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- 𝐂𝐄𝐋𝐋𝐁𝐈𝐓 -
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Tudo acontece rápido demais.

A mulher que Tina atingiu ainda nem chegou ao chão quando vejo o garoto se lançar do telhado como uma fera encurralada.

Eu congelo. Está tudo errado.

Isso não deveria acontecer assim.

O Comandante Cucurucho não havia mencionado nada sobre matanças. Nossa missão era simples: levar os moradores à Federação, prender e interrogar. Mas agora, o caos tomou conta, e eu não consigo mexer um músculo.

— Segurem esse garoto! — grita Cucurucho com a voz áspera. Quackity cai sobre um soldado, derrubando-o no chão em uma nuvem de poeira. — Vamos levá-lo vivo!

O grito de Quackity corta o ar. Ele se lança contra outro soldado com uma fúria cega, desarmando-o com uma habilidade que me surpreende.

Ele realmente é o Quackity de quem falavam.

Em um piscar de olhos, ele pega a arma do soldado caído e a aponta diretamente para Tina.

— Não! — Tento gritar, mas minha voz falha. Parece mais um susurro. Deve ser porquê o comandante está ao meu lado.

O tiro sai.

Mas ele erra. Por pouco. O ódio faz com que suas mãos tremam, e Tina aproveita a fração de segundo para desarmá-lo com um chute no braço. Logo em seguida, ela gira o corpo e acerta seu estômago com força. Quackity cai ao chão, arfando de dor, enquanto Tina se aproxima.

Algo nela parece... diferente. Não é apenas profissionalismo.

Ela está por algum motivo irritada, com raiva, e isso me deixa desconfortável.

— Comandante, não faça isso! — grito de repente, agora minha voz sai, quando vejo Cucurucho sacar sua pistola. Meu corpo age antes que eu possa controlar.

— Fique quieto, Lange! — Ele retruca sem nem me olhar. — Não vou deixar que ele mate meus Trabalhadores.

O som do tiro ecoa pela rua, mas erra o alvo pretendido. Ele mirou na rótula, bem no joelho de Quackity, mas a bala atinge sua coxa.

Quackity grita de dor, seu corpo desmoronando no chão enquanto o sangue começa a manchar sua calça. Seu boné cai de sua cabeça, e os cabelos negros, os mesmos que toquei com cuidado na noite passada, se espalham pelo chão.

Antes que ele tenha chance de reagir, um soldado o chuta com força na cabeça, deixando-o inconsciente. Eles o algemam rapidamente, colocando vendas e uma mordaça antes de arrastá-lo para um dos jipes que esperam.

Eu assisto a tudo como se estivesse preso em um pesadelo, meus olhos turvos, meus pensamentos confusos. Preciso de alguns segundos para perceber o outro prisioneiro sendo levado – provavelmente o irmão ou primo de Quackity, ainda gritando desesperado. Pensando bem, ele parece ser uma cópia do Quackity, como se fosse um irmão gêmeo, mas da pra perceber que ele é um pouco mais velho.

Tina se aproxima com um olhar satisfeito, o quepe sob o braço. Ela me olha de cima a baixo e sorri, um sorriso caloroso, como se fosse minha irmã mais velha. Eu deveria estar feliz por ver ela depois de quase 1 mês inteiro.

— Parabéns, Cellbit — ela diz, tocando meu rosto de leve. — Você realmente conseguiu. Viu a expressão no rosto do Quackity? — Seus olhos brilham de uma maneira que me deixa desconfortável, como se estivéssemos compartilhando uma vitória.

Mas não consigo corresponder. Dentro de mim, tudo está em ruínas. Você acabou de matar uma pessoa Tina!, meu cérebro grita, mas as palavras ficam presas na minha garganta. Não posso dizer nada. De repente, Lobinho sai do fundo da casa marcada com um sorriso reto, e ao ver Tina, corre diretamente aos braços dela.

Eu olho para o corpo da mulher que Tina matou. Médicos estão ocupados cuidando dos soldados feridos, mas o cadáver da mulher permanece lá, solitário, sozinha, cercada apenas pelo sangue que escorre lentamente pela calçada.

Alguns moradores espiam de suas casas, olhares rápidos e assustados, antes de voltarem para dentro. Outras pessoas nos observam de longe, sem entender o que aconteceu, mas ninguém se aproxima. Não há nada além do silêncio pesado.

— E nosso plano, Comandante? — finalmente me forço a falar, minha voz trêmula. — Não falamos nada sobre matar moradores...

Cucurucho ri com desprezo, sem sequer me encarar diretamente.

— Ah, Lange! Se ficássemos aqui negociando, passaríamos o dia todo. Viu como foi rápido e eficaz? Agora nosso alvo entende o recado. — Ele se afasta, sem dar importância ao que acabei de dizer. — Não importa mais. Hora de voltarmos ao quartel da Federação...

— Entendo por que a Theoritas te chamou de encrenqueiro, — continua ele, sem esconder o desdém. — Mas isso aqui não é uma Universidade. Não questione minhas ordens

Ele faz um gesto brusco com a mão, e Tina dá ordens rápidas para os outros soldados. Eles correm para suas posições enquanto Cucurucho sobe no primeiro jipe. Tina, antes de se afastar, ainda faz questão de me encarar mais uma vez.

— Você fez bem, Cellbit — ela repete, mas suas palavras me soam distantes.

Olho para o corpo novamente, para o sangue que se acumula ao lado da mulher. Sinto uma náusea crescente.

Eu deveria estar satisfeito. Eu deveria me sentir vingado.

Quackity matou Bagi, eu repito para mim mesmo, como um mantra vazio. Quackity matou Bagi. Mas não sinto nada. Quackity matou Bagi. Nenhuma satisfação. Apenas um buraco vazio onde deveria estar minha raiva.

Minhas mãos se abrem e fecham involuntariamente, e minha mente continua repetindo o nome de minha irmã, como se isso pudesse preencher o vazio que cresce dentro de mim.

— Pois é... — digo a Tina, minha voz fria e distante, como se não fosse minha. — Acho que consegui mesmo.

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A partir deste capítulo, vou encerrar a primeira parte da história. A primeira parte que eu digo é "O Cellbit a procura de Quackity", agora, Quackity já foi pego, então a próxima parte já tem outro objetivo.

Vocês acreditam que essa fanfic já está quase completando um ano? Eu fico impressionada com o quão rápido o tempo passou! Na verdade, ela já teria feito um ano se não fosse A PORRA do WATTPAD ME BANINDO POR UM MÊS POR CAUSA DE SPAM E EXCLUINDO A MINHA FIC.

Mas enfim, fico muito feliz que vocês tenham acompanhado até aqui <3

Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora