intacto — sou apenas mais um rosto anônimo entre os esquecidos. Meu coração bate em ritmo com meus passos apressados, cada movimento carregado de urgência e cautela.
À medida que a noite se estende, a pergunta sobre onde encontrarei abrigo ecoa em minha mente, insistente e sem resposta. Olho para os cantos mais escuros das ruas, ponderando sobre os possíveis contatos que poderiam me oferecer um refúgio temporário.
— Talvez, se eu encontrar alguém disposto a colaborar, consiga algum abrigo temporário — penso alto, enquanto mapeio mentalmente os locais menos expostos e potencialmente seguros.
· · ── · ·
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cat and Mouse - Chaosduo QSMP
FanfictionOnde os dois jovens vêm de mundos completamente distintos, e seus caminhos nunca, JAMAIS, deveriam se cruzar. No entanto, quando ocorre um assassinato, Quackity se torna o principal e único suspeito. Agora, eles se encontram encurralados em um jogo...