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- ​ 🅐🅤🅣🅞🅡🅐 ​ -

Pessoal, acho que eu tava fora de mim quando escrevi este capítulo, porque, nossa- kkkkkk
Talvez o começo esteja meio clichê ou romântico demais, sei lá, acho que foi as descrições.
E o final... bom, boa sorte!



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- 𝐐𝐔𝐀𝐂𝐊𝐈𝐓𝐘 -

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 Eu quase beijei o Garoto ontem à noite. 

 Mas nada de bom pode resultar se você se apaixonar por alguém nas ruas. Essa é a pior fraqueza que se pode ter, assim como ter uma família presa numa zona de quarentena ou um órfão de rua precisando de você.

 E, ainda assim, uma parte rebelde de mim anseia por beijá-lo, por sentir a doçura imprudente de seus lábios, mesmo sabendo que isso pode ser um erro colossal.

 O Garoto possui uma percepção que desafia os limites do ordinário. Ele observa detalhes nas ruas com a precisão de um falcão que consegue detectar um detalhe mínimo a dois quilômetros de distância: "Aquelas persianas no quarto andar foram tiradas de um bairro nobre. A madeira é cerejeira, sólida e durável". Com uma faca, em um arremesso preciso, ele pode atingir um cachorro-quente de uma barraca cujo vendedor esteja distraído. Suas perguntas são lâminas afiadas pois percebo sua inteligência em todas as perguntas que ele me faz e em todas as suas observações. 

 Mas, mais do que tudo, é sua inocência que me surpreende, há uma inocência nele, um brilho de pureza que o torna profundamente distinto de todos que já conheci. As ruas não o corromperam; ao contrário, forjaram-no em algo mais forte, assim como fizeram comigo.

 Ontem à noite, ele mencionou que ficaria conosco apenas mais um dia. Ou seja, só hoje. Mas parecia que ele queria ir embora hoje de manhã bem cedo, sem ser percebido por mim e por Wilbur. No entanto, consegui pegá-lo no flagra antes que ele pudesse sair.

 — Você não falou que iria embora depois de um dia? — falei para ele, cruzando os braços. — Não vai voltar atrás nas suas palavras, vai?

 Ele hesitou, visivelmente incomodado, mas os olhares insistentes de Wilbur e eu o convenceram. Ele soltou um suspiro resignado e concordou em ficar um pouco mais.

 — Tudo bem, vocês venceram. Vou ficar mais um pouco — disse ele, tentando parecer indiferente, mas percebi um leve sorriso em seu rosto.

 Durante toda a manhã, procuramos mais oportunidades de ganhar dinheiro: guardas ingênuos dos quais possamos bater a carteira, coisas em lixeiras para revender, caixotes não vigiados no píer para que possamos abri-los. Enquanto fazemos isso, buscamos um novo local para passar a noite. Tento concentrar meus pensamentos na Tilín, no dinheiro que preciso antes que seja tarde demais, mas, em vez disso, começo a pensar em novas maneiras de bagunçar a campanha de guerra da Federação. Eu poderia pegar carona num avião, extrair com um sifão seu precioso combustível, depois vendê-lo no mercado ou dividi-lo entre pessoas que realmente precisem dele. Poderia destruir completamente a aeronave, antes que ela partisse para o front (linha de frente da guerra da Federação e Resistência). Ou poderia também marcar como alvos as redes elétricas dos setores de Batalla ou os aeroportos, cortar a energia deles e impedi-los de operar. Esses pensamentos me mantêm ocupado.

 Mas, ocasionalmente, quando meu olhar capta o dele ou sinto que ele observa-me de soslaio, é impossível não ser consumido por pensamentos dele.

 Imagino seus olhos brilhando de curiosidade, a forma como seus lábios se movem quando ele formula uma pergunta. Há algo nele que me atrai de uma maneira que não consigo resistir. Mesmo sabendo dos riscos, a ideia de estar mais próximo dele, de sentir seus lábios nos meus, é irresistível. A vida nas ruas é dura e implacável, mas, talvez, por um breve momento, eu possa me permitir um pouco de felicidade.

 A razão me diz para manter distância, para não me apegar. 

 Mas meu coração, teimoso e audacioso, quer seguir um caminho diferente.

✧·✦·✧

 — Ei, eu vou ali pegar uma coisa, já volto — ele diz de repente, enquanto eu arrumava em uma sacola algumas coisas que a gente conseguiu adquirir hoje, e o Wilbur separa em outra sacola alguma coisa pra nós comer.

 — Sozinho? Tem certeza? Você sabe que não se livrou completamente daqueles apostadores malucos do Skizz, né? E nós estamos perto de Leky, eles podem te ver facilmente. — eu o repreendo. 

 Eu não queria que estivéssemos perto de Leky agora, mas percebi que o Garoto estava ficando cansado e via sua expressão de dor ao se mover demais ao caminhar. Sei que é por causa de sua ferida, então resolvi que passaríamos a noite aqui, já que era onde estávamos e não era tão longe.

 — Eu sei me cuidar, idiota — disse ele, quase rindo. Eu estava prestes a me oferecer para acompanhá-lo, mas ele me interrompeu, antecipando minha oferta — E não precisa vir. É melhor você ficar aqui com Wilbur.

 — Eu sei que você sabe se cuidar. Mas sua ferida ainda não cicatrizou completamente.

 — Tanto faz, tanto faz — ele replicou com um sorriso sarcástico, balançando a mão em sinal de desdém — Não demoro, prometo.

 Ele já estava saindo da viela onde estávamos, quando de repente acrescentou:

 — Mas... se eu não voltar em sete minutos, algo deu errado — brincou, soltando uma risada leve. Sua extroversão desencadeou uma risada minha também.

 — Tudo bem! Espero não precisar me recorrer a esses sete minutos, né? — disse eu, mas ele já tinha desaparecido no beco. Ah, esse idiota... nem esperou minha resposta.




Cinco minutos se passaram...


Depois mais dois, totalizando sete.




E então mais três, fazendo dez.




Onde ele está?...




 Meu coração começa a bater mais rápido. Tento me convencer de que ele sabe se cuidar, que é apenas um atraso, mas a preocupação cresce. Ele sabe muito bem contar e caucular os minutos certo ao fazer algo, ele não iria se atrasar, ele é sempre pontual. Olho para Wilbur, que está distraído organizando a comida. Decido não alarmá-lo ainda.

 Dez minutos se tornam quinze, e eu não consigo mais ficar parado. Sinto a ansiedade crescendo em mim, a necessidade de sair e procurá-lo. Me levanto, dou uma última olhada para Wilbur e sussurro para ele ficar aqui, caso o Garoto volte. Saio do beco com passos rápidos, tentando não fazer barulho, mas a urgência me impede de ser completamente silencioso.


Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora