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Antes de começarem a leitura, gostaria de agradecer pelos comentários no capítulo anterior. Muito obrigada pelo carinho! <3


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- 𝐐𝐔𝐀𝐂𝐊𝐈𝐓𝐘-
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Quando o Menino finalmente adormece, eu o deixo com Willbur dormindo e vou visitar minha família novamente.

O ar mais fresco me ajuda a clarear a mente, dissipando a confusão que se forma desde o momento em que meus lábios tocaram os dele. O gosto do vinho ainda está na minha boca, mas o que realmente persiste é a sensação dos lábios dele, macios e quentes, o tremor ligeiro de suas mãos enquanto nos beijávamos... um toque que eu não consigo esquecer, por mais que tentasse.

Já beijei muitos garotos bonitos antes, mas nenhum deles me fez sentir como ele. Há algo nele, algo que não consigo identificar, que me atrai de uma maneira que nunca experimentei. Talvez seja a forma como ele tenta esconder sua vulnerabilidade, ou a maneira como seus olhos se iluminam quando está prestes a sorrir.

Maldito seja, eu não devia ter feito aquilo. Não devia ter beijado o Garoto. Eu sei disso, repeti para mim mesmo enquanto acelerava o passo pelas ruas desertas.

Beijar alguém como ele, de quem nem sei nada sobre, alguém que, como eu, está preso nas ruas, é a última coisa que eu deveria fazer.

Mas, mesmo sabendo que é um erro, não consigo suprimir a contestação que sinto. Seja o que for, eu queria mais. Eu queria ter continuado, ter explorado cada detalhe daquele momento. Não acredito que consegui me afastar naquela hora.

Do que adiantou ficar me lembrando para nunca me apaixonar por alguém das ruas? pensei, frustrado com a contradição que sentia.

O que isso me traria além de problemas? O que poderia ganhar com isso além de mais complicações em uma vida já cheia de dificuldades? Mas agora é tarde demais para arrependimentos.

O estrago já foi feito, e o pior de tudo é que... eu não me arrependo.

Eu agora me obrigo a me concentrar em me encontrar com Alexis.

Tento ignorar o estranho ":]" na porta de minha família e vou direto até as tábuas do chão ao lado da varanda. As velas tremeluzem na janela quebrada do quarto, e isso só pode significar que minha mãe ainda está acordada, cuidando de Tillin. O pensamento faz meu estômago se revirar, mas eu engulo a ansiedade e me agacho. 

Olho ao redor, certificando-me de que não há ninguém por perto, e então empurro a tábua para o lado e caio de joelhos, rastejando para debaixo da varanda. Olho por cima do ombro para as ruas vazias, sentindo o silêncio pesado da noite. Alguma coisa se mexe na sombra do outro lado da rua, e eu paro, prendendo a respiração.

— Droga... — sussurro para mim mesmo, tentando entender se aquilo foi real ou apenas minha imaginação me pregando peças.

Fico ali por um momento, os olhos varrendo as sombras, mas não vejo mais nada, apenas um poste de luz que move algumas sombras. Com um suspiro, abaixo a cabeça e rastejo debaixo da varanda, o som abafado dos meus movimentos se misturando com o leve farfalhar das folhas secas.

Quando me aproximo da casa, posso ver Alexis na cozinha, aquecendo algo em uma panela, uma mistura de ervas medicinais e sopa, atinge meu nariz assim que me aproximo. A luz fraca das velas lança sombras nas paredes. Emito os quatro apitos que combinamos, imitando um pato - é idiota, mas nós faz isso desde criança. Ele demora um pouco, mas finalmente se vira para me ver. Seus olhos se encontram com os meus, e mesmo à distância, posso sentir a preocupação dele.

— O que aconteceu? — Alexis perguntou, a voz baixa, mas cheia de urgência. Ele me conhecia bem demais para não perceber que algo estava errado.

Eu quero dizer que esta tudo bem, que as coisas esta sob controle, mas sei que seria uma mentira. Ainda assim, não posso deixar que ele visse a confusão que o Menino tinha causado em mim. Não agora. — Nada demais, só um dia longo, — respondo, tentando soar despreocupado. Mas sei que ele não acredita. Alexis sempre foi mais perceptivo do que eu gostaria.

— Tenho 1.800 notas, — sussurrei, tentando mudar o foco da conversa. Mostrei a ele a pochete cheia, enquanto o entrego logo depois. — Quase o bastante para a cura. Como está a Tillin?

Ele balança a cabeça, e vejo a ansiedade queimar em seus olhos. Isso sempre me irrita, porque ele é o que deveria ser o mais forte de nós dois, o que nunca mostra fraqueza. 

— Nada bem, — ele diz, a voz baixa e carregada de peso. — Emagreceu mais, mas ainda nos reconhece. Ela está alerta... mas não sei por quanto tempo. Acho que tem mais algumas semanas.

Faço um aceno positivo com a cabeça, tentando segurar a onda de desespero que ameaça me afogar. Perder Tillin não é uma opção. Eu me obrigo a falar, tentando me convencer tanto quanto a ele. 

— Prometo que vou conseguir o dinheiro em pouco tempo. Só preciso de mais um golpe de sorte, vou ao hospital, e a gente vai ter o remédio para ela.

Alexis me olha com aquela expressão que mistura medo e preocupação, algo que eu preferia nunca ver. 

— Você está tendo cuidado, certo? — ele pergunta, a voz mais firme do que antes. No escuro, somos quase idênticos: mesmo cabelo, mesmos olhos, mesma expressão de quem já viu demais para alguém tão jovem. Nós poderíamos até ser confundidos como gêmeos. 

— Alexis, eu sei que você invadiu um dos mercados no setor Elite, — falo de repente, deixando a culpa em cima da mesa. — Eu percebi. Estive lá com Wilbur, e metade das coisas já estavam fora do lugar.

Ele hesita, claramente surpreso por eu saber. — Desculpa, — ele diz, a voz baixa. — Mas eu não tinha escolha. Precisava conseguir alguma coisa para a Tillin... — ele pausa, o peso das palavras pairando entre nós. — Não quero que você se coloque em perigo desnecessariamente. Se há algum jeito de eu te ajudar, é só dizer. Talvez eu possa sair às escondidas com você algumas vezes e...

Eu o interrompo, minha voz saindo mais dura do que pretendia. 

Não seja burro, EL! Se os trabalhadores te pegarem, todos vocês morrem, você sabe disso. — Vejo a frustração em seu rosto, e isso me faz sentir culpado por recusar tão rápido a ajuda dele. Tento suavizar as coisas. — Eu trabalho melhor assim, sozinho. É melhor que só um de nós esteja atrás do dinheiro. Você não vai ajudar mamãe se acabar morto.

Alexis assente, mas posso ver que ele quer dizer mais. O silêncio entre nós é pesado. Ele quer ajudar, e eu sei disso, mas simplesmente não posso deixá-lo se envolver mais do que já está. Preciso mantê-lo seguro, manter todos eles seguros.

— Preciso ir agora, — digo, quebrando o silêncio. Eu me viro para sair antes que ele tenha a chance de insistir. — A gente se vê logo.

· · ── ·✦[Continua...]✦· ── ·





Cat and Mouse - Chaosduo QSMPOnde histórias criam vida. Descubra agora