Vazio -8-

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02h12
Apartamento - meu e... meu...
Setor Esmerald
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A noite abraça-me com seu manto sombrio e silencioso quando finalmente retorno ao lar, após ser liberado do Hospital Central de Los Ilhis.

Planejava permanecer por mais tempo para examinar a cena adequadamente, mas o Comandante decidiu que era hora de eu partir, e assim o fiz. Minha mente não estava - e está - em condições de analisar a situação e a cena ou argumentar com ele.

Tina me deixa em frente ao meu prédio, e subo as escadas quase sem forças, cada degrau uma batalha contra a gravidade e a exaustão que me consomem.

Deve ser cerca de 02:14 da madrugada, embora não possa afirmar com certeza, pois meu raciocínio está comprometido com o cansaço. 

Ao alcançar a porta do meu apartamento, empurro-a lentamente e adentro. Tudo parece vazio, como se a presença dela ainda pairasse no ar, porém de forma ausente, uma sombra do que costumava ser.

Sou recebido pelo latido animado do meu cachorrinho, que abana o rabo em expectativa, esperando a chegada de alguém mais após mim. Ele deve estar aguardando a Bagi. No entanto, ao perceber que não há mais ninguém, ele choraminga baixinho e para de balançar o rabo. Suspiro pesadamente e me agacho diante dele.

— Lobinho... não espere... ela não vai mais vir — murmuro com a voz fraca. 

Ele me encara por um instante antes de correr para longe, indo se deitar no sofá e enterrando o focinho debaixo do travesseiro enquanto emite gemidos suaves. Sinto um aperto no peito ao vê-lo assim. Observo-o por um momento antes de seguir para o quarto da minha irmã.

Caminho até o quarto dela e paro diante da porta. Por um momento, quase levanto a mão para bater, como se ainda esperasse que ela abrisse e compartilhasse seus segredos comigo, ou apenas brigasse por qualquer motivo e me chamasse de idiota. 

Mas sei que nunca mais ouvirei sua voz, nunca mais a verei sorrir. Em vez disso, encosto-me contra a porta e desabo no chão, minha mente uma tempestade de pensamentos e emoções.

A imagem do cadáver da minha irmã, sua pele pálida sob aquele pano branco úmido pelos chuviscos da noite, permanece gravada em minha mente. Vi-a ali, imóvel e sem vida, e ainda não consigo aceitar. Lágrimas rolam pelo meu rosto, misturando-se com as gotas de chuva que escorrem dos meus cabelos encharcados.

Lobinho observa-me e salta do sofá, correndo em minha direção. Para ao meu lado, estudando-me por alguns segundos antes de se sentar e, finalmente, deitar-se, pressionando-se contra mim. Deixo-me envolver pelo calor reconfortante do meu canino, enquanto as lágrimas continuam a cair silenciosamente. Ele é minha âncora, meu último vínculo com a família que um dia tive.

Enquanto a chuva persiste lá fora, o vazio dentro de mim amplia-se. O que minha irmã queria me contar? Essa pergunta ecoa em minha mente desde que ela me deixou aqui, após eu ser suspenso da Universidade.

"Não preciso de um namorado, eu tenho um irmãozinho para cuidar... Nunca vamos nós separar, somos grudados que nem cola, lembra?.." Essas palavras da minha irmã ecoam incessantemente em minha mente. — Idiota mentirosa... — murmuro para o vazio, enquanto soluço e choro.

Após algum tempo, acabo adormecendo, embalado pelo som suave da chuva lá fora e pelo calor reconfortante de Lobinho a meu lado. O cansaço me envolve como uma avalanche, e rendo-me ao sono sem resistência.

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Ao ser despertado pelo toque insistente do meu celular, demoro um pouco para me situar. Lobinho, agora desperto também, observa-me com olhos curiosos e preocupados. Parece sugerir com seu olhar: "Deve ser importante." 

Não costumo receber muitas ligações, não sou muito de usar celular, algo que herdei da minha irmã.

Coço os olhos, ainda meio sonolento, e atendo o telefone.

 — Ah... oi? — respondo, minha voz rouca pela falta de uso.

Cellbit, como você está? — a voz de Tina soa, carregada de preocupação.

Fico em silêncio por um momento, incapaz de encontrar as palavras certas para descrever como me sinto. Um nó se forma em minha garganta. Como estou? Como posso responder a essa pergunta quando nem eu mesmo sei? O silêncio paira entre nós, denso e repleto de emoções não expressas. Tina continua, seu tom de voz entregando sua própria angústia.

Bem... desculpa, foi uma pergunta bem idiota. — Ela suspira, sua voz vacilando. Percebo o tremor em suas palavras, e sei que ela luta contra as lágrimas, mesmo pelo telefone.

Tento reunir-me, encontrar alguma forma de responder. 

— Eu... —, começo, mas as palavras morrem em meus lábios. O que posso dizer? Que estou destruído porque a única pessoa que restava de minha família morreu? Que não sei o que fazer? 

Mas Tina não espera por uma resposta. — O Comandante Cucurucho falou para eu avisar que ele vai providenciar um funeral para... Bagi — ela continua, sua voz impregnada de tristeza.

— Ah... ok, tudo bem. A que horas será? — pergunto, tentando manter a voz firme, embora falhe miseravelmente. Uma onda de dor me percorre, tão intensa que mal consigo respirar.

— Hoje à noite, às 20h — ela informa, sua voz entrecortada pela tristeza.

— Ok então. — Desligo o telefone antes que ela possa dizer mais alguma coisa. 

Olho para o visor do celular, marcando 11:38. Nunca costumo acordar tão tarde, mesmo após noites tão tumultuadas como essa. Mas hoje é diferente.

Hoje, tudo é diferente.

· · ── ·✦[Continua...]✦· ── · ·


· · ─── ·✦[Autora]✦· ─── · ·

Eu amei a minha escrita nesse capitulo! Achei bem melhor que os outros- Acho que consegui me aprofundar mais nos sentimentos do personagem

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora