O Passar do Tempo - 30-

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Bem... Boa sorte queridos(as)... 

:)

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Os dias passaram como um borrão desde que acordei naquela tenda improvisada, com o gosto metálico de sangue seco na boca e a sensação de agulhas perfurando minhas costelas a cada respiração.

A dor nas costelas já não é tão insuportável, e os hematomas já estão quase imperceptíveis, apenas algumas que ficou para durar pra sempre. 

Não me importo.

O tempo é uma coisa curiosa. Às vezes, parece que ele se arrasta, como uma serpente lenta que se contorce em um ritmo agonizante. Outras vezes, ele se esconde, fugindo de nós com uma agilidade inesperada. 

Esses últimos dias têm sido assim: uma dança estranha e frenética entre o tempo que se arrasta e o tempo que voa. Aqui estou eu, quase um mês depois da morte de minha irmã.

A morte da minha irmã ainda pesa sobre mim, e a busca pelo assassino dela se tornou minha única razão para continuar. Mas, de alguma forma, nos últimos dias, isso não tem sido tão desesperador quanto antes. Talvez porque não estou mais sozinho. O Garoto, o Wilbur e até o Lobinho... de alguma forma, eles criaram uma rotina em meio ao caos.

O Garoto – ainda não sei seu nome verdadeiro – está sempre por perto. Há uma constância em sua presença que, para minha surpresa, começo a achar reconfortante, mesmo que após eu voltar dos Rebeldes, eu estar evitando ele. Suas expressões quase sempre carregadas de uma seriedade improvável para alguém que mora mas ruas.  

Ah, acabei descobrindo a idade dele. Wilbur me contou, mas disse pra mim não falar pro garoto. Temos a mesma idade!

Bem, os primeiros dias foram os mais difíceis. Meu corpo ainda estava se recuperando dos ferimentos, e minha mente era uma tempestade constante de pensamentos conflitantes. Garoto evitava falar sobre a conversa que tivemos na tenda, mas percebi que ele se esforçava para me ajudar em pequenas coisas. Ele trazia água quando meu corpo estava fraco demais para se levantar, e dividia a comida que conseguíamos roubar, mesmo quando era escassa.

— Você não precisa fazer isso, — murmurei um dia, quando ele me ofereceu a maior parte do pão duro que tínhamos encontrado. Estávamos sentados sob a sombra de um prédio abandonado, tentando escapar do sol escaldante do meio-dia.

Garoto apenas sorriu, aquele sorriso que parecia carregar o peso do mundo. — Eu sei, — respondeu ele, estendendo o pedaço de pão para mim. — Mas eu quero. Você precisa mais do que eu.

Peguei o pão, mas não consegui evitar a sensação de desconforto que se instalava em meu peito. Por que ele estava sendo tão gentil? Qual era o motivo por trás de suas ações? A desconfiança crescia dentro de mim, mas, ao mesmo tempo, havia uma estranha sensação de segurança ao tê-lo por perto.

E ainda assim, eu me pego observando o Garoto cada vez mais. Ele tem algo que me intriga, algo que me atrai de uma forma que eu não consigo explicar. Ele é gentil... de um jeito que não parece forçado, mas sim natural. Mesmo quando estamos fugindo, ele ainda arranja tempo para ajudar os outros, como se isso fosse o que ele nasceu para fazer.

Lembro de um dia, logo depois que fui resgatado, quando estávamos nos escondendo em uma viela apertada. Estávamos cobertos de poeira, exaustos e com fome. Mas ele ainda conseguiu encontrar uma forma de sorrir para uma criança que passava por ali, entregando-lhe uma fruta que tínhamos roubado mais cedo. Foi um gesto simples, mas aquilo me pegou de surpresa. Não porque ele fez isso, mas porque eu queria entender por quê. 

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora