Após cinco dias exaustivos e quatro noites intermináveis, a luz do sol começa a declinar, pintando o céu com tons dourados: se passaram 114 horas. Ao longo desses cento e catorze horas, tenho me aventurado pelos obscuros recantos desses bairros empobrecidos, e meu disfarce, outrora sólida como rocha, agora se desfaz como a névoa que paira sobre essas vielas esquecidas. A fome, como um predador implacável, aperta meu estômago, enquanto as roupas que me envolvem tornam-se uma segunda pele, impregnada de sujeira e desgaste.
O odor dessas vestimentas encharcadas de suor e do meu próprio cheiro já se tornou insuportável. Vestir essas roupas rasgadas e imundas durante cinco dias seguidos é uma tortura para os sentidos.
Os últimos dois dias me levaram a Ilhis, onde as ruas parecem definir sob o peso da miséria. É aqui, nos confins do desespero, que busco respostas sobre Quackity e sua enigmática busca por frascos contra a infecção. Já rodei o setor Qued todo, e nada encontrei. Então ainda falta aqui, Ilhis, e depois Leky.
Neste bairro de favelas, o cenário é desolador. Não há muito além de pessoas desabrigadas e despossuídas. A situação aqui é ainda mais desafiadora do que em outros lugares, com ruas abarrotadas de gente e detritos, criando uma atmosfera sufocante e sinistra. Embora pareça ter se tornado o epicentro do surto de infecção, mas minha vacinação - que é disponível apenas para os de elite - oferece algum nível de segurança.
Enquanto sigo adiante, me deparo principalmente com mais do mesmo. Casas marcadas com o símbolo de infecção, ":]", pontuaram o cenário, diminuindo moradores afligidos pela doença. No entanto, ao passar por uma residência específica, uma marca desconhecida na porta chama minha atenção: uma curva sutil em forma de sorriso, que foge ao padrão habitual ":)".
Nunca antes havia visto ou estudado tal marca; é algo completamente estranho. As únicas marcas conhecidas são aquelas que indicam a presença da doença. Suponho que essa marca recente seja resultado de algum erro de comprometimento por parte de um trabalhador, possivelmente levando à sua expulsão por esse simples deslize profissional.
Decidido, então, ignoro por completo.
À medida que a noite se estende sobre a cidade, os postes vacilantes lançam sombras dançantes pelas estreitas vias de Leky. Um bairro comercial, embora empobrecido.
Caminho pelas ruas de Leky, que outrora pulsava com atividade comercial, agora estão repletas de lojas fechadas e abandonadas. A ausência de fundos do governo me impede de entrar nesses estabelecimentos, pois só possuo recursos da Federação, revelando minha verdadeira posição social. O dinheiro da Federação vale muito mais do que o do Governo. Por exemplo: uma nota da Federação vale dez notas do governo. Então ninguém desses bairros miseráveis possui as notas da Federação, apenas os de elite, como eu.
Exausto e faminto, observo os habitantes despossuídos ao meu redor com olhos fatigados. Alguns lançam olhares desconfiados, enquanto outros parecem ignorar minha presença miserável. Mantenho-me à margem, fundindo-me à paisagem desolada, enquanto ouço os filhos de brigas distantes e os choros das crianças. O fedor do meu lixo mesclado ao aroma distante de comida em algum restaurante remoto intensifica minha fome. Mas cada passo que dou é um pequeno preço a pagar pela minha busca incessante por respostas.
As ruas de Leky não revelam sinais dos Rebeldes, e a sombra de Quackity permanece evasiva. Minha mente, agora turva pela fadiga, anseia por um vislumbre de esperança neste labirinto de desolação. Meus pés calejados traçam caminhos familiares, memorizando becos, esquinas, residências e estabelecimentos comerciais. Ilhis, Leky, Qued... já mapeei mentalmente todos os cantos desses bairros. Se há alguém que detém informações valiosas, são os habitantes dessas ruas negligenciadas.
Agora, sob o manto da noite, encontro-me diante de uma loja antiga, cujo letreiro enferrujado anuncia "El Rincon de Recuerdos". As vitrines poeirentas guardam lembranças empoeiradas de um tempo que parece distante demais. Com a respiração pesada, permito-me um breve descanso nas sombras da loja, observando as estrelas através de uma brecha no teto. As constelações parecem tão inatingíveis quanto as respostas que busco.
A fome, ecoa em meu estomago enquanto me levanto. Decido vagar um pouco mais antes de considerar um abrigo improvisado para a noite. Atravesso as ruas vazias de Leky, a quietude da noite intensificando minha solidão. Estranho.
Estranho, não estou vendo quase ninguém nas ruas.
Passo por vielas esquecidas e tornadas sombrias, até que me encontro diante de um mural desbotado que retrata tempos mais felizes. À medida que minha jornada se estende pelas horas da noite, uma sensação de desalento se apossa de mim. Nenhum sinal dos Rebeldes, nenhuma pista de Quackity.
O jogo parece estar escapando entre meus dedos. Agora, à medida que as horas avançam e o silêncio de Leky se aprofunda, percebo que meu corpo, cansado e exausto, clama por descanso. A noite é minha única aliada, e é nela que confio para esconder meu desgaste. Encontrando um beco isolado em Leky, mergulho nas sombras e encosto-me contra uma parede gélida. O céu noturno, um manto de estrelas distantes. O murchar das esperanças é quase audível, mas persistente, mesmo que cada fibra do meu seja anseie por um breve refúgio.
Dou pequenos cochilos, se passaram pelo menos uns 13 minutos. Mas acordo com um som distante, quase inaudível, minha audição aguçada me permite ouvir.
Parece um som... De pessoas gritando? Não de desespero, mas sim de vitória. Fico mais quieto para ouvir mais. É aqui perto, como não ouvi isso antes? Deve ser porque eu estava exausto. Os sons agora abaixaram de altura, agora parecem ser apenas pessoas conversando.
Seria algum tipo de comércio que eu ainda não passei nas ruas de Leky? Pode ser, já que eu quase não andei muito por aqui, pois meu objetivo eram os bairros de Qued e Ilhis.
Então me levanto e vou na direção dos sons. Ao chegar ao local, dou um sorrisinho ao ver o que era, meus olhos ganham um pequeno brilho luminoso por cauda dos leds coloridos da entrada e do lugar.
É um bar, não pequeno como os outros, mas consideravelmente grande. Olho ao redor pelo lado de fora, muita gente bebendo e apostando. Agora entendo por que as ruas de Leky pareciam desertas; É porque todo mundo está aqui.
Entro no estabelecimento, o som está alto. A fachada não é extravagante, mas o tamanho do lugar surpreende. Paredes desgastadas e uma porta que range ao abrir se juntam a um letreiro piscante que parece lutar para permanecer aceso. Do lado de fora, vejo muitas pessoas, algumas em grupos animados, outras solitárias, mas todas compartilhando o mesmo espaço de escapismo.
Ao adentrar, sou recebida por um caos sensorial. O som alto envolve o ambiente, uma mistura caótica de risadas, gritos e músicas que competem pela atenção. Desvio de corpos movimentados, alguns dançando, outros envolvidos em conversas acaloradas, enquanto apostas são feitas em cantos obscuros.
Navegando por entre as mesas e balcões pegajosos, chego a uma área mais afastada. Meus passos são acompanhados por esbarrões e olhares curiosos, mas a familiaridade com a cena torna esses encontros menos desconfortáveis. No fundo, encontro uma área aberta, e é aí que tudo faz sentido.
Meus olhos absorvem a cena com fascínio: É uma luta de skizz!! Agora entendi de onde veio aqueles gritos de vitória.
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Cat and Mouse - Chaosduo QSMP
FanfictionOnde os dois jovens vêm de mundos completamente distintos, e seus caminhos nunca, JAMAIS, deveriam se cruzar. No entanto, quando ocorre um assassinato, Quackity se torna o principal e único suspeito. Agora, eles se encontram encurralados em um jogo...