-33-

42 7 11
                                    

· · ────── · ·
- 𝐂𝐄𝐋𝐋𝐁𝐈𝐓 -
· · ──── · ·

Quackity provavelmente acredita que eu estou dormindo, mas observo quando ele se levanta silenciosamente no meio da noite e sai da tenda. Algo dentro de mim me impede de ignorar isso, então decido segui-lo. Mantenho-me à distância enquanto ele atravessa as ruas escuras até uma zona de quarentena.

Meus pés quase vacilam ao ver a casa que ele escolheu entrar. Uma marca familiar está na porta - o infame sorriso reto ":]". Meu coração acelera, a raiva e a frustração se misturam em um turbilhão dentro de mim. Eu conheço essa marca. Ele entra na casa sem hesitação. Fico esperando, escondido nas sombras, até que ele reaparece vários minutos depois. Isso é tudo o que eu precisava ver.

Não perco mais tempo. Subo até o telhado de um prédio próximo, cada movimento rápido e decidido. Quando chego lá, me agacho à sombra de uma chaminé, tentando controlar a respiração ofegante. Lá embaixo, vejo um trabalhador desmaiado, provavelmente bêbado. Foi eu. Foi por isso que roubei o microfone e o fone de ouvido dele um pouco antes. Isso me daria uma chance de falar com Tina.

Ligo o microfone, mas estou tão furioso que minha voz sai tremida, quase quebrada. Estou com tanta raiva de mim mesmo que não consigo impedir que isso transpareça. Como fui tolo ao me deixar encantar pela última pessoa por quem eu queria me envolver. A última pessoa por quem eu queria sofrer. E agora, estou aqui, prestes a trair essa conexão frágil que formamos, tudo porque ele pode ser o assassino de Bagi.

Não. Ele é o assassino da Bagi.

Talvez Quackity não tenha matado Bagi, tento me convencer, mas sei que estou apenas inventando desculpas para justificar o injustificável. Não posso acreditar que estou aqui, protegendo o homem que pode ter destruído minha vida. Será que as ruas de Qued me transformaram num débil mental? Será que acabei de envergonhar a memória da minha irmã?

- Tina - sussurro, tentando controlar a emoção. - Eu... eu encontrei o sujeito.

O silêncio que segue é cortado por um zumbido de estática. Meu coração martela no peito, e eu aperto o microfone com tanta força que meus dedos doem. Quando finalmente ouço a voz dela, é fria e distante, mas com um toque de alívio.

- Cellbit?! - Ela grita, obviamente furiosa por eu ter ficado tanto tempo sem contatá-la. O silêncio entre nós é pesado, mas ela logo se controla e continua. - Teremos uma bela conversa depois... Mas pode repetir o que disse, Sr. Lange?

Sinto o corpo todo ficar tenso, minha garganta seca. Eu hesito, mas então a raiva volta.

- Eu disse que encontrei o cara, o Quackity. Ele acabou de visitar uma casa numa das zonas de quarentena, uma casa com um sorriso reto. Na esquina de Leky com Qued.

- Tem certeza? - A voz de Tina agora está mais focada, profissional. Posso quase vê-la se ajeitando na cadeira, já preparando algum plano.

Tiro o medalhão do meu bolso, aquele maldito medalhão que encontrei quase um mês atrás, o mesmo que agora queima minha pele, me lembrando da verdade que tentei ignorar.

- Estou, - respondo com firmeza. - Não tenho a menor dúvida.

Ouço um burburinho do outro lado da linha, vozes em segundo plano. Tina está organizando as tropas, sem dúvida. Sua voz fica mais animada, uma mistura de adrenalina. Eu também deveria estar assim... Mas porque não estou?...

- Esquina de Leky com Qued... - ela murmura para si mesma. - Esse é o caso especial de infecção que íamos investigar amanhã de manhã. Tem certeza de que é o Quackity?

A raiva volta com força total, corroendo qualquer resquício de dúvida que eu possa ter tido.

- Estou certo! Mas que droga! - exclamo, quase gritando, minha voz falha pelo desespero. As lágrimas ameaçam vir, mas eu as engulo. Não posso me permitir desmoronar agora.

Tina parece surpresa com minha intensidade. Há um silêncio do outro lado, e então sua voz retorna, mais calma.

- Ambulâncias vão para essa casa amanhã. Vamos levar os moradores para o Hospital Central. - Ela faz uma pausa. - Quer que mandemos mais tropas?

- Sim, - respondo, meu tom mais frio agora, controlado pela lógica que minha raiva forçou a mim mesmo. - Quero reforço quando Quackity aparecer para proteger sua família. Ele vai tentar. Tenho certeza que vai. - Lembro da forma como Quackity engatinhou debaixo das tábuas do chão, e continuo dizendo:

- Ele não terá tempo suficiente para tirar seus parentes de lá, então provavelmente vai tentar escondê-los na casa. Quero levar todos para a ala hospitalar da Federação. Ninguém deve se machucar, em hipótese alguma. Quero todos eles lá para serem interrogados.

Tina fica surpresa com o meu tom e consegue dizer:

- Certo, - ela concorda. E depois diz dando ordens ao fundo da chamada: - Vamos levar todos para a ala hospitalar. Ninguém deve se machucar. Quero todos vivos para serem interrogados.

Eu aceno, embora ela não possa me ver. As palavras "ninguém deve se machucar" ecoam na minha cabeça. Parte de mim quer que isso termine de maneira diferente, que Quackity pague pelo que fez. A sensação dos lábios dele contra os meus ainda está fresca, mas agora é apenas uma memória amarga. Isso não pode significar mais nada para mim. Menos que nada.

Tina volta a falar comigo:

- O senhor vai ter as tropas que quer. E espero sinceramente que esteja certo.

- Eu estou certo, - digo, mais para mim mesmo do que para ela, tentando acreditar que isso, de alguma forma, me trará paz.

Desligo o microfone, a raiva queimando dentro de mim como brasas. Meu corpo treme, não só pelo frio, mas pelo turbilhão de emoções que estou lutando para controlar. Eu apoio a testa contra a chaminé e bato a cabeça levemente, soltando um pequeno gemido de dor. As lágrimas finalmente escorrem, quentes, enquanto começo a chorar em silêncio, tentando segurar tudo, mas falhando miseravelmente.

Depois de alguns minutos, limpo o rosto com as costas da mão. Não posso me dar ao luxo de perder o controle agora. Tenho que voltar. Tenho que continuar fingindo que nada mudou, pelo menos até amanhã.

Desço do telhado, rápido e silencioso, e me movo pelas ruas de volta ao beco onde está a tenda deles, antes que Quackity volte antes de mim. Ele não pode saber que descobri. Por enquanto não.

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora