Pesadelos -10-

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- 𝐐𝐔𝐀𝐂𝐊𝐈𝐓𝐘 -
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Pesadelos... Infindáveis pesadelos que, como sombras indesejadas, me atormentam.

Desde a amarga reprovação naquela detestável prova, escapando da realidade aos meus onze anos, tenho sido assolado por memórias distorcidas, um amálgama de terror e nostalgia que, sem piedade, me visita a cada sono.

Desta vez não é diferente:

Encontro-me no canto sombrio da sala, compartilhando risos com meu irmão Alexis. Naquela época, eu contava com dez anos, ele com treze, e Tilín, com seus quatro anos, fazia parte do quadro vívido dessa recordação marcante.

E lá estou eu, perchedo no piso de madeira, manipulando os patinhos de brinquedo que papai nos presenteou em sua última visita, que ocorreu há uns nove meses.

Mamãe, na cozinha, prepara o almoço para nós três. Tilín está sentada à mesa, tagarelando incessantemente, interrompendo a mãe enquanto ela se ocupa com as panelas, suas mãos enfaixadas e marcadas - provavelmente de quando ela pega as sucatas de lixo nos setores próximos.

— Oh, Alexis, traga a Tilín aqui. Ela está atrapalhando — minha mãe pede pro meu irmão, focada no forno a lenha. O aroma do strogonoff paira no ar, uma lembrança dos dias especiais que costumávamos desfrutar.

Minha mãe recebeu alguns ingredientes da vizinha, que faleceu após pegar a infecção. Os filhos dela nos agradeceram pela nossa ajuda com alguns itens, e agora vivem em outro bairro. Espero que estejam bem...

Alex, traga ela para mim. Vou organizar esses brinquedos antes que ela se machuque — responde Alexis, sorrindo gentilmente, começando a arrumar a bagunça.

— Está bem — levanto-me e caminho até a cozinha, meus pés descalços no chão frio ressoando na sala. — Ei, Tilín, venha cá — a chamo e a ergo nos braços, mas ela começa a chorar.

— Maninho... dói muito! — soluça, debatendo-se em meus braços, veias salientes e olhos avermelhados.

Então, ouço o grito de mamãe, ecoando o mesmo dia em que se queimou no fogão a lenha.

De repente, o cenário se transforma. Tilín não está mais em meus braços, mas deitada no sofá à minha frente. Devo ter quinze anos, ela, dez, e Alexis, dezoito. Esse seria o presente, se eu ainda estivesse em casa.

Ela chora, visivelmente com dor de cabeça, olhos quase roxos e veias pulsantes.

A infecção, penso, enquanto Alexis e eu a observamos preocupados, mamãe tenta aliviar sua febre com um pano úmido.

Observo a queimadura no braço de mamãe, a mesma do dia em que se queimou no fogão a lenha, e suas mãos enfaixadas, como sempre.

Num piscar de olhos, tudo muda novamente.

Tilín se transforma diante de nossos olhos, rosto contorcido de dor enquanto afasta mamãe e Alexis, me deixando para trás. Percebo que ela só está com raiva de mim antes de atacar. Agarra minha garganta, derrubando-me no chão.

— Você... você não me ajudou —, ela rosnou, sua voz distorcida pela infecção, enquanto apertava minha garganta. Tentei pedir desculpas, mas ela não me deu chance, sufocando minhas palavras. — Você não me protegeu da infecção... — Minha visão se turva e acabo desmaiando.


Abro os olhos lentamente, emergindo de um pesadelo que parece se estender infinitamente.

· · ── ·✦[Continua...]✦· ── · ·

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora